INFÂNCIA PERDIDA




Infância perdida

 

Os anos roubados à minha infância,

Por ser um menino sem importância,

Que o tempo levava e não me trazia

Deixava – me triste e sem alento,

Mas depressa vinha o meu contento,

Dos brinquedos que eu próprio construía.

 

A minha razão não podia compreender,

Na infância do meu crescer,

O porquê desta vida miserável,

Que me obrigava logo de pequenino,

A olhar para o mar e pedir – lhe de mansinho,

Que nos tirasse desta vida deplorável.

 

O caldo das sobras de alguém,

Que de esmolas trazia a minha mãe,

A minha boca sedenta  engolia,

Antes de acabá – la ficava a olhar,

Para a magra tigela, a chorar

Com fome e da minha melancolia.

 

Parece que menino nunca me lembro de ser,

Muito cedo comecei a trabalhar a doer,

Poucos momentos tinha para as brincadeiras,

As bocas eram muitas, a barriga era a primeira a falar,

Que o trabalho estava em primeiro lugar,

Para me abrigar nas minhas trincheiras.

 

O olhar fixo do meu pai a fumar com abandono,

Nos dias em que a fome era o nosso dono,

E a melancolia a nossa única companheira,

Metida no nosso fardo pesado de pobreza,

Em silêncio gritávamos à grã nobreza,

Que continuasse a lutar na nossa fileira.

 

Um menino deve ser sempre menino,

Brincar, rir, fazer asneiras, enfim ser traquino,

Ter direito à saúde, à educação e ao amor,

Não deixar que ele passe fome ou frio,

Pois a vida é sempre um grande desafio,

Tem grandes obstáculos para transpor.

 

Da infância, nem do nome eu me lembro,

Nem das agruras que passei eu entendo,

Ela passou ao meu lado e não me viu,

Fiquei à espera que me desse um sinal,

Enganei – me, continuei a ficar mal,

Pois, logo de pequenino me mentiu.

 

 

Eu sou o príncipe da minha própria história,

Graças à minha bela memória,

Que conta os momentos do meu passado

Arrancados do baú minhas recordações,

Que fazem despertar as minhas emoções,

Como se fosse da minha infância o meu legado.

 

 

Tavira, 13 de Março de 2009 – Estêvão

Submited by

Sábado, Diciembre 8, 2012 - 12:22

Poesia :

Sin votos aún

José Custódio Estêvão

Imagen de José Custódio Estêvão
Desconectado
Título: Membro
Last seen: Hace 2 años 40 semanas
Integró: 03/14/2012
Posts:
Points: 7749

Add comment

Inicie sesión para enviar comentarios

other contents of José Custódio Estêvão

Tema Título Respuestas Lecturas Último envíoordenar por icono Idioma
Poesia/General AS ONDS DO MAR 6 7.587 06/17/2021 - 19:46 Portuguese
Poesia/Meditación Pensamento 1 5.793 06/17/2021 - 19:45 Portuguese
Poesia/Meditación Pensamento 1 4.953 06/17/2021 - 19:40 Portuguese
Poesia/Amor Três coisas 2 4.639 12/12/2019 - 17:00 Portuguese
Poesia/Fantasía O MEU NOME 0 4.647 12/14/2018 - 10:36 Portuguese
Poesia/Meditación O TEMPO LEVA TUDO 0 5.510 09/28/2018 - 14:56 Portuguese
Prosas/Pensamientos 34- O HOMEM 6 9.969 03/21/2018 - 15:04 Portuguese
Poesia/Amor VERMELHO 0 5.883 09/04/2017 - 09:13 Portuguese
Poesia/Amor UMA ORQUÍDEA PARA TI 0 13.497 07/17/2017 - 09:50 Portuguese
Poesia/Meditación AS PEDRAS DOS RIOS 0 10.630 06/07/2017 - 08:54 Portuguese
Prosas/Pensamientos PENSAMENTOS 34 0 7.396 05/24/2017 - 10:09 Portuguese
Poesia/Amor AMO-TE COMO ÉS 0 6.017 05/24/2017 - 09:59 Portuguese
Poesia/Meditación SABER SER FRELIZ 0 5.284 05/09/2017 - 15:51 Portuguese
Poesia/Amistad TU 0 12.843 04/21/2017 - 10:52 Portuguese
Poesia/Meditación PARA DE TE QUEIXAR 2 5.133 03/26/2017 - 19:34 Portuguese
Poesia/Meditación PARA QUÊ MATAR? 5 6.509 03/24/2017 - 11:31 Portuguese
Poesia/Meditación CHEGAR, VER E VENCER 0 8.126 03/13/2017 - 14:57 Portuguese
Poesia/Amor BEIJOS TEUS 0 5.235 02/22/2017 - 10:12 Portuguese
Poesia/Amor OLHANDO O MAR 0 6.049 02/08/2017 - 10:26 Portuguese
Poesia/Amor SAUDADE 0 7.960 02/01/2017 - 10:29 Portuguese
Poesia/General FRIO 0 6.858 01/26/2017 - 10:27 Portuguese
Poesia/General FRIO 0 5.791 01/26/2017 - 10:23 Portuguese
Poesia/Fantasía AS ONDAS DO MAR 0 5.323 01/11/2017 - 09:49 Portuguese
Poesia/Meditación AMANHECEU OUTRA VEZ 0 6.426 01/04/2017 - 11:22 Portuguese
Poesia/Alegria RIR 0 7.121 12/21/2016 - 09:58 Portuguese