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A Escrava Isaura – Capitulo XII

Agora os leitores já sabem, se é que há mais tempo não adivinharam, que a suposta Elvira não é mais do que a escrava Isaura, assim como Anselmo não passa do feitor Miguel, ambos os quais são já nossos conhecidos antigos. Como também sabem que Isaura não só era dotada de espírito superior, como também recebera a mais fina e esmerada educação, não lhe estranharam a distinção das maneiras, a elegância e elevação da linguagem, e outros dotes, que faziam com que essa escrava excepcional pudesse aparecer e mesmo brilhar no meio da mais luzida e aristocrática sociedade.

Foi a situação desesperada, em que via sua querida filha, que inspirou a Miguel o expediente extremo de uma fuga precipitada, exposta a mil azares e perigos. Lembrava-se ele com horror do miserando destino de que em iguais circunstâncias fora vítima a mãe de Isaura, e bem sabia que Leôncio, tão desalmado como o pai, e ainda mais corrupto e libertino, era capaz de excessos e atentados ainda maiores.

Tendo perdido a esperança de libertar a filha, entendeu que podia utilizar-se da soma, que para esse fim tinha agenciado, empregando-a em arrancar a pobre vitima das mãos do algoz, por qualquer meio que fosse.

Bem via que aos olhos do mundo tirar uma escrava da casa de seus senhores, e proteger-lhe a fuga, além de ser um crime, era um ato desairoso e indigno de um homem de bem; mas a escrava era uma filha idolatrada, e uma pérola de pureza, prestes a ser poluída ou esmagada pela mão de um senhor verdugo, e esta consideração o justificava aos olhos da própria consciência.

Bem se lembrara o infeliz pai de dar denúncia do fato às autoridades, implorando a proteção das leis em favor de sua filha para que não fosse vitima das violências e sevícias de seu dissoluto e brutal senhor. Mas todos a quem consultava respondiam-lhe a uma voz:

— Não se meta em tal; é tempo perdido. As autoridades nada têm que ver com o que se passa no interior da casa dos ricos. Não caia nessa; muito feliz será, se somente tiver de pagar as custas, e não lhe arrumarem por cima algum processo, com que tenha de ir dar com os costados na cadeia. — Onde se viu o pobre ter razão contra o rico, o fraco contra o forte?...

Miguel entretinha relações ocultas com alguns dos antigos escravos da fazenda de Leôncio, os quais, lembrando-se ainda com saudades do tempo de sua boa administração, conservavam-lhe o mesmo respeito e afeição, e por meio deles tinha exata informação do que se passava na fazenda. Sabendo dos cruéis apuros a que sua filha se achava reduzida depois da morte do comendador, não hesitou mais um instante, e tratou de tomar todas as providências e medidas de segurança para roubar a filha, e pô-la fora do alcance de seu bárbaro senhor. Na mesma madrugada, que seguiu-se à tarde, em que a raptou, fazia-se de vela com Isaura para as províncias do Norte em um navio negreiro, de que era capitão um português, antigo e dedicado amigo seu. Este chegando às alturas de Pernambuco, como daí tinha de singrar para a costa da África, largou-os no Recife, prometendo-lhes que dentro em três ou quatro meses estaria de volta e pronto a conduzi-los para onde quisessem.

Miguel que em sua profissão de jardineiro ou de feitor havia passado a vida desde a infância dentro de um horizonte acanhado e em círculo mui limitado de relaçóes, tinha pouco conhecimento e nenhuma experiência do mundo, e portanto não podia calcular todas as conseqüências da difícil posição em que ia colocar a si e a sua filha. Durante os longos anos que esteve feitorando a fazenda do comendador e de outros, não se dera senão uma ou outra fuga insignificante de escravos, por alguns dias e para alguma fazenda vizinha, e, portanto, não é para admirar que ele quase completamente ignorasse a amplitude dos direitos, que tem um senhor sobre o escravo, e os infinitos meios e recursos de que pode lançar mão para capturá-los em caso de fuga. Entendeu, pois, que em Pernambuco poderia viver com sua filha em plena seguridade, ao menos por três ou quatro meses, uma vez que se afastassem da sociedade o mais que pudessem, e procurassem esconder sua vida na mais completa obscuridade.

