Estou farto desta gente!
O pânico tomou posse deste nosso belo país, continente, regiões autónomas e respectivos arquipélagos diminutos. Algures numa rocha dos ilhéus formigas, uma família de caranguejos, faz contas à nova vida, que a austeridade lhes quis impor. Do simples alarme social passou a medo, e o medo alimentado pelo constante fastio sem nexo da comunicação social, transformou-se em pânico.
Estou farto da política e das notícias sobre a política, mas sobretudo dos políticos. Estou farto e mais do que farto. Mostrar-me-ei mais sagaz e atento se de cada notícia, cada novo desaforo de impropérios fizer minudência de interesse desmedido?
A esses amorfos poios destiladores de pus, que dizem governar Portugal, sua pandilha de acólitos mal-formados, e aos seus manda-chuvas teutónicos, mando-os a todos à bardamerda, e que por lá fiquem para sempre, pois nutro mais respeito pelo cotão do meu umbigo do que por este ramalhete de patifes unidos pelo conluio da desgraça alheia. Ponto final, parágrafo.
O que não compreendo, é a apatia do povo, a indolência de quem, desvirtuado diariamente pelo ânus, ainda alarga as bochechas para outras rondas. É o medo que nos governa agora. Mas não o medo do desemprego, da destituição, da miséria. Medo sim, da privação de coisas boas, da supressão dos festivais e romarias, do encerramento das boas estradas sem portagens e dos comboios rápidos que param em cidades fantasmas. Medo da demissão da dignidade de sermos gabarolas e artilheiros da costa. Medo que a época balnear não comece, e que o Rock in Rio termine, medo da falta de maneiras e dicção iguais à do Passos Coelho, medo que os submarinos não funcionem por falta de peças, que o Cavaco não ganhe as eleições, e que nos saia na rifa um presidente poeta de boina de esguelha. Medo de achincalhar-mos a selecção por tudo e por nada, e de termos um Português que é rei do Futebol, em Espanha.
Temos medo. Só isso explica o estado a que chegamos. Sobe o IVA, o IRS, o IRC e o povo encolhe-se. Nas empresas e obras públicas escoam-se os milhões que bufamos em grossas baforadas das bochechas em ferida, e o povo agacha-se. Governo e Oposição, brindam de copo cheio ao triunfo dos acordos pela austeridade, e o povo ufano, sorri pela anuência da concórdia, e mostra em sondagens, estar disposto a sorrir por mais tempo ao som da mesma música. Estaremos todos loucos? É o medo que nos contrai, que nos domina, que nos escraviza. As notícias proliferam, os blogues debatem, analistas opinam, especialistas determinam, comentadores intuem, e o povo abana a cabeça, já sem bem saber se para os lados ou para a frente.
Mudamos a ortografia mas formamos os compadrios, dispensamos o excesso de polícias, o excesso de centros de saúde, os excessos com a cultura, com a justiça, com a dignidade humana. Aumentamos os ministérios, os sub-secretariados, as entidades reguladoras, a ASAE, os negócios obscuros, e as discussões à porta fechada. O medo do inadequado e do fosso já profundo das classes, tornou-se doença universal, mas em nós, em particular, parece ter sofrido mutações que interferem a nível do raciocínio lógico. Que outra razão existirá para o povo não estar nas ruas a exigir a sua parcela de felicidade? As agências de rating? Esses proxenetas chantagistas? É por eles que o povo tudo acata e fala baixinho nos desabafos dos cafés e dos blogues? E quem são eles, alguém sabe?
Marcam-se greves, propõem-se moções de censura, arrematam-se comissões de inquérito por toma lá dá cá; O Culpado? Fica para a próxima. O presidente contrafeito, lá esgalha um promulgar enviesado, as eleições estão à porta, e o povo assiste. Vem o Papa e todos jubilam? Comemora-se o Santo António antecipado em Lisboa, o povo exulta. Venha o Mundial que já se faz tarde, e o povo agradece. Se é tudo por dá cá uma palha, que se reforme a constituição, que parece ser tão fácil de contornar, e recomece-se o ciclo de novo.
Foi-se a Monarquia, veio a República. Mais trapalhadas e parvalheiras, veio a ditadura para tudo e todos purgar, doía na pele, e tentamos a liberdade da Democracia. Demasiado insípida, juntámo-nos ao Capitalismo desenfreado e tornámo-nos mendigos. Conclusão: Acabe-se com a República e façam um despacho imediato para tornar Rei o Engº. Sócrates, e que seja tudo pelo bem estar da Nação.
Estou farto de política, de políticos, de blogues, do povo, da Europa e da merda deste país tão irritantemente grandioso que à força de tanto medo ter, um destes dias ainda acaba por ser engolido inteiro por qualquer boca mais ávida que por aí circule. Talvez fale espanhol, talvez alemão, talvez até desenrasque uma mistura dos dois, e o elejam de novo para governador de Portugal. O certo é que enquanto o medo nos acovardar a razão, não nos livramos destes pulhas.
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Comentarios
:)
Gostei de ler a sua critica Neomiro, de facto parece q se esta mergulhado num estado vegetativo de dormência qualquer...
Mas tal como o cotão que mora no seu umbigo merece respeito, muitos ha que, com ou sem cotão se centrem no seu proprio e têm medo de descobrir que ha um mundo alem-umbigos...
A corrupção dos outros incomoda-nos e choca-nos mas se for a nossa já não é assim tão grave... É mau os "jobs for the boys" mas se for um amigo nosso a meter uma cunha por nós já nos parece desculpável. e até muito boa ideia..
A verdade é que a mudança começa connosco e não com os outros, mas os outros têm sempre mais culpa, porque nós temos sempre uma boa desculpa...
Enfim...
Fica um beijinho em si!
Inês
Estou Farto
Estou bem ciente daquilo que me diz Inês, mas não estou de braços cruzados a desabafar apenas, vou cumprindo o papel que a todos nos cabe, como bem diz, mas lembro-me das palavras do Chico Buarque: "..Como é difícil acordar calado..", e bem, enfim como afirma, não posso fazê-lo em silêncio! Pois essa atitude é que me parece indesculpável.
P.S. - O meu umbigo até nem tem cotão, a minha cabeça por vezes, é que parece que sim. Obrigado pelo seu comentário.
:)
Agora fez-me rir! AhAhAh!!!
Ainda bem q não tem
Beijinho em si!
;)
Inês Dunas
O triste é que a situação não
O triste é que a situação não eh muito diferente aqui no brasil, soh as siglas que mudam.
E talvez seja assim em toda américa latina, europa, em todo o mundo.
Eu acredito no poder das palavras e também sei que, como dizia lucio maia, 'quem só fala, por mais que diga, é esquecido quando cala.'
Gostei da visceralidade de teu texo, senti tua agonia, me enxerguei nela. Talvez seja necessário conhecer o gosto dessa agonia para entender suas palavras. A ação é importante, mas aliada as palavras tem o poder de convencer outras pessoas em juntarem-se a essa ação.
att.
Obrigado Lucia pelas suas
Obrigado Lucia pelas suas palavras.