Vida(s)

Depositaste-o na minha mão
como quem entrega uma relíquia.
Passara a noite ao relento,
abrigado na folhagem ninho
da árvore que te enraíza à terra.

Já passara pelas geadas de dezembro.
Sentiu-se pleno pelo Natal,
ardente no fogo das lareiras,
apaziguado nos sorrisos de gente,
feliz nos doces gestos das crianças.
Ah! E aquele dia em que seria rei,
dono de reinos sem fronteiras.
Como o ansiava! Ofereciam-no
a torto e direito, por vezes de corpo inteiro.

Mas o teu há muito que sobrevivia.
Por partes. Em cada estação nascia.
Nas pegadas de neve do caminho,
nos canteiros de rosas apaixonadas,
nas searas ardentes de desejo,
nas folhas amarelecidas de desmaio.

Depositaste-o na minha mão.
Com a ternura de anos passados
no sonho que trazias sufocado.
Quando abriste o peito engaiolado
na minha mão confiaste o coração.

Apertei-o em contramão e dele fiz caminho.

OF (Odete Ferreira)
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Sábado, Febrero 14, 2015 - 17:07

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Odete Ferreira

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