Isaura também, se bem que tivesse o espírito mais atilado e esclarecido, longe do objeto principal de seu terror e aversão, não deixava de sentir-se tranqüila, e até certo ponto descuidosa dos perigos a que vivia exposta. Mas essa tal ou qual tranquilidade só durou até o dia em que pela primeira vez viu Álvaro. Amou-o com esse amor exaltado das almas elevadas, que amam pela primeira e única vez, e esse amor, como bem se compreende, veio tornar ainda mais crítica e angustiosa a sua já tão precária e mísera situação.

Alvaro tinha na fisionomia, nas maneiras, na voz e no gesto, um não sei quê de nobre, de amável e profundamente simpático, que avassalava todos os corações. O que não seria ele para aquela que única até ali lhe soubera conquistar o amor? Isaura não pôde resistir a tão prestigiosa sedução; amou-o com o ardor e entusiasmo de um coração virgem; e com a imprevidência e cegueira de uma alma de artista, embora não visse nesse amor mais do que uma nova fonte de lágrimas e torturas para seu coração.

Medindo o abismo que a separava de Álvaro, bem sabia que de nenhuma esperança podia alimentar-se aquela paixão funesta, que deveria ficar para sempre sepultada no íntimo do coração, como um cancro a devorá-lo eternamente.

No seu cálice de amarguras, já quase a transbordar, tinha de receber da mão do destino mais aquele travo cruel, que lhe devia queimar os lábios e envenenar-lhe a existência.

Já bastante lhe pesava andar enganando a sociedade a respeito de sua verdadeira condição; alma sincera e escrupulosa, envergonhava-se consigo mesma de impor às poucas pessoas que com ela tratavam de perto, um respeito e consideração a que nenhum direito podia ter. Mas considerando que de tal disfarce nenhum grande mal podia resultar à sociedade, conformava-se com sua sorte. Deveria, porém, ela, ou poderia sem inconveniente manter o seu amante na mesma ilusão? Com seu silêncio, conservando-o na ignorância de sua condição de escrava, deveria deixar alimentar-se, crescer profunda e enérgica paixão, que o moço por ela concebera?... não seria isto um vil embuste, uma indignidade, uma traição infame? não teria ele o direito, ao saber da verdade, de acabrunhá-la de amargas exprobrações, de desprezá-la, de calcá-la aos pés, de tratá-la enfim como escrava abjeta e vil, que ficaria sendo?

— Oh! isto para mim seria mais horrível que mil mortes! — exclamava ela no meio do angustioso embate de idéias que se lhe agitavam no espírito. — Não, não devo iludi-lo; isto seria uma infâmia... vou-lhe descobrir tudo; é esse o meu dever, e hei de cumpri-lo. Ficará sabendo que não pode, que não deve amar-me; porém ao menos não ficará com o direito de desprezar-me.. uma escrava, que procede com lisura e lealdade, pode ao menos ser estimada. Não; não devo enganá-lo; hei de revelar-lhe tudo.

Esta era a resolução que lhe inspiravam seu natural pundonor e lealdade, e os ditames de uma consciência reta e delicada, mas quando chegava o momento de pô-la em prática fraqueava-lhe o coração. e Isaura ia diferindo de dia para dia a execução de seu propósito.

Falecia-lhe de todo a coragem para quebrar por suas próprias mãos a doce quimera, que tão deliciosamente a embalava, e em que às vezes conseguia esquecer por longo tempo sua mísera condição, para lembrar-se somente que amava e era amada.

— Deixemos durar mais um dia — refletia consigo. — esta ilusória, mas inefável ventura. Sou uma condenada, que arrancam da masmorra para subir ao palco e fazer por momentos o papel de rainha feliz e poderosa; quando descer, serei de novo sepultada em minha masmorra para nunca mais sair. Prolonguemos estes instantes; náo será lícito deixar passar ao menos em sonhos uma hora de felicidade sobre a fronte do infeliz condenado?... sempre será tempo de quebrar esta frágil cadeia de ouro, que me prende ao céu, e baquear de novo no inferno de meus sofrimentos.

