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Filosofia Moderna e Contemporânea - HEIDEGGER (Martin) e o DASEIN

Heidegger foi um dos filósofos mais importantes do século XX. Sua tentativa de analisar o que significa ser humano, ou existir como humano, e sua diferenciação entre Vida Autêntica ou Vida Inautêntica inspirou filósofos como Sartre, Gadamer, Levinas e contribuiu grandemente para o surgimento do “Existencialismo”.
Uma anedota conta que alguns discípulos de Platão definiram que o Ser Humano era um Bípede sem Plumas. E essa definição vigorou até o dia em que o Cínico Diógenes compareceu a uma de suas reuniões com uma galinha despenada e jocosamente declarou: eis um Ser Humano! Os discípulos, então, declararam que o Ser Humano era um bípede sem plumas, mas de unhas largas.
Fica claro, pois, o quão era insuficiente o modo como essa questão sempre fora tratada pela filosofia. Quantas eram as dificuldades que os filósofos encontravam para dar uma definição geral, teórica, do que era, efetivamente, um Ser Humano. Ou, como era a Existência de um Ser Humano.
E foi justamente a análise sobre o que é o Homem que sempre interessou a Heidegger; e a resposta que ele deu à pergunta diferiu completamente daquelas exaradas por seus antecessores. Heidegger não tentou dar uma definição abstrata, oriunda de um estudo sobre o existir humano a partir de uma visão externa, do outro. Ao contrário, ele propôs uma análise mais concreta e objetiva que partisse de uma visão interior, de uma perspectiva interna. Disse: já que o Homem existe entre as outras coisas, entre os outros objetos, entre os outros Seres, para se entender o que É ser humano (ou seja, existir como Humano) será necessário estudar a vida humana a partir do interior dessa vida, pois seria vã qualquer tentativa de buscar essa resposta através de questionamento externo que pudesse ser contaminado pelos outros seres, pelas outras coisas.
Para fazer tal estudo, Heidegger utilizou o Método Fenomenológico de seu mestre, o filósofo HUSSERL. Como se sabe, essa metodologia investiga os fenômenos (ie, como as Coisas, os Seres, aparecem para os Homens, como são captados pelos sentidos [tato, visão, audição, paladar, olfato]) a partir da experiência, ou da relação que se tem com eles. A Fenomenologia, por exemplo, não se interessa em examinar “o que é um Ser Humano”, mas sim “Como é ser Humano”. Investigou Heidegger, então, como é a experiência de ser um Humano. Para ele, isso constituía a questão fundamental da Filosofia e, por isso, aliás, seu interesse sempre esteve voltado para o ramo da Filosofia que se chama de ONTOLOGIA (do grego Onto = ser, existir + logia= estudo) que investiga as questões sobre a Existência ou sobre o Ser.
A algumas perguntas tradicionais da Ontologia, como, por exemplo, “o que significa dizer que algo existe?”, ou “quais são os diferentes tipos de coisas que existem?” Heidegger acrescentou mais uma: “como é ser (um ente, um vivente) humano?”
Ao propor essa questão, ele tinha a expectativa de que através dela fosse possível esclarecer as indagações mais profundas sobre a existência do Homem, e/ou sobre a Existência em geral.
Em sua obra mais conhecida, SER E TEMPO, de 1927, ele declara que quando outros filósofos fizeram indagações ontológicas usaram abordagens muito abstratas e superficiais e que tais abordagens mostraram-se inúteis, já que se quisermos saber efetivamente o que significa dizer que “algo” existe, será necessário que se examine a questão a partir do ponto-de-vista daquele “algo”. E como se pode presumir que cães e cogumelos existem, mas não se questionam acerca de sua existência, é preciso partir para o único “Ser” que faz tais questionamentos: o Ser Humano. Assim, os entes a serem estudados, se se quiser explorar de fato as questões do “Ser” ou “Existir” são os Homens que deverão ser estudados, pois começando as investigações com os mesmos, será possível, num segundo momento, investigar o que significar “Ser” em sentido amplo e geral.
