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APÓLOGOS XX

20

O tigre e a doninha

Pezou sempre o beneficio
Porque a vaidade offendeu,
Principalmente se um grande
De um pequeno o recebeu.

Lembra-me agora uma historia
Succedida entre animaes,
Uma historia, que se applica
Bellamente aos racionaes:

Ia um tigre muito ufano,
Fiado na garra, e preza,
Crendo que a tudo excedia
No reino da natureza.

D'esta idéa hallucinado
Incauta planta foi pôr
Em perfida rêde armada
Por experto caçador.

Preso, lucta sem proveito,
Tenta em vão desenlear-se,
Lida, revolve-se o bruto,
E o que faz é apertar-se.

Estancando-se-lhe as forças,
Perdida emfim a esp'rança,
Céssa, e do peito raivoso
Horrendos bramidos lança.

Ao tempo que elle arquejava,
Por aquelle sitio vinha
Demandando agrestes fructos
A leve, experta doninha.

Extremece, ouvindo o monstro
Envolto na rêde urrar;
Foge, porém curiosa
Põe-se de longe a olhar.

O tigre, que a vê, que sabe
Quanto é versada em roer,
Despe a soberba, e lhe roga
Que o venha ali soccorrer.

Tanto adoça o tom pezado
Da rude, extrondosa voz,
Que segura a desprendel-o
Parte a doninha veloz.

Affinca o subtil dentinho
No tenaz, urdido laço;
Roe aqui, roe acolá,
E o desfaz em breve espaço.

Livre das prisões apenas
A fera ingrata, e medonha,
Do que deve ao pequenino
Fraco animal se envergonha:

E acceza em feroz orgulho,
Carregando-se na fronte
(Com receio de que a triste
O caso nas selvas conte)

Deita-lhe a garra damnosa,
A debil vida lhe extráe. . .
Ninguem acuda ao malvado,
Se no precipicio cáe.

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domingo, outubro 11, 2009 - 16:43

Poesia Consagrada :

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Bocage

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