A Memória Divina (Gabriela Mistral)

Se em minhas mãos abandonardes
uma desnuda estrela,
nem para defender minha alegria
saberei escondê-la.

Eu venho de uma terra
onde nada se perdia.

Se me abrirdes a gruta
maravilhosa assim como uma fruta
de ouro e púrpura que nos banha
os olhos de um grande assombro,
não cerrarei a gruta
nem à serpente, nem à luz do dia,

pois venho de uma terra
onde nada se perdia.

Se me ofereceres vasos
de cinamo e sândalo, capazes
de perfumar as raízes da terra
e de deter o vento quando erra,
a qualquer praia os confiaria,

pois venho de uma terra
em que nada se perdia.

Tive no peito a estrela viva
e inteira ardi como ocaso,
E tive a gruta ensolarada
em que prolongava o dia.

Porém não as guardei, convicta
de que não se oprime quem ama.
Dormi tranquila sobre a sua formosura,
fui serena ao sorver sua doçura.

Tudo perdi sem grito de agonia
pois venho de uma terra
onde a alma – eterna -
não perdia.


Gabriela Mistral, poeta chilena.

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Sábado, Enero 8, 2011 - 13:35

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