Mais velhos q os trapos...
(Dedico esta postagem ao brilhante texto do Giraldoff "Um dia a mais é mais um dia de vida")
Por favor Meu Deus leva-me...
Não te esqueças de mim, aqui...
Os meus olhos são órbitas cansadas e pesadas, que já nem conseguem fixar as linhas do rosto...
Dizem q estou louca, porque troco os nomes,
porque peço para me deixarem morrer ...
Infelizmente ainda percebo tudo o q me estão a fazer...
Vejo a minha dignidade a escorrer pelo canto da boca, juntamente com a sopa azeda...
As mãos e os pés amarrados à cama de lençóis encardidos...
(acho que nunca me fizeram a cama de lavado,
gostava tanto do aroma do sabão na roupa de cama, da goma da roupa passada a ferro, imaculada...)
Se me pudesse levantar ficaria uma hora debaixo do chuveiro,
para libertar-me do cheiro da fralda que me serve de colo há dois dias...
Tenho o corpo cheio de feridas por estar sempre nesta posição, se ao menos me deitassem de lado, de quando em vez...
Quem me dera perder a lucidez...
A minha boca é deserto onde a agua não corre há dias, nem consigo falar...
Ás vezes as moscas pousam nos meus olhos durante minutos que me parecem horas e eu nem as consigo enxotar...
Comem os restos de sopa azeda seca que me fica no queixo,
eu nem pestanejo,
deixo-as ficar e faço de conta que já morri...
Por favor Meu Deus leva-me...
Não te esqueças de mim, aqui...
Ou então lembra os meus filhos,
para me virem buscar,
eu prometo não estorvar...
Eu prometo morrer o mais depressa q puder...
Inês Dunas
in "Desejo a Marte, tão perto"
Submited by
Poesia :
- Inicie sesión para enviar comentarios
- 1115 reads
Add comment
other contents of Librisscriptaest
Tema | Título | Respuestas | Lecturas |
Último envío![]() |
Idioma | |
---|---|---|---|---|---|---|
Prosas/Otros | Fita solta... | 0 | 1.407 | 12/16/2009 - 13:01 | Portuguese | |
Poesia/Amor | L’ame immortelle cherche toujours le poême parfait…. | 2 | 1.131 | 12/16/2009 - 03:20 | Portuguese | |
Poesia/General | O tempo do tempo que se perdeu no tempo... | 4 | 1.319 | 12/16/2009 - 02:29 | Portuguese | |
Poesia/Amor | Coreografia improvisada... | 3 | 1.278 | 12/15/2009 - 03:27 | Portuguese | |
Poesia/Tristeza | As lágrimas frágeis de um caçador perdido... | 5 | 1.244 | 12/13/2009 - 23:50 | Portuguese | |
Prosas/Otros | A prisão envidraçada... | 0 | 1.718 | 12/13/2009 - 23:22 | Portuguese | |
Poesia/Pasión | Olha-me nos olhos... | 3 | 1.246 | 12/13/2009 - 22:49 | Portuguese | |
Prosas/Otros | A princesa que não queria ser rainha... | 1 | 1.813 | 12/13/2009 - 21:22 | Portuguese | |
Poesia/Pasión | Ir ao quadro... | 4 | 1.320 | 12/13/2009 - 02:40 | Portuguese | |
Poesia/Pasión | O sangue da rosa... | 1 | 2.642 | 12/13/2009 - 00:12 | Portuguese | |
Prosas/Otros | Não chores princesa caramelo, acende a luz... | 1 | 1.354 | 12/12/2009 - 23:47 | Portuguese | |
Poesia/Pasión | Kiele Aloha | 3 | 4.838 | 12/12/2009 - 16:44 | Portuguese | |
Poesia/Amistad | Mea Culpa... | 5 | 1.247 | 12/12/2009 - 12:17 | Portuguese | |
Poesia/Pasión | Quinto elemento... | 4 | 1.018 | 12/11/2009 - 14:33 | Portuguese |
Comentarios
Re: Mais velhos q os trapos...
Maravilha de poema!
Gostei imensamente.
Parabéns,
Bjs,
REF
Re: Mais velhos q os trapos...
