Foto
A foto me revela a carne que deixei de ter
e essa nulidade que me avassala
(e me proíbe de trocar a estante da sala)
grita: você é o doente que fala o que não deve
e diz o que não se escreve.
Digno de pena e de dó,
ou de porrada e xilindró.
Almas generosas tentam me ajudar de todo jeito
e me falam para crer no Amor, em Deus, ou n'algum outro Sujeito.
Por uma sobra de civilidade, não os rejeito.
E até lhes admiro a Boa Vontade
de exercerem essa santa ingenuidade.
Mas como é que se reparte a dor?
A pílula de Morfina
é minha única desejada carícia feminina.
A foto mostra o que já pareço:
a gravidez ao avesso.
E ainda me assombra esse pouco de lucidez
para assistir esse inverso de prenhes.
Submited by
Sábado, Julio 4, 2009 - 15:08
Poesia :
- Inicie sesión para enviar comentarios
- 3676 reads
Add comment
Inicie sesión para enviar comentarios
Comentarios
Re: Foto
As fotos possuem essa malvadez de parar o passado
“Mas como é que se reparte a dor?
A pílula de Morfina
é minha única desejada carícia feminina.”
Sigo o teu verso vou partilhar a minha dor com a pílula de morfina :-)
Boa poesia!
Bjs
IC