Nessa obra, além da exposição sobre quais Seres que necessariamente devem ser estudados, Heidegger coloca outra questão de máxima importância. A questão acerca do Sentido de Ser, ie, qual seria a razão de ser, a lógica, o cabimento, o objetivo de se existir. Por que e Para Que se existe? Por que e Para Que se É?
Quando colocou essa questão, Heidegger não pensava em abstrações religiosas ou mitológicas, ou equivalentes. Não lhe importava respostas do tipo: existo por que Deus quer... Porque o Ser Humano é quem dirige o Mundo... Existo nesse Mundo para desenvolver meu espírito... E outras de igual jaez. Não, o filósofo buscava investigações e respostas diretas, imediatas, sérias e profundas.
Para ele, o “Sentido do Existir”, ou de “Ser um Humano” deve estar atado ao Tempo (Note-se aqui a influência do Pensamento de Bérgson). O Homem é essencialmente um SER TEMPORAL. Quando nasce ingressa num “Tempo”, num “Mundo”, como se fosse jogado aleatoriamente. Jogado em uma trajetória que não escolhe. Descobre que veio existir num Mundo que já existia antes dele e que provavelmente continuará a existir depois dele. Ao nascer é inserido num ambiente singular, particular; a uma história familiar e social que pode ou não lhe agradar. Contudo, a essas condições ele tem que se ajustar sob pena de se tornar um proscrito.
O Homem é um SER inacabado e a sua Essência atrela-se ao seu próprio existir; ou seja, se ele Não existisse, não teria essência alguma. E tal existência, por Não ser Necessária (ser contingente) para o Mundo, para o Cosmos ou para a Vida, remete-o a uma situação de DASEIN, ie, de “estar (por acaso) no Mundo”. De “estar aí”.
O fato de “estar ai” é a situação em que o Homem intui (e em alguns casos sabem) estar; e, por isso, ele se sente “abandonado” no Mundo para cumprir uma Existência que para ele é, antes de tudo, a Possibilidade, o “vir a ser”. Nada lhe é seguro, definitivo, mas tudo pode lhe suceder. E, destarte, a sua Existência é um continuo projetar-se. Buscar o Sentido, a Felicidade no Futuro. Mas como essa busca é também uma Possibilidade que pode, ou não, se concretizar, sobrevém-lhe a Angústia de estar em estado de carência ou de temor indeterminado. Angustia-se por compreender a precariedade da condição humana, da sua condição enquanto humano.
E para suportar essa angústia ele tenta desesperadamente dar um Sentido (um significado) ao Mundo e à sua própria Existência, envolvendo-se em várias atividades (como, por exemplo, escrever ou ler um Ensaio de Filosofia sobre Heidegger, construir uma casa, jogar baralho etc.) que consomem tempo. Com essas atividades, o Homem deixa de pensar em sua triste condição e projeta-se para diferentes futuros. Por isso, aliás, julga que suas obras dão um rumo, um significado, uma importância a sua Existência. Porém, as suas atribuições só têm alguma importância devido às convenções sociais. Tudo que ele consegue fazer é irrelevante para a Vida em si. São os jogos sociais que oferecem Comendas, Honrarias, Prêmios e quejandos, alimentando a ilusão coletiva de que se é agente da Vida e no Mundo.
Contudo, em certas situações, o Homem toma consciência de que há um limite para suas obras e atividades. Para seus projetos futuros. Em algum ponto, tudo que planejou, ou fez, chegará ao fim. Esse ponto é a Morte, a qual, de todas as possibilidades que se oferecem ao Homem, é a única que certamente lhe ocorrerá.
