Dás-me um Beijo?

Ele – Queres namorar comigo?
Sou o Pedro! Desculpa,
Dás-me um beijo amigo?
Quero dizer… Minha culpa.

Ele Pensou, ressoou,
Rezes e mais vezes,
Sem da coragem ouvir falares.
D’ amores, meros pensares,
E de quê? A sentida culpa!

Ela, um encolher dos ombros,
Um gemer nos olhos, calcado!
Proibido e sonhado,
Já pisadas! Quedas e escombros.

Da sua boca, sem mais vir,
Sem de única palavra ouvir,
Empurrou um pensar,
Um envergonhado pulsar,
Apenas um porquê: – Amo-o?

Ela – Quero! Abraças-me?
Onde vais?
Deslembra os demais,
E pela mão, levas-me?

A idade separada,
Tempo que afasta,
A mão separada,
E a culpa nefasta,
Ele, dezoito anos,
Sem nada saber,
E na malga, opada d’ alusão.
Ela, vinte e oito anos,
Amargado saber,
E no ser, o peso da ilusão.

Lado a lado sentados,
Um no outro pensados,
No respirar sentidos,
E em gestos contidos.

Ela murmura:
– Tenho frio!
Ele, num gesto de brio,
No ar um arrepio,
O amor em rodopio,
Segura-lhe a mão.
E não ditas,
As palavras pensadas,
Trocam gestos,
Ideias amarradas,
Em dizeres por quereres,
Nas palmas amadas.

Ele – Queres?
Ela – Não… Espera! Sim.
Ele – A tua mão? Dá-me.
Ela – Toma, anseio de mim.
Ele – Sente… Amo-te…

Só! E tão só,
O Pedro viu Ana.
Nos dedos enrolados,
Trocados, melados, suados,
Reclamados sentires achados.
E na palma da mão,
Derramado o coração,
Amores compuseram,
Apenas com as mãos,
Só! E tão só.

Ele – Dás-me um beijo?
Sou teu! Desculpa,
Dás-me um beijo?
Sem culpa,
Quero dizer… Amo-te.

Pedro Martins