João Sente-Sóis.

João sen’campo nen’terra, João sente-sóis

Nasci tão complicado como um ser, qualquer um,
De infinitos nós, perfeitos, carecido d’asas e voar
Pra ser feito e meu o altar em qualquer espírito
Livre da água leito e terra Magna igual à minha,

Lugar triste, sozinho. Aves do campo dela. vêm mirar,
Viesses tu, à tardinha ver-me, lavrado sobr’terra,
Com’as outras aves do mar, nu sentirias,
Ancorado meu corpo ao solo como na alma minha

Só se pondo no meu olhar gato, de peixe pampo.
Há primaveras, tantas, tontas no meu viver,
No voo de campo em campo, cavado, daí beber,
Nas plantas de tua mão, ave, supondo eu -O Saber.

Triste sozinha ave, meu copo no teu altar astral,
De boda, vem de noite dormir, beber meu hálito,
Debaixo do beirado, de bico baixo e d’asa torta
Abrigada do vento, tempo adufe e sem causa,

Vem, avezinha triste e vizinha, dar-me teu tempo e encanto
E tecto a mim, que sozinho estou, no meu campo,rio frio,
Avezinha tanto, desentristece-me avezinha encanto,
Com o canto teu, som da Terra. vinha..tenta, entra,

Canta lenta…tentacanta e encanta-me,
Vizinha triste, ave do campo sente, meus curtos bemóis,
Desenterra o canto, lê-me na voz de-quem-me-dera,
Entender a razão, da fome e dor, desta amada Terra,

Pois nasci eu, antes de nascer a Terra toda, quando
A realidade que me rodeava era rasa e bera
Campa e é aonde ando, andamos, clã sem terra,
João sem’campo, João sente sóis, quem me dera depois,

Por quanto, não senti nascer campos louro em pedras,
Pudera, tal abundância não se cria d’terra feia,
Nem no que se diz ter, ao nascer, o grã-canto das Aroeiras,
Flor,portanto eu canto, as vizinhas aves do campo, pobres…

Sem no branco pisar, porquanto era já espírito e ar,
Quando o mundo era pequeno e praticável e Amor
De quem sou eu? Tão complexo como uma flor d’estio
Que se crê ter alma completa e bem, serei também.

Nasci antes de nascer, sou natural ramo, fumo
De uma coisa quase banal que se chama coração,
E amo o espaço que se pensa vazio, a razão clama
Na minha frente, amo o entardecer, magnífico.

Como se houvesse verão cedo, bora a chuva caia, fria,
Pausa um vento, por tudo que em mim foge,
Sinto-me original no que sinto e fere
-Uma ilusão de Acácia ática folhosa, da enseada,

João sen’campo, João sente sóis, João sen’terras
Talvez seja verão perene (penso eu e a franca arvéola)
Todo ano, as folhas sintam a minha seiva a galope
Com’um vulcão, sedo o calor da vida que me aloje

E o entardecer que me foge no momento
Cedo é ainda e a chuva que cai, forte e fria
Caía na minha frente, nascia nascente, corrente
Fonte e indiferente e eu enxuto, inexacto…cedia

Cedia ao meu coração-fogacho de fusão ardido-
(Tal fosse físico, fá-lo-ia paradigma no meu coração)
Faz-me dor a paisagem e a margem quando flui de mim…
Paisagem, quanto pobre ave do campo,

Vizinha por sequela, vem Adélia meu amor,
E eu paro pra vos dar o meu amor-solo da terra dela-
TERRA BELA…Adélia meu amor.
João sente-sóis…

Joel Matos (11/2014)
http://namastibetpoems.blogspot.com

Submited by

Sábado, Marzo 3, 2018 - 13:05

Ministério da Poesia :

Su voto: Nada Promedio: 5 (1 vote)

Joel

Imagen de Joel
Conectado
Título: Membro
Last seen: Hace 1 hora 30 mins
Integró: 12/20/2009
Posts:
Points: 42103

Comentarios

Imagen de Joel

Nasci antes de nascer, sou natural ramo

Nasci antes de nascer, sou natural ramo, fumo
De uma coisa quase banal que se chama coração,
E amo o espaço

Add comment

Inicie sesión para enviar comentarios

other contents of Joel

Tema Título Respuestas Lecturas Último envíoordenar por icono Idioma
Ministério da Poesia/General M’inunda o mar na terra … 2 605 02/23/2018 - 09:01 Portuguese
Ministério da Poesia/General Nem no mundo do fim do mundo há o fim dum todo… 1 625 02/23/2018 - 09:00 Portuguese
Ministério da Poesia/General Licença pra entender 2 3.425 02/23/2018 - 08:58 Portuguese
Ministério da Poesia/General Leve, a emoção 1 1.826 02/23/2018 - 08:57 Portuguese
Ministério da Poesia/General O sabor da terra … 1 2.409 02/23/2018 - 08:56 Portuguese
Ministério da Poesia/General Duvido de tudo que dos olhos vem … 1 1.993 02/23/2018 - 08:56 Portuguese
Ministério da Poesia/General Perdoa tanto, tampouco … 1 2.332 02/23/2018 - 08:55 Portuguese
Ministério da Poesia/General Alma e lírica … 2 1.229 02/23/2018 - 08:54 Portuguese
Ministério da Poesia/General click folk flop flux… 1 697 02/23/2018 - 08:54 Portuguese
Ministério da Poesia/General Tudo e isto … 1 1.935 02/23/2018 - 08:53 Portuguese
Ministério da Poesia/General O vento anuncia-se pelo ruído … 1 1.624 02/23/2018 - 08:52 Portuguese
Ministério da Poesia/General Gostei de preencher de sonhos, instantes 1 2.168 02/23/2018 - 08:52 Portuguese
Ministério da Poesia/General Reis, princesas e infantes 2 2.960 02/23/2018 - 08:51 Portuguese
Ministério da Poesia/General Valham-me as palavras boas … 1 2.738 02/23/2018 - 08:29 Portuguese
Ministério da Poesia/General Não confies na força das tuas asas, confia no ar que sob elas passa … 1 1.831 02/22/2018 - 21:34 Portuguese
Ministério da Poesia/General Em silêncio 1 1.402 02/22/2018 - 21:34 Portuguese
Ministério da Poesia/General Aos desígnios que inventei só porque sim … 7 3.072 02/22/2018 - 17:07 Portuguese
Ministério da Poesia/General Minh’alma não tem uso pra mim 4 1.630 02/22/2018 - 17:04 Portuguese
Ministério da Poesia/General Pois que eu desapareça 1 2.134 02/22/2018 - 17:03 Portuguese
Ministério da Poesia/General Cicatrizes hão-de encher-me de poderes … 1 3.672 02/22/2018 - 17:03 Portuguese
Ministério da Poesia/General Ler é sonhar sonhos doutros … 1 2.045 02/22/2018 - 17:02 Portuguese
Ministério da Poesia/General Passado eu, azul triste, translúcido … 1 3.171 02/22/2018 - 17:00 Portuguese
Ministério da Poesia/General Bizarro 1 2.030 02/22/2018 - 16:59 Portuguese
Ministério da Poesia/General Do mar m’avisto. 4 2.714 02/22/2018 - 16:59 Portuguese
Ministério da Poesia/General Diário dos imperfeitos 2 2.055 02/22/2018 - 16:57 Portuguese