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RETRATOS I

1

Em quanto os gados
Pascem dispersos
Casem-se á lyra
Meus brandos versos.

Tyrso, que adoras
Nize engraçada,
Ouve o retrato
Da minha amada.

Em seus cabellos
Soltos, e ondados
Mil Cupidinhos
Estão pousados:

Lá, convertidos
Em virações,
Ordenam laços,
Armam traições.

Os olhos d'ella
São como o céo
Depois que a Noute
Desdobra o véo:

Tem tal virtude,
Tal movimento,
Que encolhe as azas
Ao pensamento:

Na linda face
De neve pura,
Onde entre as rosas
Brilha a candura,

Ha certa graça,
Certa viveza
Mais attractiva
Que a gentileza:

Nos dôces labios
Qualquer sorriso
Aviva idéas
Do paraiso:

Ornam-lhe o seio
De eburnea côr
Por fóra as Graças,
Por dentro Amor:

Ali assaltos
De audaz desejo
Move a ternura,
Rebate o pejo:

Das melindrosas
Mãos transparentes
Os alvedrios
Ficam pendentes:

Lisas columnas,
Taes como as creio,
De obras divinas
Candido esteio.

Guardam thesouro
De alta valia,
Que só se gosa
Na phantasia.

Ah! Que attraído
Da imagem bella,
Meu pensamento
Se absorve n'ella !

Tyrso, não posso
Pintar o mais,
Meus brandos versos
Tornam-se em ais.

Já tu conheces
A formosura
Que foi objecto
D'esta pintura.

Quem do retrato
Não ajuiza
Que ou é de Venus,
Ou de Felisa?

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domingo, setembro 20, 2009 - 23:20

Poesia Consagrada :

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Bocage

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