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APÓLOGOS XXVIII

28

O rouxinol, o cuco e o burro

Um cuco e um rouxinol
Tiveram grave disputa
Sobre quem melhor cantava,
Qual tinha voz mais arguta.

Junto das aves o bando,
Todas ellas mui picadas,
Fizeram que se calasse
O basofio com risadas.

Elle, pois, injuriado
«Apostem (diz) ou se calem;
E para se convencerem
Ambos ouçam, logo fallem.»

O partido era prudente,
E conforme á sã razão;
Nenhum outro poderia
Melhor solver a questão.

Um juiz foi necessario
A pró de todos eleito;
Entre os burros vão buscal-o,
Dos burros o mais perfeito.

Obteve o cantor dos bosques
No cantar a primazia,
E soltando a voz do peito
Mil requebros repetia.

Depois que atroou os ares
Alumno digno de Orphêo,
Parou, e logo o logar
Ao seu contrario cedeu.

Começa o cuco a cantar
Seu «cuco» que mais não diz,
Esp'rando por fim a palma
Alcançar do seu juiz.

Feita a prova, o burro então
Esta sentença profere:
«E' melhor cantar o cuco,
A philomela prefere.»

Da fabula o documento
Mostra bem que as decisões
Quasi sempre assim são dadas
Por juristas asneirões.

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domingo, outubro 11, 2009 - 17:01

Poesia Consagrada :

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Bocage

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