A reflexão do último dia da existência não absoluta do mortal

Olhou mais uma vez para a imagem a sua frente.
Sentia que essa poderia ser a última vez que seus olhos vislumbraria tal imagem.
Não fazia a mínima ideia do que haveria do outro lado.
Tudo não passava de teorias.
Afinal, ninguém havia voltado do outro lado para contar o que lá havia.
Desejava muito ter mais tempo.
Não queria viver para sempre.
Nunca imaginou isso.
A imortalidade o assustava.
Já não suportava nem mais um dia nesta vida miserável.

Lembrou de seus dias antigos.
Os tempos de crianças quando corria atrás das borboletas e jogava pedras nos pássaros para vê-los voando.
Esse sim era um tempo que desejava que não tivesse passado.
Quem dera pudesse viver a infância infinitamente.
Os adultos são ingratos e imbecis.
São todos sem compaixão.
Egoístas e miseráveis.
Lobos do próprio homem.
E nunca gostaria de ser como eles.
Mas sentia-se como o pior de todos os mortais.
Tudo é uma ilusão neste mundo tenebroso.

Ainda podia ver aqueles lindos olhos.
Com certeza eram os mais lindos que já vira em sua vida.
E foi ali que tudo desmoronou.
Sabia disso.
Aqueles olhos foram a sua perdição.
Talvez pudesse seguir outros caminhos se não tivesse deixado eles penetrarem e dominarem seu coração.
A partir daquele olhar seus pensamentos tornaram-se prisioneiro dela para sempre.
E tudo não passou de mais uma grande ilusão.
Amou-a como se fora a única mulher no planeta.
Ela não sentiu a mesma coisa.
Gosto muito de você , disse-lhe um dia, mais é só isso.
Um carinho.
Isso foi como um punhal a rasgar o seu coração.

Cada vez que via um andarilho pelas ruas ou uma criança abandonada pelos pais seu coração sangrava.
Onde está a humanidade das pessoas?
Sentia o frio das madrugadas e os espinhos do caminho.
Ninguém se importava com seus gritos.
Ninguém ouvia o seu pedido de socorro.
Ninguém se importava.
Por que, então, deveria se importar com alguém?
Imaginava, em seus sonhos, o mundo sendo destruído por fogo.
As chamas cobriam toda a terra.
Animais desesperados correndo de um lugar para outro.
Gente gritando desesperadas.
Mas de nada adiantava.
O fogo fazia uma limpeza total.
Não ficou nem raiz nem ramo que não fosse destruído.
Acordou do sonho com o corpo coberto de suor.
Podia torcer os lençóis se quisesse.
Ficou aborrecido porque lá fora ainda podia ver as folhas sendo carregadas pelo vento da manhã.

Definitivamente perdeu todas as suas esperanças.
Sabia que nada poderia fazer para mudar aquela situação.
Ninguém notaria sua ausência.
Sentia-se um nada em meio ao infinito.
Poderia deixar essa vida e seria apenas mais um indigente sem identificação.
Que diferença isso faria para a humanidade?
Quantas pessoas já nasceram e morreram ao longo da existência humana e ninguém se importa.
O mundo continuará a existir assim que parar de respirar.
Já existia quando chegou aqui.
Continuará a existir assim que se for.

Fechou os olhos outra vez.
Sua mente estava muito confusa.
Afinal, que escuridão era essa?
O limbo existencial ou o fim de tudo que sua mente insana viu ou ouviu um dia.
Sente as garras afiadas de seus condutores.
Ou são asas?
A visão é ofuscada pela linha tênue da vida e morte.
Onde está o barqueiro para me conduzir pelo rio da eternidade?
Meu coração será pesado na balança?
Já cheguei no paraíso?
Tudo está em silêncio agora.
Embaixo de uma árvore as folhas são levadas pelo vento até pousar suavemente no rosto bucólico de uma pessoa.

Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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Viernes, Abril 2, 2021 - 13:42

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