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( Pai ) Passado Encoberto

Hoje abri a gaveta do passado. Por baixo do pó se encobria. Preocupações, alegrias e tristezas desta vida que vivo e viverei. Pó.

Hoje esqueci o presente. Hoje esqueci o futuro. Hoje abri o passado. Nesta gaveta, escondida e sombria, encontrei-te. Quando pensei estares morto por meu coração e sepultado por meu esquecimento, ressuscitas-te. Não te tenho medo. Não te odeio. Não te amo. Por ti sinto um vazio, sinto a ausência de sentimento.

Tu dizias amar-me. Amavas-me?! Se o fazias era hipocritamente. Sobre um amor hipócrita, falso e saturado de orgulho. Na tua vida o número um eras somente tu. Na tua vida o número dois era somente o teu interesse. Na tua vida o teu número três era eu. Eu. Eu que te olhava orgulhosamente. Olhava-te como o fraco olha o seu herói. Eu que agora te olho. Olho como o guerreiro olha o cobarde. Olho como o herói olha o vilão.

Lembro-me de ti. Atiro-me de um precipício e tento mergulhar no mar revoltoso da insignificância. Nele me tento afogar. Mas não consigo. Antes mergulho num mar, brando, sereno, calmo. Mergulho no mar da desilusão. Afinal não existe ausência. Ausência de sentimento. Não te odeio. Não te amo. Não sinto ódio. Não sinto amor. Sinto pena, por seres aquilo que és. Não sinto raiva. Sinto angústia, por orgulhosa e cobardemente teres feito o que fizeste. Não sinto fúria. Sinto tristeza, por ser teu fruto. Por ser teu filho, sinto vergonha. Eu. Teu filho. Eu? Teu filho? Não quero encarar-me como tal. Mas sou. Por mais forte que seja esta vontade, esta vontade de não o ser. Por mais forte que seja esta raiva, esta raiva de o ser. Teu filho sempre serei. Dentro desta alma o teu sangue corre. Dentro desta alma um pedaço da tua vive. Encontro o teu rosto, no reflexo do meu, quando me olho ao espelho. Infelizmente. Teu filho, sempre serei.

Um pedaço de orgulho a vergonha acompanha. Orgulho-me do pouco, bom, que fizeste. Daquilo que me ensinavas, que para não te desiludir o tentava aprender de uma só vez. Orgulho-me do dom que me transmitiste, de com palavras acompanhar o bater do meu coração e permitir que ele fale. Este orgulho, ainda assim, fazia-me nutrir por ti carinho. Mas este, com ventos e marés e com o pó que te encobria, foi apagado como os muitos cigarros, em cinza transformados, que apagavas no cinzeiro.

Peço-te perdão, por não expressar este desabafo na presença do teu ser. É irónico mas nem sei onde vives. Não te desejo mal embora o merecesses. Desejo-te a felicidade. Desejo que sejas feliz como eu o fui, como eu o sou, sem ti.

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sexta-feira, dezembro 18, 2009 - 00:45

Ministério da Poesia :

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PedroSilva

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