Solidão em Noite de Algodão - Gil Bertho Lopes
Todas as noites, à mesma hora, as pálpebras pesavam em seus olhos.
Mergulhava o Marinheiro num sono de chumbo, negro, duro, e profundíssimo,
do qual lhe custava tanta dificuldade e tanta pena despertar.
Fechava os olhos ao espetáculo de suas misérias.
A natureza despojava-lhe o espírito de todas as mazelas,
E levava-o consigo, leve, qual uma pluma,
pelas frescas alamedas dos sonhos mais risonhos.
Restaurava-lhe inconscientemente a alma,
para que, no dia seguinte,
estivesse em condições de suportar as tristezas e a diversidade da sorte.
Entreviam-se os lampiões do velho cais,
a lanterna verde do farol,
as luzes entre os mastros dos navios ancorados,
e da praia
exalava aquele bafio denso, quente, acre, de sal e de mofo, das algas mortas.
No pátio deserto pairava a claridade do céu estrelado...
A inútil claridade daquele silêncio de angustiosa espera.
Encontrava-se em perpétua expectativa do que seria o amanhã....
Despertou sob o céu cinzento da manhã de outono.
Com os magníficos cabelos fulvos em redor do belo rosto acobreado.
A dor se dissolvera.
O desespero se consumira em uma intensa e muda saudade do bem perdido;
e esta saudade aos poucos, na desolação, tornara-se um bem por si própria,
o único bem.
Tornavam-se aos seus olhos coisas próximas, presentes, de uma distância ignota, que o fazia suspirar.
Sentia em seu íntimo, com uma alegria ébria de frescor e um espanto
quase de vertigem,
a ansiedade de tanto, tanto céu, e tanto mar que aquele navio tinha percorrido,
partindo sabe-se lá de que distantes terras.
Não tardou o sol
que reverberava alegre
sobre a brancura dos lençóis que,
ao vento esvoaçavam,
nas cordas do convés,
trazendo aos olhos o enegrecer.
E de repente era noite... noite de algodão.
Submited by
Poesia :
- Inicie sesión para enviar comentarios
- 299 reads
Add comment
other contents of GilBerthoLopes
Tema | Título | Respuestas | Lecturas |
Último envío![]() |
Idioma | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Alegria | POR QUE CANTAM AS CIGARRAS - Gil Bertho Lopes | 5 | 361 | 08/24/2009 - 23:30 | Portuguese | |
Poesia/Dedicada | SOLDADO ZAIRTON - Gil Bertho Lopes | 1 | 323 | 08/21/2009 - 16:59 | Portuguese | |
Poesia/Dedicada | JORGE AMADO - Gil Bertho Lopes | 1 | 401 | 08/20/2009 - 02:36 | Portuguese | |
Poesia/Tristeza | SOLIDÃO - Gil Bertho Lopes | 2 | 325 | 08/20/2009 - 02:34 | Portuguese | |
Poesia/General | A COR - Gil Bertho Lopes | 4 | 348 | 08/17/2009 - 23:33 | Portuguese | |
Poesia/Meditación | CONFISSÃO - Gil Bertho Lopes | 3 | 262 | 08/17/2009 - 20:57 | Portuguese | |
Poesia/Pasión | INSTANTES - Gil Bertho Lopes | 6 | 321 | 08/16/2009 - 00:19 | Portuguese | |
Poesia/Desilusión | Página Branca | 3 | 306 | 08/15/2009 - 18:07 | Portuguese | |
Poesia/General | ALMA SERENA - Gil Bertho Lopes | 0 | 490 | 08/15/2009 - 01:15 | Portuguese | |
Poesia/Alegria | Olhar de Deus - Gil Bertho Lopes | 5 | 501 | 08/11/2009 - 23:37 | Portuguese | |
Prosas/Contos | CHICO MANZORRA - Gil Bertho Lopes | 1 | 549 | 08/10/2009 - 16:33 | Portuguese | |
Poesia/Amor | A Dança - Gil Bertho Lopes | 3 | 336 | 08/09/2009 - 10:33 | Portuguese | |
Poesia/Dedicada | Sul Cidades - Gil Bertho Lopes | 2 | 584 | 08/03/2009 - 02:33 | Portuguese | |
Poesia/General | Solidão em Noite de Algodão - Gil Bertho Lopes | 3 | 299 | 08/03/2009 - 00:57 | Portuguese | |
Poesia/Tristeza | MORTE - Gil Bertho Lopes | 4 | 305 | 08/01/2009 - 18:16 | Portuguese | |
Poesia/Dedicada | Poema do Envelhecer - Gil Bertho Lopes | 2 | 516 | 07/30/2009 - 15:42 | Portuguese | |
Poesia/Pasión | Gueixa - Gil Bertho Lopes | 1 | 307 | 07/18/2009 - 22:44 | Portuguese | |
Poesia/Amor | Rua do Encontro | 2 | 330 | 07/17/2009 - 16:40 | Portuguese | |
Poesia/Meditación | POÉTICA - Gil Bertho Lopes | 3 | 360 | 07/12/2009 - 21:25 | Portuguese |
Comentarios
Re: Solidão em Noite de Algodão - Gil Bertho Lopes
GilberthoLopes!
Todas as noites o Poeta/Marinheiro, sonhava em rever seus lindos sonhos em Noite de Algodão!
Não tardou o sol
que reverberava alegre
sobre a brancura dos lençóis que,
ao vento esvoaçavam,
nas cordas do convés,
trazendo aos olhos o enegrecer.
E de repente era noite... noite de algodão.
MarneDulinski
Re: Solidão em Noite de Algodão - Gil Bertho Lopes
"No pátio deserto pairava a claridade do céu estrelado...
A inútil claridade daquele silêncio de angustiosa espera.
Encontrava-se em perpétua expectativa do que seria o amanhã...."
Gostei imenso ;-)
Re: Solidão em Noite de Algodão - Gil Bertho Lopes
Sonhei contigo (acordada) nesta solidão em noite de algodão...belíssimo :-)
Bjs
IC