BALADA DA BELEZA EMBALADA

Por hora me apraz a beleza que vem embalada,
a beleza de endereço virtual,
aquela que se revela sem escatologia,
amainando a sede de meus sentidos.

Tenho posto meus olhos na beleza
que não me acrescenta,
que me deixa frustrado,
mas aplaca minha fúrias,
como paliativo à dor invencível.

Têm me dado prazer com o que vejo,
nos desejos que arquiteto
em delírios solitários
de noites em que me protejo
voltando ao meu casulo.

Parece faltar-me uma parte!
Mas porque falta, se eu sou completo?
É que o que posso ser,
jamais o poderei sozinho!

Sorri a vizinha, de sua janela!
Mas a janela da vizinha é de vidro;
e a casa da vizinha é muito longe,
mais longe do que posso mensurar.

Longe de minhas mãos,
Distante de meus amplexos,
estranha aos meus afetos,
o amor da vizinha solícita
e amor de comercial!

O que não lêem meus olhos míopes,
lêem os olhos vermelhos
da pistola decifradora
dos seus códigos de barra

E a linguagem sem nexo
de seus murmúrios e êxtases,
traduz pra mim sua rede
de bandas avarandadas.