Xaile da madrugada

Compreendes que as fotografias nos unam,
ainda que por meros instantes me respires.
.
Os dias passam e os cabelos fraquejam.
São espaços-tortura com que me arremessas
contra a parede negra assombrosa.
.
São correntes de ar vadias
assaltando a noite dos pulmões.
.
Sufocas-me com o teu silêncio,
atinges-me com a cronha da frieza.
O sangue da desilusão
abre-me rugas nos extremos do corpo
que divergem de tamanho
mas convergem em amargura.
.
Insónias prendem-me em varandas de fel.
.
A escuridão derruba-me a pouco e pouco
para que a inconsciência não me pare a dor de repente.
.
O xaile da madrugada cobre o mundo dos meus sonhos.
A carruagem celeste varre-me, abalroa-me,
arranca-me os tornozelos.
.
Grito.
Não a mágoa vasculhada nas folhas das árvores,
mas a incógnita regressiva dos passos.
.
Afunilado numa espiral de desejo - quero-te.
Desesperado com o fantasma do suicídio - amo-te.
Entregue ao feitiço de um flash - cego.
Quando o fim chega - nasço.
.
Vês no ecrã pousado ao lado da cama
a luz das batidas do coração?

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Viernes, Marzo 19, 2010 - 22:33

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