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William Shakespeare : A Comédia dos Erros – Ato IV - Cena II

Cena II

(Um quarto em casa de Antífolo de Éfeso. Entram Adriana e Luciana.)

Adriana
Ah, Luciana, ele teve esse descoco? Lia-se-lhe no olhar que era sincero? Estava são? Não parecia louco? No que disseste acreditar não quero. Refletia no rosto a luta, acaso, dos meteoros do peito em campo raso?

Luciana
Primeiro asseverou não ser casado.

Adriana
Mais, com isso, ele aumenta o meu cuidado.

Luciana
Depois jurou que aqui era estrangeiro.

Adriana
Perjuro agora, como o foi primeiro.

Luciana
Depois, falei de vós.

Adriana
E ele, que disse?

Luciana
Que a mim, só, amava; o mais era tolice.

Adriana
De que modo falava esse demente?

Luciana
Se fosse honroso o pleito, convincente. Elogiou-me a beleza; após, a fala.

Adriana
E tu, que lhe disseste? Vamos; fala.

Luciana
Calma, te peço; é de mister paciência.

Adriana
Calma não posso ter nesta premência. Se não do peito, ao menos hei de o gosto fazer da língua. Antífolo é mal posto, feio, velho, corcunda, deformado, de feições horrorosas, rosto inchado, viciado, bruto, de maldade infinda, de corpo horrendo e mente pior ainda.

Luciana
Quem ciúmes pode ter de tal marido? Ninguém um mal lastima, se perdido.

Adriana
Não é assim que o descreve o meu carinho. Se outros olhos o vissem desse jeito! O abibe chora, quando perde o ninho. A língua o insulta, mas o adora o peito.

(Entra Drômio de Siracusa.)

Drômio de Siracusa
Vamos! Depressa! A bolsa da gaveta!

Luciana
Por que corres assim?

Drômio de Siracusa
Não sou perneta.

Adriana
Onde está teu patrão, Drômio? Não vem? Par que demora tanto? Ele está bem?

Drômio de Siracusa
Sim, no limbo do Tártaro, no Averno; multo pior ali do que no inferno. Um demônio de vestes permanentes pôs sobre ele a mãozinha, um desses homens de peito duro abotoado de aço. Um duende, um lobo, um monstro de esconjuro, um sujeito envolvido em couro duro, enredador, traiçoeiro-mor, pisa-mansinho, que aos homens veda a praça, as ruas e o caminho, que parece perder o rasto a toda gente, mas nas chamas do inferno os lança eternamente.

Adriana
Mas, afinal, que há?

Drômio de Siracusa
O que há, não sei dizer; sei que ele está na grade.

Adriana
Como! Está preso? À intimação de quem?

Drômio de Siracusa
Não sei que intimação o pôs em tal agrura; só sei que o intimador tem farda muito dura. Urge que lhe mandeis a bolsa da gaveta.

Adriana
Vai buscá-la.

(Sai Luciana.)

Não sei que pensar disso. Tinha dívidas e eu sem saber nada. Conta o resto: foi posto na cadeia?

Drômio de Siracusa
É isso, uma cadeia; de aparência mais aprazível, mas cadeia, em suma. Não ouvistes soar?

Adriana
Quê? A cadeia?

Drômio de Siracusa
Cadeia, não; o sino! É tempo de ir-me embora; às duas o deixei; ouvi bater uma hora.

Adriana
Para trás anda o tempo. Oh coisa singular!

Drômio de Siracusa
Se a hora encontra um sargento, o medo a faz recuar.

Adriana
Tem dívidas o tempo! Oh, como falas certo!

Drômio de Siracusa
O tempo está falido, a ruína já anda perto. E mais: é um bom gatuno, à espreita e de vigia; manso se escoa à noite e devagar de dia. Se o sargento o persegue e os bens tem em penhora, que muito que se atrase em cada dia uma hora?

(Volta Luciana.)

Adriana
Eis o dinheiro, Drômio; vai depressa e traze o teu senhor já para casa. De um pensamento, irmã, estou possessa, que ora me deixa fria, ora me abrasa.

(Saem.)

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quinta-feira, maio 7, 2009 - 22:21

Poesia Consagrada :

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