Nesta indecisão, nesta luta interna, em que sempre a voz da paixão abafava os ditames da razão e da consciência, passaram-se alguns dias até àquele, em que Alvaro os induziu por meios quase violentos a aceitarem convite para um baile. Desde então Isaura entendeu que seria uma deslealdade, uma infâmia inqualificável, conservar por mais tempo o seu amante na ilusão a respeito de sua condição, e que não havia mais meio de prolongar, sem desdouro para eles, tão falsa e precária situação.

Era muito abusar da ignorância do nobre e generoso mancebo!

Uma escrava fugida apresentar-se em um baile, e apavonar-se em seu braço à face da mais brilhante e distinta classe de uma importante capital!... era pagar com a mais feia ingratidão e a mais degradante deslealdade os serviços, que com tanta delicadeza e amabilidade lhe havia prestado. Isto repugnava absolutamente aos escrúpulos da melindrosa consciência de Isaura. É verdade que Miguel, aterrado pelas considerações que Álvaro lhe fizera, viu-se forçado a anuir ao seu gracioso convite; Isaura porém guardara absoluto silêncio, o que ambos tomaram por um sinal de aquiescência.

Enganavam-se. Isaura recolhida ao silêncio não fazia mais do que tentar esforços supremos para sacudir o fardo daquele disfarce, que tanto lhe pesava sobre a consciência, rasgando resolutamente o véu que encobria aos olhos do amante sua verdadeira condição. Por mais, porém, que invocasse toda a sua energia e resolução, no momento decisivo a coragem a abandonava. Já a palavra lhe pairava pelos lábios entreabertos, já tinha o passo formado para ir prostrar-se aos pés de Álvaro, mas encontrando pousado sobre ela o olhar meigo e apaixonado do mancebo, ficava como que fascinada; a palavra não ousava romper os lábios paralisados e refluía ao coração, e os pés recusavam-se ao movimento como se estivessem pregados no chão. Isaura estava como o desgraçado a quem circunstâncias fatais arrastam ao suicídio, mas que ao chegar à borda do precipício medonho em que deseja arrojar-se, recua espavorido.

— Fraca e covarde criatura que eu sou! — pensou ela por fim esmorecida: — que miséria! nem tenho coragem para cumprir um dever!

não importa; para tudo há remédio; cumpre que ele ouça da boca de meu pai, o que eu não tenho ânimo de dizer-lhe.

Esta idéia luziu-lhe no espírito como uma tábua salvadora; agarrou-se a ela com sofreguidão, e antes que de novo lhe fraqueasse o ânimo, tratou de pô-la em execução.

— Meu pai, — disse ela resolutamente apenas Álvaro transpôs o portão do pequeno jardim, — declaro-lhe que não vou a esse baile; não quero, nem devo por forma nenhuma lá me apresentar.

— Não vais?! — exclamou Miguel atônito. — E por que não disseste isto há mais tempo, quando o senhor Álvaro ainda aqui se achava? agora que já demos nossa palavra...

— Para tudo há remédio, meu pai, — atalhou a filha com febril vivacidade — e para este caso ele é bem simples. Vá meu pai depressa à casa desse moço, e diga-lhe o que eu não tive ânimo de dizer-lhe; declare-lhe quem eu sou, e está tudo acabado.

Dizendo isto, Isaura estava pálida, falava com precipitação, os lábios descarados lhe tremiam, e as palavras, proferidas com voz convulsa e estridente, parecia que lhe eram arrancadas a custo do coração. Era o resultado do extremo esforço que fazia, para levar a efeito tão penível resolução. O pai olhava para ela com assombro e consternação.

— Que estás a dizer, minha filha! — replicou-lhe ele — estás tão pálida e alterada!.. parece-me que tens febre... sofres alguma coisa?

