Rousseau e o Romantismo - Parte XIII - O homem no "Estado de Natureza"


Rousseau expôs a sua concepção sobre esse tema, principalmente, na obra “Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens” e o citou de forma aleatória em várias outras ocasiões, por estar nesse conceito um dos pilares de sua sistemática.

Desde a primeira citação, fica claro o quanto Rousseau foi influenciado pelo filósofo Spinoza nesse assunto. Tal qual o holandês, ele adere ao conceito de que a “Natureza é Deus”; ou seja, é a força que movimenta e conserva todas as coisas. A força de onde emana o próprio estado original (a essência) e o estado visível (fenomênico, captável pelos Sentidos [tato, visão, audição, paladar e olfato]) do chamado “estado natural”.

Tanto como Spinoza, para ele a natureza não era apenas o seu aspecto físico (os rios, árvores, montanhas, homens etc.), mas, um reino metafísico que transcende a concepção materialista, positivista, racionalista que os Enciclopedistas, entre outros, afirmavam.

Algo mais próximo da grandiosidade que só possível no Pensamento livre das amarras da Lógica Racional e apto a percorrer as trilhas das sensações, dos sentimentos etc.

E dentro desse cenário majestoso, Rousseau coloca o “homem natural”, um Ser provido apenas de sensações, sentimentos, intuições e afins; e que por isso, vivia apenas o seu tempo Presente; desejava apenas aquilo que o rodeava, pois como estava privado da imaginação, da memória e da antevisão não conseguia desejar nada que os seus Sentidos (tato, visão, audição, paladar e olfato) não pudessem captar diretamente. Seus desejos eram, apenas, os do corpo físico; os quais, em verdade, são apenas as necessidades corpóreas, orgânicas, como a alimentação, o repouso, a reprodução etc.

Ademais, no “Estado Natural”, o homem não conseguia se distinguir de outro homem por lhe faltar a necessária capacidade de se abstrair e de sentir as semelhanças existentes entre si e os outros indivíduos. Para ele, o conceito “Humanidade” restringia-se ao seu círculo mais próximo; aos parentes.

E Rousseau prosseguiu em sua explanação aludindo ao fato de o homem no “Estado Natural” não ter o sentimento de “compaixão” para além de sua família, justamente pelo isolamento em que se vivia. Nada o estimulava a interagir, a praticar atos generosos ou bélicos (embora guerreassem esporadicamente) por lhe faltar o sentimento de pertencimento a um grupo.

O ideário de Rousseau contrariava ao que fora proposto por Hobbes (Thomas – 1588-1679 – Grã Bretanha), cujo cerne versava sobre o conflito generalizado e constante de “todos contra todos”, já que o homem seria “o lobo do homem”.

Para o genebrino, o homem em “Estado Natural” não seria o “lobo do homem” porque não tinha a mínima vontade de se aproximar dos outros, de formar uma sociedade. Seus desejos eram ditados pelas necessidades físicas e a Natureza que o rodeava era pródiga em satisfazê-los.

Desconheciam-se as vontades oriundas da imaginação, os falsos valores que a civilização só criaria tempos depois. Desconhecia-se, pois, a “importância” de ter mais dinheiro, mais poder, mais sexo, mais luxo, mais prestígio etc. Ainda não se conhecia as garras da ganância, da insanidade de querer se impor ante os demais por pura vaidade ou necessidade de afirmação, de se sobressair dentre outros através de conquistas, de renomes etc.

A inteligência do homem em “Estado Natural” ainda não ultrapassara o rude estágio das sensações e, por isso, era-lhe impossível imaginar qualquer coisa que estivesse além de seu reduzido universo.

Vivia-se apenas pelo instinto; e porque o instinto é individualista e egocêntrico, nada induzia o individuo a juntar-se em sociedades.

É preciso para o convívio social que o indivíduo seja dotado da Razão; isto é, de uma inteligência que lhe permita abstrair, divagar, projetar, rememorar etc. É esse refinamento que produz os sentimentos de simpatia, de antipatia e de empatia que permitem o ajuntamento (e também a dissolução) social.

A Razão é o instrumento que enquadra o homem ao tecido social, cobrindo-lhe a nudez primitiva. Assim como o Instinto foi o instrumento de adaptação do homem à Natureza bruta, a Razão é a ferramenta que lhe permite adaptar-se ao meio social, legal, jurídico.