LINDO, REAL E TRISTE POEMA, MAS É UMA REALIDADE, QUE COM O TEMPO CHEGA EM TODAS AS FAMILIAS, MUITOS ENTREGAM SEUS DOENTES PARA ENTIDADES QUE CUIDAM DE PESSOAS IDOSAS, NEM TODOS TEM A DISPONIBILIDADE DE TEMPO PARA CUIDAR DE SEUS IDOSOS DOENTES; TUDO QUE O POETA RELATA QUE ACONTECE, É UM FATO VERÍDICO PARA MUITOS, QUE ESTÃO ENTREVADOS EM SUAS PRÓPRIAS CASAS, MAS COMO NÃO TEM ALGUÉM QUE OS CUIDE 24HS., TUDO ISSO PODE ACONTECER;
FICA MUITO DIFÍCIL CONDENAR O DESESPERO DO PERSONAGEM DE SEU POEMA, PEDINDO PARA SER LEVADO, PARA SUA ÚLTIMA MORADA, SÓ PASSANDO PELOS MESMOS SOFRIMENTOS, É ALGO MUITO SUBJETIVO;
MAS DOU-VOS MINHA OPINIÃO, VISTO TER PASSADO, OU MELHOR, TER CONVIVIDO COM ESSE DRAMA, COM FAMILIARES MUITO QUERIDOS, QUE TINHAM RECURSOS E INTERNARAM-OS EM CLÍNICAS ESPECIALIZADAS, MAS TAMBÉM NUNCA PODEMOS FISCALIZAR, POR ESTARMOS AUSENTES DE TODO O PROCESSO, FICANDO SEMPRE UM PONTO DE INTERROGAÇÃO, QUANTO AOS CUIDADOS!
ATUALMENTE, TENHO A MINHA IRMÃ, QUE PASSA TUDO ISSO COM O SEU MARIDO, MAS TENDO CONDIÇÕES, E TENDO UMA EQUIPE DE AUXILIARES, JÁ ATENUA UM POUCO O PROCESSO, MAS TAMBÉM É MUITO ENFADONHO, MESMO COM TODOS RECURSOS E CARINHOS DADOS;
CASO NÃO TIVESSE TODOS ESSES CUIDADOS, SEU ENFERMO, TAMBÉM PODERIA ESTAR PENSANDO COMO O SEU PERSONAGEM;
MAS MESMO ASSIM, OBSERVANDO SER ALGO MUITO SUBJETIVO, É OU SERÁ DE NOSSO DIREITO PEDIR AO CRIADOR, PARA ABREVIAR NOSSA MORTE, PORQUE TAMBÉM TIVEMOS OU TAMBÉM O PERSONAGEM TEVE, OS SEUS MOMENTOS DE FELICIDADE E GOZOS NA VIDA, SERIA MAIS CERTO PENSO EU, ENTREGAR TUDO AO PODER CRIADOR, PARA QUE ELE DECIDA, COMO SEMPRE O DECIDIRÁ...
LUZ, VIDA E AMOR
PAZ PROFUNDA
Marne
DESEJOS MEUS, DE UM MARAVILHOSO FIM DE 2009, E UM ESPETACULAR INÍCIO DE 2010, COM TODA SORTE DE BOAS COISAS, BASTANTE SAÚDE,LUZ, VIDA, AMOR E MUITA PAZ!
Re: Mais velhos q os trapos...
Profundamente dorido
Um conjunto de imagens tremendas, horrendas
portentoso
bjos
Re: Mais velhos q os trapos...
Inês,
Um texto forte, verdadeiro e muito doloroso. É triste termos retratada em forma de poesia uma realidade tão cruel. É triste sabermos que pessoas passam por isto e por situações ainda piores. É lamnetável que o ser humano não tenha piedade de outros e nem de si mesmo...
BJs
Re: Mais velhos q os trapos...
Que dizer? Também li este texto do Gi e lembro-me que estava de plantão naquela hora e emocionei-me muito. Teu texto relata uma das facetas da evolução final e terminal desta doença de impacto orgânico e social, que é pandêmica e congênita, cujo desfecho é fatal, doença esta chamada "Envelhecimento", desta doença ninguém escapa.
Cara Librisscriptaest, que mais dizer-te além de "alea jacta est", preferia na última lufada derradeira de ar pelos meus pulmões dizer "Veni, vidi, vici", mas talvez seja "Quousque tandem abutere, Deus, patientia nostra". É claro que até lá como sou louca e muito louca, depois de velha ficarei mais, só falarei em latim, serei uma velha quase morta falando em uma língua morta...
“Memento, homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris”