CONCURSOS:

Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia?  Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.

 

O Outro Canto do Baile

“Acabo de te olhar nos olhos, vida; vi reluzir ouro nos teus olhos noturnos, e essa volutuosidade paralisou-me o coração: vi brilhar uma barca dourada que se submergia em águas noturnas, uma barca dourada que se submergia e reaparecia fazendo sinais!

Tu dirigias um olhar aos meus pés, doidos por dançar, um olhar acariciador, terno, risonho e interrogador,

Duas vezes apenas agitaste com as mãos as tuas castanholas, e já os pés me pulavam, ébrios.

Os calcanhares erguiam-se; os dedos escutavam para te compreender; não tem o dançarino os ouvidos nos dedos dos pés?

Saltei ao teu encontro; tu retrocedeste ao meu impulso, e até a mim serpeava a tua voadora e fugidia cabeleira.

Num pulo me afastei de ti e das tuas serpentes: já tu te erguias com os olhos cheios de desejos.

Com lânguidos olhares me mostras sendas tortuosas; por tortuosas sendas aprende astúcias o meu pé.

Receio-te quando te aproximas, amo-te quando estás longe; a tua fuga atrai-me; as tuas diligências detêm-me. Sofro; mas, por ti, que não sofreria eu?

Ó! tu, cuja frialdade incendeia, cujo ódio seduz, cuja fuga prende, cujos enganos comovem!

Quem te não odiará, grande carcereira, sedutora, esquadrinhadora e descobridora! Quem te não amará, inocente, impaciente, arrebatadora pecadora de olhos infantis!

Aonde me arrastas agora, indômito prodígio? E já me tornas a fugir, doce esquiva, doce ingrata!

Dançando sigo as tuas menores pisadas. Onde estás? Dá-me a mão! Ou um dedo sequer!

Há por aí cavernas e bosques; extraviar-nos-emos. Pára! Detém-te! Não vês revoarem corujas e morcegos?

Eh! lá, coruja! Morcego! Quereis brincar comigo? Onde estamos? Com os cães aprendestes a uivar e a rosnar.

Mostravas-me graciosamente os brandos dentes, e os teus malvados olhos asseteavam-me por entre as frisadas madeixas.

Que correria por montes e vales! Eu sou o caçador; queres tu ser o meu cão?

Agora, a meu lado! e depressa, invejável solitária! Acima agora! Ó! Ao voltar, caí.

Olha como estou aqui estendido! Olha, altaneira, como imploro o teu socorro! Quereria continuar contigo... por caminhos mais agradáveis! pelos caminhos do amor, através de esmaltados bosques! ou pelos que marginam o lago, onde nadam e saltam dourados peixes!

Estás cansada, agora? Ali em baixo há ovelhas e vespertinos arrebóis. Não é tão bom adormecer ao som da flauta dos pastores?

Então, estás assim cansada? Vou-te levar lá; ao menos deixa pender os braços. E tens sede?... Poderia dar-te qualquer coisa... Mas a tua boca não quer beber.

Que maldita serpente esta! feiticeira fugidia, veloz e ágil. Aonde te meteste? Sinto na cara dois sinais da tua mão, dois sinais vermelhos!

Estou deveras farto de te seguir sempre como ingênuo cordeirinho! Feiticeira, até agora cantei para ti: agora, para mim deves tu... gritar!

Deves dançar e gritar ao compasso de meu látego!

Esquecê-lo-ia eu? Não!” II

Eis o que então respondeu a vida;, tapando os delicados ouvidos:

“Ó! Zaratustra! Não vibres tão espantosamente o látego! Bem sabes que o ruído assassina os pensamentos... e assaltam-me agora pensamentos tão ternos!

Nós não somos bons nem maus para nada! Além do bem e do mal encontrámos a nossa ilha e o nosso verde prado: só nos dois o encontrámos! Por isso nos devemos amar um ao outro!

E conquanto nos não amemos de todo o coração, será caso para nos enfadarmos? Enfadam-se as pessoas por não se amarem de todo o coração?

É que eu te amo, te amo muitas vezes com excesso, sabe-lo demais, a razão é que estou ciosa da tua sabedoria. Ah! que velha louca é a sabedoria!!

Se alguma vez a tua sabedoria te deixasse, também logo o meu amor te deixaria.”

Então a vida olhou pensativa para trás e em torno de si, e disse em voz baixa: “Ó! Zaratustra, não me és bastante fiel!

Ainda falta muito para me teres o amor que dizes; sei que pensas deixar-me breve.

