CONCURSOS:

Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia?  Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.

 

Á beira-mar

O CREPUSCULO

Oh! vem Maria! sobre a rocha erguida
Em asp'ra costa, sobranceira ao mar,
Vamos sósinhos ver as brancas ondas
Sobre os rochedos, em cachões, saltar!

Alli, bem juntos, ao cahir da tarde,
De mãos trocadas a fallar de amor,
Quero, ao contar-te mil segredos d'alma,
Ver-te nas faces virginal pudôr.

É proprio o sitio, é propicia a hora,
Incerta, dubia entre sombra e luz;
Já descem trevas pelos fundos valles,
Inda algum brilho sobre o mar reluz:

Inda no dorso das inquietas ondas
Dourada fita tremeluz, além;
Mas, já ao longe, da campina os viços,
Envolvem sombras que dos montes vêm.

Gigante immenso de esplendor e brilho,
O sol, um instante, viu-se alli nutar;
Depois cançado, declinando rapido
A lassa fronte repousou no mar.

Semelha ao entrar-lhe pelo seio tumido,
Que de mil fógos inda foi tingir,
Medalha de ouro, que em caldeira immensa,
A pouco e pouco visse alguem fundir.

Em tanto a sombra vae descendo os montes
E envolve as terras mysterioso véo;
Já se divisa, vergonhosa e timida,
Pallida estrella tremular no céo:

Como em teu seio, pura virgem, nasce
Ligeira magoa de fugaz pezar,
Que vae crescendo, e transmudada em lagrimas
Te vem dos olhos nos crystaes brilhar:

Como nos brota dentro de alma, e lavra
A pouco e pouco no veloz crescer,
Algum affecto que em paixão tornado
Nos vem no peito com fulgor arder:

Assim da estrella nasce o brilho, e cresce
A pouco e pouco pelo céo de anil;
Ponto luzente, no começo apenas,
Por fim brilhante, entre saphiras mil.

Soidão callada pela terra alarga-se
Preludio augusto da nocturna voz;
Em doce enlevo, scisma o homem statico
Em Deus, comsigo meditando a sós.

Hora saudosa de incerteza mystica,
De lucta harmonica entre sombra e luz.
Por ti nos desce sobre o seio ardente
A santa crença que p'ra Deus conduz!

Hora em que é grato no regaço amigo
De alguma esperança de melhor porvir,
Olvidar magoas de um presente incerto,
E, esp'rando, e crendo, n'essa fé dormir.

Em que amor gera dentro de alma os laços
Que as almas ligam com estreito nó,
E que no arroubo de amoroso rapto
Funde dois sêres n'uma vida só.

E eu tambem quero sentir n'alma os intimos
Celestes gosos que esta hora tem;
Em livro aberto lêr um nome augusto
Que em lettras de ouro vejo escripto além.

E no regaço da mulher amada,
Que é minha esp'rança de melhor porvir,
Quero estas magoas ir depôr e apenas
Guardar um peito para amor sentir.

E antes que as terras illuminem fógos,
Com a luz divina que o Senhor lhe deu;
E antes que morram esses brilhos ultimos
Do sol nas dobras do nocturno véo;

Quero ao soido gemedor das ondas
Casar as magoas d'este immenso amor,
Ardente e puro, como aquelles lumes
Candentes fócos de vivaz fulgor.

Quero nas horas do crepusculo ameno
Sobre o rochedo sobranceiro ao mar,
Aos pés da virgem que escolheu minha alma
Ler-lhe nos olhos confissões sem par.

Figueira da Foz, 1860.

Submited by

sábado, abril 11, 2009 - 17:10

Poesia Consagrada :

No votes yet

AnterodeQuental

imagem de AnterodeQuental
Offline
Título: Membro
Última vez online: há 13 anos 19 semanas
Membro desde: 04/11/2009
Conteúdos:
Pontos: 360

Add comment

Se logue para poder enviar comentários

other contents of AnterodeQuental

Tópico Título Respostas Views Last Postícone de ordenação Língua
Fotos/ - Antero de Quental 0 1.349 11/23/2010 - 23:37 Português
Poesia Consagrada/Geral Desalento-Conforto 0 866 11/19/2010 - 15:51 Português
Poesia Consagrada/Geral A Pyramide no deserto 0 933 11/19/2010 - 15:51 Português
Poesia Consagrada/Geral Á beira-mar 0 1.090 11/19/2010 - 15:51 Português
Poesia Consagrada/Geral E a graça do Senhor virá sobre elles 0 868 11/19/2010 - 15:51 Português
Poesia Consagrada/Geral Glosa camoniana 0 1.062 11/19/2010 - 15:51 Português
Poesia Consagrada/Geral Na Sepultura de Zara 0 1.072 11/19/2010 - 15:51 Português
Poesia Consagrada/Geral Epigramma transcendental 0 1.022 11/19/2010 - 15:51 Português
Poesia Consagrada/Geral Serenata 0 1.133 11/19/2010 - 15:51 Português
Poesia Consagrada/Geral Guitarrilha de Satan 0 1.080 11/19/2010 - 15:51 Português
Poesia Consagrada/Geral Á Italia 0 841 11/19/2010 - 15:51 Português
Poesia Consagrada/Geral Gargalhadas 0 881 11/19/2010 - 15:51 Português
Poesia Consagrada/Geral Amor de filha 0 932 11/19/2010 - 15:51 Português
Poesia Consagrada/Geral Sarcasmos 0 754 11/19/2010 - 15:51 Português
Poesia Consagrada/Soneto Nihil 0 1.640 11/19/2010 - 15:51 Português
Poesia Consagrada/Geral Sinite parvulos ad me venire 0 929 11/19/2010 - 15:51 Português
Poesia Consagrada/Geral Na primeira pagina do Inferno de Dante 0 955 11/19/2010 - 15:51 Português
Poesia Consagrada/Geral A senda do Calvario 0 1.061 11/19/2010 - 15:51 Português
Poesia Consagrada/Soneto Com os Mortos 0 1.804 11/19/2010 - 15:51 Português
Poesia Consagrada/Soneto Oceano Nox 0 1.764 11/19/2010 - 15:51 Português
Poesia Consagrada/Soneto Comunhão 0 1.531 11/19/2010 - 15:51 Português
Poesia Consagrada/Soneto Solemnia Verba 0 1.774 11/19/2010 - 15:51 Português
Poesia Consagrada/Soneto O que diz a morte 0 1.761 11/19/2010 - 15:51 Português
Poesia Consagrada/Soneto Na mão de Deus 0 1.433 11/19/2010 - 15:51 Português
Poesia Consagrada/Geral Fiat Lux! 0 941 11/19/2010 - 15:51 Português