Por que escreve o poeta?
Em um mundo fragmentado, conturbado e contraditório como o que vivemos, por entre escarpas, espinhos, espadas agudas e apontadas, sustos, medos, gritos, soluços, sobrevive o poeta. E, conturbado pelo seu tempo, perplexo diante da vida, encontra, no fundo da alma, uma espécie de lâmpada mágica que lhe ilumina o túnel, clareia-lhe o caminho, espantando as trevas angustiantes que seria, para si, a vida sem a sua poesia.
Porque é essa a grande razão de escrever: fazer explodir a inquietação que lhe vai na alma, tornar público esse monólogo interior que, como um mosquitinho fica a "cutucar-lhe" a instigar, querendo colocar o ser em movimento. E ele, o poeta, entre o assombro e a surpresa, vê esvair sobre o papel, em meio a contas, obrigações, o sensível de seu ser.
Gotas imensas de sensibilidade e imaginação vão transformando-se em riachos, rios, cachoeiras de imagens, símbolos que acabam por retratar o seu interior. E aquilo que não se diz é agora dito por entre letras, formando metáforas, metonímias e uma série de figuras que terminam por representar-lhe a alma.
Para o poeta, uma árvore não é tão somente uma árvore. É muito mais. É tudo aquilo que, aos seus olhos atentos, representa uma ávore ou é por ela representado. E essa representação - explícita ou implícita - vai, passo a passo, caracterizando o ser poeta.
Alma impregnada de canções contidas que teimam em com ele cantar, inquietação que se desemboca em melodias que, com ele, querem rimar.
E, no espelho dessa alma de poeta, a poesia se faz luz. Reflete por entre a moldura, espalha rios intensos e se perpetua nas linhas escritas.
Aí, então, a alma sossega? Que nada! Insatisfação eterna.
Continua querendo falar. E, deslizando sobre ondas flutuantes, por entre rios e cascatas da imaginação, retoma o verbo, constitui a palavra, transborda.
E, como diz o grande Otávio Paz, "consagra o instante".
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