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Solidão em Noite de Algodão - Gil Bertho Lopes

Todas as noites, à mesma hora, as pálpebras pesavam em seus olhos.
Mergulhava o Marinheiro num sono de chumbo, negro, duro, e profundíssimo,
do qual lhe custava tanta dificuldade e tanta pena despertar.
Fechava os olhos ao espetáculo de suas misérias.

A natureza despojava-lhe o espírito de todas as mazelas,
E levava-o consigo, leve, qual uma pluma,
pelas frescas alamedas dos sonhos mais risonhos.
Restaurava-lhe inconscientemente a alma,
para que, no dia seguinte,
estivesse em condições de suportar as tristezas e a diversidade da sorte.

Entreviam-se os lampiões do velho cais,
a lanterna verde do farol,
as luzes entre os mastros dos navios ancorados,
e da praia
exalava aquele bafio denso, quente, acre, de sal e de mofo, das algas mortas.

No pátio deserto pairava a claridade do céu estrelado...
A inútil claridade daquele silêncio de angustiosa espera.
Encontrava-se em perpétua expectativa do que seria o amanhã....

Despertou sob o céu cinzento da manhã de outono.

Com os magníficos cabelos fulvos em redor do belo rosto acobreado.
A dor se dissolvera.
O desespero se consumira em uma intensa e muda saudade do bem perdido;
e esta saudade aos poucos, na desolação, tornara-se um bem por si própria,
o único bem.
Tornavam-se aos seus olhos coisas próximas, presentes, de uma distância ignota, que o fazia suspirar.
Sentia em seu íntimo, com uma alegria ébria de frescor e um espanto
quase de vertigem,
a ansiedade de tanto, tanto céu, e tanto mar que aquele navio tinha percorrido,
partindo sabe-se lá de que distantes terras.

Não tardou o sol
que reverberava alegre
sobre a brancura dos lençóis que,
ao vento esvoaçavam,
nas cordas do convés,
trazendo aos olhos o enegrecer.
E de repente era noite... noite de algodão.

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domingo, agosto 2, 2009 - 16:37

Poesia :

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GilBerthoLopes

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Comentários

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Re: Solidão em Noite de Algodão - Gil Bertho Lopes

GilberthoLopes!

Todas as noites o Poeta/Marinheiro, sonhava em rever seus lindos sonhos em Noite de Algodão!
Não tardou o sol
que reverberava alegre
sobre a brancura dos lençóis que,
ao vento esvoaçavam,
nas cordas do convés,
trazendo aos olhos o enegrecer.
E de repente era noite... noite de algodão.
MarneDulinski

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Re: Solidão em Noite de Algodão - Gil Bertho Lopes

"No pátio deserto pairava a claridade do céu estrelado...
A inútil claridade daquele silêncio de angustiosa espera.
Encontrava-se em perpétua expectativa do que seria o amanhã...."

Gostei imenso ;-)

imagem de IsabelPinto

Re: Solidão em Noite de Algodão - Gil Bertho Lopes

Sonhei contigo (acordada) nesta solidão em noite de algodão...belíssimo :-)
Bjs
IC

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