Quem, por contraste, sou

Busco uma qualquer inspiração
Percorro becos de palavras sem saída
Será que está vazio meu coração?
Será que estando bem não sou canção?
O hábito subtraíu-me a vida
Agora que sou uma adaptação.

Oponho o polegar aos restantes
Homem sou, por definição apenas
Meus descontentamentos triunfantes
Tornam-me igual ao que era dantes
Numa vida sem telas nem poemas
Outrora doces dias fulgurantes.

Sou roda que não faz girar o mundo
Movido por motriz igual a mim
Prudente, pouco mais que moribundo
Castrado do meu sentir profundo
Arrependido de me ter tornado assim,
Saudoso de um passado fecundo.

Admito que não vivo de poemas
Nem de telas constituo meu sustento
De que cor pinto uma tela sem alento?
Mas que grita o homem sem problemas?
Rezo para que seja um momento
E que cedo regressem meus dilemas.

Começo por tirar meus sapatinhos,
Minhas meias de lã irei rasgar
Vou fazer gigantes meus moinhos
Vou fazer dos ventos remoinhos
A minha Dulcineia resgatar
Vou atirar a bola p’ro vizinho.

Sair deste lugar prazenteiro
Procurar inspiração na chuva
E fazer deste dia, um ano inteiro
Vou fazer do frio a minha luva
Vou substituir água por uva
Como se o dia fosse último e primeiro.

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Sábado, Diciembre 27, 2008 - 11:51

Poesia :

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Conchinha

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Comentarios

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Re: Quem, por contraste, sou

Um poema com arte, razão e sentimento!!!

:-)

Imagen de MariaSousa

Re: Quem, por contraste, sou

Um dos teus melhores poemas que já li.

Bem escrito e com um sentido muito real do rumo que se quer seguir.

Bjs

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Re: Quem, por contraste, sou

Obrigado pela força, Maria.
Bjo

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Re: Quem, por contraste, sou

"O escritor é um homem que mais do que qualquer outro tem dificuldade para escrever."
(Thomas Mann)

Excelente escrito.

Imagen de Conchinha

Re: Quem, por contraste, sou

Obrigado, Gothicum.

Imagen de Anonymous

Re: Quem, por contraste, sou

todos os dias devem ser vividos como se fossem o último, o prazer da vida é mto mais intenso...
gostei mto deste teu poema.
bj

breizh

Imagen de Conchinha

Re: Quem, por contraste, sou

Obrigado, Breizh!
Acontece que viver sempre como se do último dia se tratasse causa problemas.
Às vezes a vida corre melhor se "engrenarmos com os restantes", mas acaba-se por ficar amorfo.
Foi essencialmente isso que quis retratar, por ser um dilema com que luto actualmente.
Bjs

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