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ÚLTIMA VIAGEM DOS CORPOS AO ESCONDERIJO DA TERRA
Perdido de mim
encontro a noite como uma navalha
de punho sujo por desertos que a insónia embala.
Inquietude como infância dos passos dos meus sonhos.
Navalha cujos gumes de penumbra
me esfaqueiam a orgia das lágrimas nos meus olhos.
Lágrimas cujo sentir é borrasca de uma maré
sem fundo na praia do tempo onde me sou infinito.
Tempo cuja velocidade
tosse os sarampos da eternidade sobre os rios
das rugas que vacinam o saber a mel do meu sabor fel.
Rios cujas correntes poluídas por ódios
me levam as mãos à cara como palco de reflexos nocivos.
Espelho de esperas onde me paira a alma
em calma envenenada por fossos de ser ou não ser-me.
Esperas como poços infernais
cujos demónios são luas malandras
que se alimentam dos ácaros das minhas sinas.
Demónios de fogo cujas garras são línguas
de silêncio que me esventram as ventas das palavras.
Silêncio cujas salivas são sedes como pó
sem rédea na goela da Primavera tal sino pressagie
a última viagem dos corpos ao esconderijo da terra.
Sino cuja badalada pinta o horizonte de adeus
com trevas em trova como canção de sombra e saudade.
Sombra cujo movimento
é uma gota de chuva insípida como formiga tonta
a amealhar sementes de tristeza no inverno da minha pele.
Inverno cujo frio me queima a voz com feixes de sol morto.
Sol cujo círculo é uma vírgula por pousar
nas flores que me nascem horrores do pensamento.
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