CONCURSOS:

Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia?  Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.

 

Arte Poética - Capítulo XVI

Das quatro espécies de reconhecimento

Dissemos acima o que vem a ser o reconhecimento. Das espécies de reconhecimento, a primeira, a mais desprovida de habilidade e a mais usada à falta de melhor, é o reconhecimento por meio de sinais exteriores.

2. Entre estes sinais, uns são devidos à natureza, como "a lança que se vê sobre os Filhos da Terra", ou as estrelas do Tiestes de Cárcino;<1>

3. outros sinais são adquiridos, dos quais uns aderem ao corpo, como as cicatrizes, e outros não fazem parte dele, como os colares ou a cestinha-berço no Tiro.

4. Há duas maneiras, uma melhor e outra pior, de utilizar estes sinais; por exemplo, a cicatriz de Ulisses tornou possível que fosse reconhecido pela ama de uma forma, e de outra pelos porqueiros.

5. Os reconhecimentos, operados pela confiança que o sinal deve gerar, bem como todos os do mesmo tipo, não denotam grande habilidade; são preferíveis os que provêm de uma peripécia, como no Canto do Banho.

6. A segunda espécie é a devida à inventiva do poeta, e por tal motivo não é artística; assim, Orestes, na Ifigênia, faz-se reconhecer declarando ser Orestes, e Ifigênia, graças à carta; mas Orestes declara aquilo que o poeta, e não a fábula, quer que ele declare.

7. Este meio é vizinho daquele que declarei defeituoso, pois Orestes podia ter apresentado alguns sinais sobre si. O mesmo se diga da voz da lançadeira no Tereu de Sófocles.

8. A terceira espécie consiste na lembrança; por exemplo, a vista de um objeto evoca uma sensação anterior, como nos Ciprios de Diceógenes, onde a vista de um quadro arranca lágrimas a uma personagem; do mesmo modo, na narrativa feita a Alcino, Ulisses, ao ouvir o citarista, recorda-se e chora. Foi assim que os reconheceram.

9. Em quarto lugar, há o reconhecimento proveniente de um silogismo, como nas Coéforas:<2> apresentou-se um desconhecido que se parece comigo, ora, ninguém se parece comigo senão Orestes, logo, quem veio foi Orestes. Idêntico é o reconhecimento inventado pelo sofista Políido,<3> a propósito de Ifigênia, por ser verossímil que Orestes, sabendo que sua irmã tinha sido sacrificada, pensasse que também ele o seria. Outro exemplo é o de Tideu de Teodectes,<4> o qual, tendo vindo com a esperança de salvar o filho, ele próprio foi morto. Outro exemplo, finalmente, aparece nas Fineidas,<5> onde as mulheres ao verem o lugar em que chegaram, raciocinaram sobre a sorte que as aguardava: aquele fora o lugar pelo destino designado para morrerem, pois ali foram expostas.

10. O reconhecimento pode igualmente basear-se num paralogismo por parte dos espectadores, como se vê na peça Ulisses, falso mensageiro; a personagem acha-se capaz de reconhecer o arco, que na realidade não vira; a afirmação de que poderá reconhecer o arco é a base do paralogismo dos espectadores.

11. De todos estes meios de reconhecimento, o melhor é o que deriva dos próprios acontecimentos, pois o efeito de surpresa é então causado de maneira racional, por exemplo, no Édipo de Sófocles e na Ifigênia; pois é verossímil que Ifigênia quisesse entregar uma carta. Estas espécies de reconhecimento são as únicas que dispensam sinais imaginados e colares.

12. Em segundo lugar vêm todos os que estribam num raciocínio.

Notas

1. ↑ Cárcino de Atenas, poeta trágico (século IV a.C.).
2. ↑ Coéforas é a segunda obra de uma trilogia escrita por Ésquilo (séc. VI/V a.C.). A primeira peça é Agamenon, a segunda chama-se Oréstia e a terceira Eumênides.
3. ↑ Parece que este Políido é o mesmo Políido pintor, músico e poeta ditirâmbico que viveu no século IV ou final do século V.
4. ↑ Teodectes de Fasélis foi poeta trágico e orador. Viveu no século IV a.C. Seus personagens agiam e discursavam em tribunais.
5. ↑ As Fineidas dizem respeito aos filhos de Fineu, rei da Trácia, que deu ouvidos ao vitupério de sua segunda esposa e mandou vazar os olhos dos filhos de seu primeiro matrimônio.

Submited by

domingo, abril 12, 2009 - 01:18

Poesia Consagrada :

No votes yet

Aristoteles

imagem de Aristoteles
Offline
Título: Membro
Última vez online: há 13 anos 22 semanas
Membro desde: 04/12/2009
Conteúdos:
Pontos: 243

Add comment

Se logue para poder enviar comentários

other contents of Aristoteles

Tópico Título Respostas Views Last Postícone de ordenação Língua
Poesia Consagrada/Aforismo Aristotle Aphorisms : A friend to all is ... 0 1.903 05/22/2011 - 23:57 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Aristotle Aphorisms : In nine cases out of ten ... 0 1.498 05/22/2011 - 23:56 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Aristotle Aphorisms : It is the mark of an educated mind ... 0 1.555 05/22/2011 - 23:56 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Aristotle Aphorisms : Anybody can become angry ... 0 1.822 05/22/2011 - 23:55 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Aristotle Aphorisms : Personal beauty is ... 0 1.689 05/22/2011 - 23:54 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Aristotle Aphorisms : All human actions have one or ... 0 1.876 05/22/2011 - 23:54 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Aristotle Aphorisms : At his best, man is ... 0 1.749 05/22/2011 - 23:53 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Aristotle Aphorisms : Nature does ... 0 2.165 05/22/2011 - 23:52 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Aristotle Aphorisms : Republics decline into democracies and ... 0 1.940 05/22/2011 - 23:51 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Aristotle Aphorisms : No one loves ... 0 1.872 05/22/2011 - 23:51 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Aristotle Aphorisms : Misfortune shows ... 0 1.694 05/22/2011 - 23:49 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Aristotle Aphorisms : The aim of the wise is ... 0 2.114 05/22/2011 - 23:49 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Aristotle Aphorisms : The state is ... 0 1.746 05/22/2011 - 23:48 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Aristotle Aphorisms: The soul never thinks ... 0 1.952 05/22/2011 - 23:47 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Aristotle Aphorisms: Wit is ... 0 1.817 05/22/2011 - 23:46 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Aristotle Aphorisms: To know what to ask is ... 0 1.698 05/22/2011 - 23:46 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Aristotle Aphorisms: He who is unable to live in society ... 0 1.839 05/22/2011 - 23:45 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Aristotle Aphorisms: The law is reason ... 0 1.534 05/22/2011 - 23:44 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Aristotle Aphorisms: The secret to humor is ... 0 1.945 05/22/2011 - 23:43 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Aristotle Aphorisms: Man is by nature a ... 0 1.561 05/22/2011 - 23:43 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Aristotle Aphorisms: All paid jobs ... 0 1.685 05/22/2011 - 23:42 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Aristotle Aphorisms: We are what we repeatedly do ... 0 1.658 05/22/2011 - 23:41 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Aristotle Aphorisms: I count him braver who overcomes his desires than ... 0 1.453 05/22/2011 - 23:40 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Aristotle Aphorisms: A common danger unites ... 0 1.526 05/22/2011 - 23:39 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Aristotle Aphorisms: Teaching is ... 0 1.975 05/22/2011 - 23:38 inglês