DENTRO DE MIM

DENTRO DE MIM

A tremer dentro de mim
Só meu desejo de criança,
Feito de lindas chamas mortas,
Que ainda, embora vagas,
Dançam virgens com meu segredo.
Tudo é sempre um sonho trágico
Que estremecido no seu descompasso,
Vive disperso de qualquer ilusão
E tudo é nunca, alguma coisa
Que tenha algo de fantasia
Ou um mero desenho de criança.
A tremer dentro de mim,
Toda minha própria vida,
Feito um menino triste de retrato
Que chorasse em vão, todo seu pranto
Ou feito um louco que olhasse o infinito
E descobrisse na exatidão de tudo
O próprio grito a explodir de medo.
Tudo é sempre o mesmo drama
Que se rompe e se transforma
Num trauma de ânsias contidas
E tudo é nunca, mesmo por acaso,
Um reflexo de pura lucidez
Ou outro acaso do acaso por acaso,
A tremer dentro de mim,
Eu mesmo, sem outra triste condição de ser.

Cláudio Silva.