— Nada sofro, meu pai; não se inquiete pela minha saúde. O que eu estou lhe dizendo é que é absolutamente necessário que meu pai vá procurar esse moço e confessar-lhe tudo...

— Isso nunca!... estás louca, menina?... queres que eu te veja encerrada em uma cadeia, conduzida em ferros para a tua província, entregue a teu senhor, e por fim ver-te morrer entre tormentos nas garras daquele monstro! oh! Isaura, por quem és, não me fales mais nisso, Enquanto o sangue me girar nestas veias, enquanto me restar o mais pequenino recurso, hei de lançar mão dele para te salvar...

— Salvar-me por meio de uma indignidade, de uma infâmia, meu pai!... retorquiu a moça com exaltação. — Como posso eu, sem cometer a mais vil deslealdade, aparecer apresentada por ele como uma senhora livre em uma sala de baile?... Quando esse senhor e tantas outras ilustres pessoas souberem que ombreou com elas, e a par delas dançou uma miserável escrava fugida...

— Cala-te, menina! — interrompeu o velho, incomodado com a exaltação da filha. — Não fales assim tão alto... tranqüiliza-te; eles nunca saberão de nada. O mais breve que puder ser deixaremos esta terra; amanhã mesmo, se for possível. Embarcaremos em qualquer paquete, e iremos para bem longe, para os Estados Unidos, por exemplo. Lá, segundo me consta, poderemos ficar fora do alcance de qualquer perseguição. Eu com o meu trabalho, e tu com as tuas prendas e habilitações, podemos viver sem sofrer necessidades em qualquer canto do mundo.

— Ah! meu pai! essa idéia de irmos para tão longe, sem esperança de um dia podermos voltar, me oprime o coração.

— Que remédio, minha filha!.., já agora, ainda que tenhamos de ir parar ao fim do mundo, nos é forçoso fugir às garras do monstro.

— Mas esse moço, que tanto se interessa por nós, o senhor Álvaro, nobre e generoso como é, sabendo da minha verdadeira condição, e das terríveis circunstâncias que nos obrigam a andar assim fugitivos e disfarçados pelo mundo, talvez queira e possa nos amparar e valer contra as perseguições...

— E quem nos afiança isso?... o mais certo é ele entregar-te ao desprezo, logo que saiba que não passas de uma escrava fugida, se, despeitado com o logro que levou, não for o primeiro a denunciar-te à polícia. No transe em que nos achamos, é de absoluta necessidade enganar a ele e a todos; se revelarmos a quem quer que seja o segredo de nossa posição, estamos perdidos. Toma coragem, e vamos ao baile, minha filha; é um sacrifício cruel, mas passageiro, a que devemos nos sujeitar a bem de nossa segurança. Em breve estaremos longe, e se algum dia souberem quem tu eras, que nos importa? nunca mais nos verão o rosto, nem ouvirão nossos nomes. Tens a consciência escrupulosa em demasia. Se ignoram quem tu és, a tua companhia em nada os pode infamar. Com isso não fazes mal a ninguém; é uma medida de salvação, que todos te perdoariam.

— Meu pai parece que tem razão; mas não sei por que, repugna-me absolutamente ao coração dar esse passo.

— Mas é preciso dá-lo, minha filha, se não queres para nós ambos a desgraça e a morte. Se não formos a esse baile, e desaparecermos de um dia para outro, como nos é forçoso, então as suspeitas que começamos a despertar tomarão muito maior vulto, e a policia pôr-se-á à nossa pista, e nos perseguirá por toda parte. É um sacrifício na verdade, mas não será ele muito mais suave do que as perseguições da polícia, a prisão, as torturas e a morte, que é o que podes esperar em casa de teu senhor?...

Isaura não respondeu; seu espírito agitava-se entre as mais pungentes e amargas reflexões.

As palavras de seu pai a tinham abismado em glacial e profundo desalento. Aturdida por tantos golpes, sua alma debatia-se em um mar de dúvidas e perplexidades, como frágil barca em meio de um oceano irritado, sacudida aos boléus por vagalhões desencontrados.

