Em que pensas, ó corpo solitário?
Nesta sala, agora obscura, eu encontro-me. Neste sofá, onde memórias e momentos repousam, estou sentado. Lá fora a noite fria cala-se para ouvir a voz da água que cai e a voz do vento que baloiça as árvores, despindo-as, cada vez mais, a cada sopro seu. O Outono vai a meio.
Nesta sala, onde os quadros contam histórias passadas, a escuridão é trespassada pela luz que a lareira, ainda acesa, imana. O calor do fogo aquece este corpo, pensativo, que o olha e o vê consumir, a cada passo do tempo, o sangue que lhe dá vida. Penso.
Tenho um fogo que arde dentro de mim e consome as minhas forças. A cada queimadura, profunda, eu oiço, cada vez mais, os gritos, desesperados, de um coração sofredor. Este fogo devora e massacra o coração que lhe dá vida. O fogo não sabe que tudo, neste mundo, tem um fim. Não sabe que quando as forças, para o suportar e o manterem vivo, morrerem, com elas ele também morrerá. Nada irá restar, a não ser as cinzas de um passado que o tempo não pode reacender. Este fogo, que me devora, na sua chama trás um nome. Esse nome: Amor.
Nesta sala, solitária, eu solitariamente penso no amor. Como podem as almas deste mundo dar a cor rosa ao amor? Como podem dar a cor rosa ao amor, sendo o fogo de cor laranja? Questiono-me. Haverá algum fogo que não devore e seja eterno? Não sei. Infelizmente não sei. Apenas sei que, neste momento, para mim, o amor não é rosa é laranja.
Nesta sala, onde o fogo agora morre e deixa que a escuridão habite em paz, a noite com o tempo também caminha. Já é tarde. Está na hora de me entregar ao sono e com ele adormecer. Amanhã o amanhecer não espera por mim.
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