O Palácio Chinês
Não é longa a ponte que me leva a Xangrilá.
Mas é disforme como a de Monet, sobre o lago dos nenúfares.
Tão logo eu a cruze, sei que estarão me aguardando o tigre branco e a pantera negra que me protegem dos demônios e me livram da tristeza.
Será bom poder acariciar-lhes e sentir-me como Zaratustra que também voava com a sua águia e rastejava com a sua serpente.
E que pairava com ambos sobre a vida dos homens que nunca se arriscam em arames estendidos...
Conta-me Yume, que as bonecas do Oriente são feitas da porcelana mais fina que há.
Talvez sejam tão finas que se parecem com almas...
Eu não a vejo, mas sinto a suavidade de seu toque e pressinto a lisa e longa noite escura de seus cabelos em minha nuca.
Sem que eu olhe, sei de seu corpo delicado como a porcelana sem matéria. E sei de seu sorriso encabulado quando digo que são lindos os brilhantes que lhe adornam os seios...
Estou sentado frente à imensa janela de vidro e engulo as generosas porções do verde que sobem da rua.
Sei que são Paineiras, Amendoeiras e alguns incertos Flamboyants.
Mas sei que são irreais. Meros espectros aprisionados no umbral do tempo antigo.
Apenas as Cerejeiras existem...
É cálida a brisa em que desliza o sutil perfume e a delicadeza herdada das gueixas eternas.
Eternas gueixas, em seda vestidas, a conduzirem as delicadas mãos que alisam a minha face e aliviam as dores que tantos e tantas tatuaram em minha carne e alma...
Agora, o verde apagou-se com a chegada de Vésper e a noite assumiu seu mistério.
Da rua, sobe apenas a luz hesitante de um poste solitário...
E é nessa penumbra que toco o veludo das vias que conduzem ao Palácio de Jade, enquanto abrigo a tua nudez com os últimos poemas que te fiz...
Meia-luz que nos desenha no calor de todos os desejos.
Meia-luz com que cantamos a canção do amor...
A primeira florada das Cerejeiras faz o mundo ser lilás.
E antes que a outra neve recubra os montes, os riachos riscam novos arabescos enquanto baila o Arco-Íris que o teu riso liberta...
Eis-te florida, meu doce Jasmim do Oriente...
Para Yume. Carinho.
Lettré, l´art et la Culture. Rio de Janeiro, outono de 2015.
Submited by
Poesia :
- Inicie sesión para enviar comentarios
- 1877 reads
other contents of fabiovillela
Tema | Título | Respuestas | Lecturas | Último envío | Idioma | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/General | Negro Baú | 0 | 695 | 03/22/2012 - 10:30 | Portuguese | |
Poesia/General | Sendas | 2 | 1.147 | 03/21/2012 - 14:50 | Portuguese | |
Poesia/General | Ló | 0 | 1.196 | 03/21/2012 - 11:13 | Portuguese | |
Prosas/Otros | Filosofia Moderna e Contemporânea - HABERMAS, Jurgen - A Razão Comunicativa e as Esferas Públicas | 0 | 2.670 | 03/19/2012 - 20:28 | Portuguese | |
Poesia/General | Gaivota de Botafogo | 0 | 1.662 | 03/18/2012 - 13:21 | Portuguese | |
Prosas/Otros | Filosofia Contemporânea - FANON, Frantz - O Negro e o Racismo | 0 | 2.256 | 03/15/2012 - 10:19 | Portuguese | |
Poesia/Tristeza | Estações | 0 | 2.758 | 03/14/2012 - 10:25 | Portuguese | |
Prosas/Otros | Filosofia Moderna e Contemporânea - CAMUS, Albert - O Mito de Sísifo | 0 | 3.285 | 03/12/2012 - 20:16 | Portuguese | |
Poesia/General | Alucinações | 0 | 1.294 | 03/12/2012 - 10:46 | Portuguese | |
Poesia/Dedicada | Ivy | 0 | 1.568 | 03/11/2012 - 10:07 | Portuguese | |
Prosas/Otros | Filosofia Moderna e Contemporânea - FOUCAULT, Michel - Os Micro Poderes | 0 | 3.371 | 03/10/2012 - 11:39 | Portuguese | |
Poesia/Amistad | As 1001 Noites | 0 | 1.472 | 03/09/2012 - 12:37 | Portuguese | |
Prosas/Otros | Em Homenagem ao Dia Internacional da Mulher - Filosofia Moderna e Contemporânea - SIMONE de BEAUVOIR - a Mulher e o Feminismo | 0 | 1.784 | 03/08/2012 - 11:06 | Portuguese | |
Poesia/General | Esquecimentos | 0 | 1.654 | 03/06/2012 - 13:19 | Portuguese | |
Poesia/Tristeza | Nove Meses | 0 | 979 | 03/05/2012 - 09:34 | Portuguese | |
Poesia/General | Menos um | 0 | 1.433 | 03/04/2012 - 11:38 | Portuguese | |
Prosas/Otros | Filosofia Moderna e Contemporânea - HEGEL e a DIALÉTICA | 0 | 1.952 | 03/02/2012 - 23:00 | Portuguese | |
Poesia/General | As Marcas | 0 | 2.381 | 03/02/2012 - 11:20 | Portuguese | |
Poesia/General | Às Quartas | 0 | 1.374 | 02/29/2012 - 10:34 | Portuguese | |
Prosas/Otros | Filosofia Moderna e Contemporânea - HEIDEGGER (Martin) e o DASEIN | 0 | 3.734 | 02/27/2012 - 10:53 | Portuguese | |
Poesia/Amor | Uma Chuva | 0 | 2.494 | 02/26/2012 - 10:49 | Portuguese | |
Poesia/General | A Semente | 0 | 2.783 | 02/25/2012 - 10:27 | Portuguese | |
Poesia/Amor | Plumas | 0 | 1.534 | 02/24/2012 - 10:43 | Portuguese | |
Poesia/Amor | Leveza | 0 | 860 | 02/22/2012 - 11:08 | Portuguese | |
Poesia/General | Lendas | 0 | 681 | 02/20/2012 - 11:03 | Portuguese |
Add comment