Há um velho bordão pesado, pesadíssimo, que ressoa de noite até lá acima, à tua caverna; quando ouves esse sino dar a meia-noite, pensas — bem o sei, Zaratustra — pensas deixar-me breve!”

“Assim é — respondi titubeando; — mas tu também sabes...” E disse-lhe uma coisa ao ouvido, colado à sua emaranhada cabeleira, às suas douradas e revoltas madeixas.

“Tu sabes isso, Zaratustra? Ninguém sabe isso...

Olhamo-nos, e dirigimos o nosso olhar para o verde prado por onde corria a frescura da tarde, e choramos juntos. Mas então a vida era para mim mais cara do que jamais o foi toda a minha sabedoria”.

Assim falava Zaratustra. III

Uma!

Alerta, homem!

Duas!

Que diz a meia-noite profunda?

Três!

“Tenho dormido, tenho dormido...

Quatro!

“De um profundo sono despertei.

Cinco!

“O mundo é profundo...

Seis!

“E mais profundo do que o dia julgava.

Sete!

“Profunda é a sua dor...

Oito!

“E a alegria... mais profunda que a aflição.

Nove!

“A dor diz: Passa!

Dez!

“Mas toda alegria quer a eternidade...

Onze!

“Quer profunda eternidade!

Doze!

Friedrich Nietzsche

Submited by

sexta-feira, abril 10, 2009 - 23:58

Poesia Consagrada :

No votes yet

Nietzsche

imagem de Nietzsche
Offline
Título: Membro
Última vez online: há 13 anos 19 semanas
Membro desde: 10/12/2008
Conteúdos:
Pontos: 351

Add comment

Se logue para poder enviar comentários

other contents of Nietzsche

Tópico Título Respostas Views Last Postícone de ordenação Língua
Poesia Consagrada/Biografia Nietzsche Biografia 1 10.893 05/24/2012 - 16:15 Português
Poesia Consagrada/Biografia Nietzsche Biografia 0 5.540 05/23/2011 - 23:58 Espanhol
Poesia Consagrada/Biografia Nietzsche Biography 0 3.736 05/23/2011 - 23:56 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Nietzsche Aphorisms : The errors of great men are ... 0 3.168 05/23/2011 - 23:51 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Nietzsche Aphorisms : Many a man fails as an original thinker ... 0 2.990 05/23/2011 - 23:51 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Nietzsche Aphorisms : The true man wants two things ... 0 2.687 05/23/2011 - 23:50 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Nietzsche Aphorisms : It is not a lack of love ... 0 2.684 05/23/2011 - 23:49 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Nietzsche Aphorisms : Behind all their personal vanity ... 0 2.968 05/23/2011 - 23:48 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Nietzsche Aphorisms : Fear is ... 0 2.528 05/23/2011 - 23:47 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Nietzsche Aphorisms : Women can form a friendship with a man ... 0 2.575 05/23/2011 - 23:47 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Nietzsche Aphorisms : For the woman, the man is ... 0 2.504 05/23/2011 - 23:46 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Nietzsche Aphorisms : Morality is the ... 0 2.677 05/23/2011 - 23:45 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Nietzsche Aphorisms : He who has a why to live ... 0 3.021 05/23/2011 - 23:45 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Nietzsche Aphorisms : Only strong personalities can ... 0 2.760 05/23/2011 - 23:44 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Nietzsche Aphorisms : When you look long into an abyss ... 0 2.080 05/23/2011 - 23:43 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Nietzsche Aphorisms : We often refuse to accept an idea ... 0 2.653 05/23/2011 - 23:43 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Nietzsche Aphorisms : It is not a lack of love, but ... 0 2.254 05/23/2011 - 23:42 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Nietzsche Aphorisms : Success has ... 0 2.665 05/23/2011 - 23:40 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Nietzsche Aphorisms : In revenge and in love ... 0 2.557 05/23/2011 - 23:39 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Nietzsche Aphorisms : All truths that are kept ... 0 3.129 05/23/2011 - 23:38 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Nietzsche Aphorisms : There is always some madness in love ... 0 2.844 05/23/2011 - 23:37 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Nietzsche Aphorisms : In every real man a child is ... 0 2.711 05/23/2011 - 23:37 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Nietzsche Aphorisms : Idleness is ... 0 3.340 05/23/2011 - 23:35 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Nietzsche Aphorisms : Our shortcomings are ... 0 2.866 05/23/2011 - 23:29 inglês
Poesia Consagrada/Aforismo Nietzsche Aphorisms : In individuals insanity is rare ... 0 2.215 05/23/2011 - 23:28 inglês