AS MINHAS PALAVRAS
As minhas palavras
Todas as minhas palavras que saíram, já não voltam mais,
Muitas delas eram diferentes e algumas muito iguais,
Voaram sem corpo sem alma mas elas foram ouvidas,
Muitas foram compradas e algumas foram vendidas.
Se as minhas palavras pudessem voltar,
Certamente, na minha mente já não tinham lugar,
Outras novas ocuparam o lugar das que saíram,
Apenas posso dizer adeus para sempre às que partiram.
Tantas palavras eu já falei e delas já não me lembro,
Todos os anos saem a correr desde de Janeiro a Dezembro,
Não as contei mas devem ser muitas as que se perderam,
E no tempo a maioria não foi registada e assim sucumbiram.
As minhas palavras ditas nunca ninguém as viu, nem eu,
Fugiram da minha boca, não sei o que lhes aconteceu,
Também nunca me preocupei, continuo a deitá – las fora,
Tão depressa aparecem e rapidamente se vão embora.
Se eu pudesse registar todas as palavras por mim verbalizadas,
Já não tinha espaço nem papel para serem registadas,
Ficaria decepcionado com algumas que de palavras não passaram,
De palavras assim, não tenho pena porque nada fizeram.
Quantificar as palavras que saíram da minha própria boca,
É dos impossíveis da vida, só de uma mente louca,
Passaria a vida a contar palavras e mais nada fazia,
E perderia o meu tempo de viver, de louco não passaria.
Agarrar as minhas palavras que saem sem bem pensar,
Não pode acontecer, de depois de saírem são livres de voar,
Ninguém as vê mas toda a gente pode ouvi – las,
E então ou as aceitam ou podem simplesmente bani – las.
Quero continuar a deixar sair as palavras, assim eu estou vivendo,
E com elas a sair e a ouvir é que eu me entendo,
Com os outros com quem eu me quero entender,
Pois sem as palavras eu apenas penso e nada consigo dizer.
Tavira, 9 de Dezembro de 2010 - Estêvão
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