ELOGIOS XVII

17

Ao publico, em nome de um actor
no dia do seu beneficio

(Reitado no Theatro da Rua dos Condes, no anno de 1803)

Requintado artificio além da méta
Tentava da illusão levar o imperio.
Graças mimosas, feminis encantos,
Espinhosos desdens, macio afago,
Prisão tão dôce aos corações, o riso,
E o pranto, aos corações prisão mais dôce;
Affectos, que dulcísonos se exhalam
Na voz, orgão de amor, feminea, branda,
Ha pouco, em som viril falsificados,
Um agro não sei que deixavam n'alma :
De ternas sensações (já dôr, já gosto)
Vazio o peito, suspirava encher-se;
O pensamento, o coração pediam
Mixto aprazivel de verdade, e engano.

A sabia Natureza, a mãe das artes
Eis volve á scena lusa, e já com ella
Florece a formosura, attráe, sacia
Olhos sedentos, soffregos ouvidos.
Zenobia, Elysa, Cleofíde acordam
De eterna escuridão, de ferreo somno.
Dos seculos o pezo ellas sacodem,
E em niveas faces, em purpureos labios,
No talhe majestoso, em alma, em tudo,
Vem reinar sobre a scena, e são quaes foram;
O attento espectador palmêa, exulta,
E a fonte das paixões borbulha, e corre
Por flóreo, natural, gentil caminho.

Eu, oh d'alta Ulysséa illustre povo,
Eu de tenues paixões frouxo arremedo,
Em habito fallaz exercitando,
Os quadros distingi moraes, e amenos,
Onde alegre illusão com risos mente.
Meu passo, minha voz, vontade, affectos
A' natureza em fim se restituem:
Qual me quiz, qual me quer, qual sou, pratico
O que arte escassa, o que mesquinhas luzes
A' mente escura, indocil me doáram.
Espectadores meus, que honraes meu dia,
Risonha complacencia os erros doure
Do inerte, humilde actor, que a patria implora.
Sêde o que fostes, e talvez, surgindo
D'entre os nomes communs, será meu nome,
Oh claros cidadãos, prodigio vosso.

Submited by

Domingo, Octubre 18, 2009 - 22:40

Poesia Consagrada :

Sin votos aún

Bocage

Imagen de Bocage
Desconectado
Título: Membro
Last seen: Hace 14 años 20 semanas
Integró: 10/12/2008
Posts:
Points: 1162

Add comment

Inicie sesión para enviar comentarios

other contents of Bocage

Tema Título Respuestas Lecturas Último envíoordenar por icono Idioma
Poesia Consagrada/General APÓLOGOS V 0 890 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General APÓLOGOS VI 0 1.595 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General APÓLOGOS VII 0 1.712 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General APÓLOGOS VIII 0 1.084 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General APÓLOGOS X 0 1.532 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General APÓLOGOS XI 0 982 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General APÓLOGOS XII 0 1.118 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General APÓLOGOS XIII 0 933 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General APÓLOGOS XIV 0 1.518 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General APÓLOGOS XV 0 1.173 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General GLOSAS LVI 0 850 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General GLOSAS LVII 0 1.062 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General GLOSAS LVIII 0 945 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General APÓLOGOS I 0 749 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General APÓLOGOS II 0 980 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General GLOSAS XLIII 0 1.322 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General GLOSAS XLIV 0 1.133 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General GLOSAS XLV 0 1.071 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General GLOSAS XLVI 0 780 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General GLOSAS XLVII 0 969 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General GLOSAS XLVIII 0 1.094 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General GLOSAS XLIX 0 1.205 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General GLOSAS L 0 1.726 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General GLOSAS LI 0 1.297 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General GLOSAS LII 0 906 11/19/2010 - 16:55 Portuguese