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ELOGIOS XVIII

18

Ao publico, em nome de um actor
no dia do seu beneficio

(Recitado no Theatro de...)

Musa de altas paixões não vem na scena
Aos olhos franquear sanguineo quadro;
Hoje as furias d'Amor punhaes não vibram,
Nem vérte surda morte em peito incauto
Co'a dextra da traição lethaes venenos:
Não tendes que temer, almas sensiveis,
Agra impressão de lugubres affectos:
Não, não vereis o parricidio negro,
Com serpes na melena, e serpes n'alma,
Todo o inferno embeber no insano Orestes;
Não, não vereis phrenetico ciume
No silencio, nas trevas ululando,
Nivea belleza em flôr murchar sem mágoa,
Encantos divinaes sumir ao mundo,
Gesto mimoso, de innocencia ornado,
Olhos, e labios, que chorando, e rindo
Dôce tumulto nos sentidos movem;
Trança de anneis subtis, brincando em ondas,
Cólo de amores, halito de rosas
Zaira não soltará nas mãos do amante
Entre os ais de ternura os ais da morte:
Não ha de enternecer-se, arripiar-se
A mente, e o coração na dôr de Elaire,
Na sanha de Orosman, de Atrêo na taça.

Surge á scena espectaculo attractivo,
Em que Amor com Virtude, em nó suave,
Os costumes abrande, ameigue a vida.
Notarás outra vez, congresso illustre,
Congresso bemfeitor, por quem mil vezes
Agros destinos meus se tornam dôces,
Outra vez notarás o puro exemplo
Dos muitos, que exercitas, dons sublimes;
Verás, desaggravando a Natureza,
Facticia condição não dar virtudes,
O caracter moral não vir da sorte,
E o genio dos heróes luzir nos servos:
Em quanto pavonêa inflado orgulho,
Cevando de illusões a idéa esteril,
Todo ufano de si, talvez de nada,
E os olhos de travez lançando apenas
Aos que em somenos gráo quiz pôr Ventura;
Porque nescio confunde os gráos, e as almas.

Generosa nação, que não confundes
O que deu Natureza, e deram Fados:
Oh patria, que hoje em mim teus dons semêas,
Acolhe, escuta com silencio honroso
Os exforcos de actor submisso, e grato,
A quem renovam descaído alento
Louvor, e amparo, de prodigios fonte.
O prestimo é dever sagrar-se á patria,
O que valho, o que sou jurei sagrar-lhe:
(Se pouco valho, e sou, dar mais não posso).
Do publico favor medrando á sombra,
O pio sentimento em mim se arreiga:
No merito não lógro o jus da gloria,
Porém meu coração de vós é digno:
Immutavel comvosco, eterna, immensa,
A minha gratidão será meu fado.

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domingo, outubro 18, 2009 - 21:42

Poesia Consagrada :

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Bocage

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