Horrorizado, ou resignado, o Ser Humano vê que não é apenas um Ente que “está aí (por acaso)”. É, também, um Ente que está no Mundo para o “Nada”, conforme prega o Método Fenomenológico que Heidegger utiliza para lhe estudar. Tal método só reconhece os Fenômenos; ou seja, aquilo que os Sentidos (tato, olfato...) conseguem captar. E, através desses Sentidos, nunca se teve qualquer noticia de que há uma pós-vida quando morre o corpo físico. Logo, “Ser para a Morte (estar destinado à morte)” é o mesmo que “Ser para o Nada”.
A Morte, segundo Heidegger, é o Horizonte mais distante do Ser, do Existir do Homem. Tudo o que ele pode fazer, ou pretender ou pensar cabe apenas no seu horizonte limitado. Nada se pode e nada se sabe sobre o além desse horizonte. Assim, à Angústia que o Ser Humano já sentia (pela falta de um Sentido real, palpável, compreensível para o Ato de existir e pelo fato de se saber contingente [ou descartave]); junta-se, então, essa outra Agonia. A Angústia de saber que caminha inexoravelmente para o Nada.
A Heidegger se deve a cunhagem das expressões “Vida Autêntica” e “Vida Inautêntica”, como já se citou. No primeiro caso, trata-se daquela vida que se leva trabalhando, estudando, divertindo-se, juntando dinheiro etc. para se esquecer da falta de Sentido de tudo isso. Para se abstrair da própria desimportância e da condenação inexorável de que se caminha para a morte, para o Nada. Essa abstração, de fato, desestimula o auto-extermínio, o suicídio; mas também rouba do Homem outra dimensão do ato de Existir que poderia ser-lhe mais recompensadora. Normalmente essa outra dimensão é auferida apenas quando um choque traumático, seja físico ou emocional, faz com que o Ser Humano tenha que se defrontar com a inutilidade dos valores que tinha prezado até então. Alguns, diante disso, mudam hábitos, padrões, valores etc. na tentativa de dar, agora sim, um Sentido real à sua Existência. Alguns outros, porém, cedem ao Niilismo, ou aos entorpecentes químicos, ou emocionais, ou religiosos, ou financeiros etc. e prosseguem em sua senda anterior.
Heidegger sempre foi considerado um escritor e filósofo de difícil leitura por conta de seu vocabulário semi-incompreensível, o que é um fato. O problema, segundo alguns eruditos, é que ele tentou explorar questões filosóficas complexas, usando um vocabulário estritamente concreto, inflexível, não abstrato. Com isso ele desejava criar uma relação objetiva com a experiência afetiva dos Homens. Dizer, por exemplo, que o horizonte mais afastado do nosso Ser é a morte, é falar algo sobre como é viver a vida humana, não deixa de ser uma tentativa nesse sentido, mas indecifrável para o leitor comum. Em suas obras posteriores, ciente das criticas, Heidegger usou outra forma de se expressar, apelando para a “linguagem poética”, haja vista ter reconhecido que a severidade textual não pode refletir o espírito humano, a morada de toda filosofia.
Outra critica costumeira que se faz a Heidegger provém de seu envolvimento de poucos meses com o Partido Nazista, com quem colaborou para expulsar alguns professores da Universidade de Freiburg, enquanto era o seu reitor.
Por fim, não seria de todo errado, dizer que suas explorações filosóficas aproximam-se – talvez em demasia – do antigo Ceticismo e do sempre presente Materialismo. Todavia, apesar dessas objeções, é mister que se reconheça seus esforços para trazer o Homem para o centro da ribalta filosófica.

São Paulo, 24 de fevereiro de 2012.

Bibliografia Consultada e Recomendada:

1. Dicionário de Filosofia – Nicola Abbagno
Ed. Mestre Jou – São Paulo, capital.
Tradução – Alfredo Bosi.

2. O Livro da Filosofia – Anna Hall, editora de projeto e Sam Atkinson, editor Sênior – Londres, Grã Bretanha.
Tradução de Rosemarie Ziegelmaier

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segunda-feira, fevereiro 27, 2012 - 10:53

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