O grito de sua consciência escrupulosa e delicada, a lisura e sinceridade de seu coração, que não podia acomodar-se com o embuste e a mentira, e uma espécie de vago pressentimento que lhe pesava sobre o espírito, a desviavam daquele baile, e por momentos pareciam fixar definitivamente a sua resolução; e firme neste propósito dizia consigo mesma: — não, não irei.

Por outro lado as considerações de seu pai, que pareciam tão razoáveis, bem como o desejo de ver Álvaro ainda uma vez, de gozar por algumas horas a sua presença, faziam-lhe de novo flutuar o espírito no mar das irresoluções. A lembrança de que em breve, talvez no dia seguinte, tinha de deixar aquela terra e separar-se de Álvaro, sem esperança alguma de jamais tornar a vê-lo, sem poder dizer-lhe um adeus, sem que ele pudesse saber quem ela era, nem para onde ia, dilacerava-lhe o coração. Partir sem ter um ente a quem apertar nos braços na hora da despedida, nem ter um seio onde verter as lágrimas da mais pungente saudade; partir para levar uma vida errante e fugitiva, sem esperança nem consolação alguma, através de mil trabalhos e perigos, para terminá-la talvez entre os tormentos da mais atroz escravidão, oh!... isto era pavoroso! — e, entretanto, era esse o único futuro que a pobre Isaura tinha diante dos olhos. Mas não; tinha ainda diante de si uma noite inteira de prazer e de ventura, uma noite esplêndida de baile e regozijo de seu amante, respirando o mesmo ar, inebriando-se de sua voz, bebendo o seu hálito, recolhendo dentro d'alma seus olhares apaixonados, sentindo na sua a pressão daquela mão adorada, contando as pulsações daquele coração, que só por ela palpitava. Oh! uma noite assim valia bem uma eternidade, viessem depois embora as angústias e perigos, a escravidão e a morte!

Cândida e modesta como era, nem por isso Isaura deixava de ter consciência do quanto valia. Vendo-se o objeto do amor de um jovem de espírito elevado, e dotado de tão nobres e brilhantes qualidades como Álvaro, ainda mais se confirmou na idéia que de si mesma fazia.

Com sua natural perspicácia e penetração, bem depressa convenceu-se de que o afeto que o mancebo lhe consagrava não era simples e superficial homenagem rendida a seus encantos e talentos, nem tampouco passageiro capricho de mocidade, mas verdadeira paixão, sincera, enérgica e profunda. Era isso para ela motivo de um orgulho íntimo, que a elevava a seus próprios olhos, e por momentos a fazia esquecer-se que era uma escrava.

— Estou convencida de que sou digna do amor de Álvaro, senão, ele não me amaria; e se sou digna de seu amor, por que não o serei de me apresentar no seio da mais brilhante sociedade? A perversidade dos homens pode acaso destruir o que há de bom e de belo na feitura do Criador? Assim refletia Isaura, e exaltada com estas idéias e com a sedutora perspectiva de algumas horas de inefável ventura em companhia do amante exclamava dentro d'alma: — Hei de ir, hei de ir ao baile!

Enquanto Isaura, silenciosa e com a face na mão, se embebia em suas cismas, procurando firmar-se em uma resolução, o pai, não menos inquieto e preocupado, passeava distraído entre os canteiros do jardim, aguardando com ansiedade uma resposta definitiva de sua filha.

— Irei, meu pai, irei ao baile, — disse ela por fim levantando-se, mas vou preparar-me para ele como a vítima que tem de ser conduzida ao sacrifício entre cânticos e flores. Tenho um cruel pressentimento, que me acabrunha...

— Pressentimento de quê, Isaura?...

— Não sei, meu pai; de alguma desgraça.

— Pois quanto a mim, Isaura, o coração como que está-me adivinhando que de ir a esse baile resultará a nossa salvação.

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segunda-feira, abril 27, 2009 - 03:07

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