E foi o desenvolvimento da mesma que possibilitou ao Ser humano juntar-se a outros. Através das faculdades ou capacidades mentais ampliadas – que o homem já possuía em estado de dormência – pôde o homem passar a considerar o outro como seu semelhante e, depois, com o uso da Linguagem, pôde desenvolver o que se chamou de “Cultura”.

Segundo Rousseau, o homem era antissocial pela sua própria natureza, porém estava “pré-formatado” para se tornar sociável, já que possuía as capacidades mentais necessárias para viver em grupo, embora as mesmas demorassem para serem despertadas.

Contudo, ainda que lento, o processo foi contínuo e o acréscimo na inteligência permitiu ao homem avançar para a etapa seguinte de sua marcha evolutiva. No próximo capítulo discorreremos sobre como isso aconteceu.

Lettré, l´art et la culture. Rio de Janeiro, Primavera de 2014.

Submited by

Jueves, Noviembre 6, 2014 - 22:00

Prosas :

Sin votos aún

fabiovillela

Imagen de fabiovillela
Desconectado
Título: Moderador Poesia
Last seen: Hace 8 años 1 semana
Integró: 05/07/2009
Posts:
Points: 6158

Add comment

Inicie sesión para enviar comentarios

other contents of fabiovillela

Tema Título Respuestas Lecturas Último envíoordenar por icono Idioma
Prosas/Otros EUDEMONISMO - Filosofia Sem Mistérios - Dicionário Sintético 1 1.520 02/07/2010 - 23:54 Portuguese
Prosas/Otros EUGENISMO, EUGENIA - Filosofia Sem Mistérios - Dicionário Sintético 1 2.362 02/07/2010 - 23:52 Portuguese
Prosas/Otros EXEMPLARISMO, INCONSCIENTE COLETIVO, ARQUÉTIPOS - Filosofia Sem Mistérios - Dicionário Sintético 1 2.512 02/07/2010 - 22:48 Portuguese
Prosas/Otros EXISTENCIALISMO - Filosofia Sem Mistérios - Dicionário Sintético 1 2.631 02/07/2010 - 21:57 Portuguese
Poesia/Soneto Cio 3 1.576 02/07/2010 - 17:16 Portuguese
Poesia/Meditación Existencialistas 2 953 02/03/2010 - 20:06 Portuguese
Poesia/Amor Lirismo 1 1.233 01/31/2010 - 13:56 Portuguese
Prosas/Otros EVOLUCIONISMO - Filosofia Sem Mistérios - Dicionário Sintético 1 2.996 01/31/2010 - 03:04 Portuguese
Poesia/General Noites Sujas 4 1.005 01/31/2010 - 01:01 Portuguese
Poesia/Amor Vida em sete meses 4 889 01/30/2010 - 11:02 Portuguese
Poesia/General Cenas do Cotidiano 3 1.199 01/27/2010 - 04:08 Portuguese
Poesia/Amor Fenix 2 1.465 01/24/2010 - 13:47 Portuguese
Poesia/Amor Tudo 3 1.744 01/24/2010 - 10:21 Portuguese
Poesia/Soneto Soneto de Vir 2 1.521 01/23/2010 - 17:22 Portuguese
Poesia/Amor Novos Amores 3 1.193 01/21/2010 - 21:47 Portuguese
Poesia/Meditación Domingo Amarelo 3 897 01/18/2010 - 13:54 Portuguese
Poesia/Amor Renascer 5 1.213 01/18/2010 - 13:23 Portuguese
Poesia/Amistad Fabiana 1 1.141 01/15/2010 - 00:58 Portuguese
Poesia/Tristeza Divórcio 5 1.503 01/13/2010 - 03:42 Portuguese
Poesia/Meditación Lua Minguante 4 1.267 01/11/2010 - 13:24 Portuguese
Poesia/Amor Jasmim e Dores 2 1.200 01/09/2010 - 18:24 Portuguese
Poesia/Amor MetaPoesia? 4 1.045 01/09/2010 - 04:18 Portuguese
Poesia/Dedicada Natal, violino e o homem 6 1.373 01/08/2010 - 13:02 Portuguese
Poesia/Meditación Momentos e Filmes 3 543 01/07/2010 - 22:49 Portuguese
Poesia/Tristeza Meretrizes Relações 4 797 01/07/2010 - 04:47 Portuguese