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Anjos e Esquinas

 
Qual será o preço por teu fingido apreço?
Desses, que logo se esquece, assim que amanhece?
Ou daqueles mais caros, que pagam os prazeres raros
e dos quais só se esquece, quando a alma apodrece?

Quem fez tua sina de ser a puta da esquina
nessa rua da Madame cafetina?
Quem te pôs sob o gringo pedófilo?
A miséria da orfandade, ou só a falta de caridade?
Ou foi o sonho em neon da Cidade?

Quem te pôs sob o velho tarado?
Qual foi o teu pecado
para purgar nesse leito errado?
Ter o sonho comum de adolescente:
comida, roupa e aparelho no dente?
Ou foi a ousadia de querer diferente,
onde o estômago não fosse tão urgente?

E, agora, só sonhas que o falso penitente
seja o último cliente?

Tantos sonhos (talvez) e tanta culpa.
São teus os primeiros. É minha a segunda,
por compor essa sociedade vagabunda.
Sociedade que entrega as suas filhas
e se isola em redomas e ilhas
para nada ver, nada escutar.
E, depois, contigo deitar.

Fecham as janelas por te temerem
(ou para não se reconhecerem)
e vociferam suas ladainhas,
mas aliviam-se com cesta-básicas,
vale-transporte e latas de sardinhas.

Usam teu corpo e matam a tua alma.
Suja, continuas na rua. Querem-te nua.
Sem Alma continuas na noite.
sob o jugo do Santo Açoite.
A puta da esquina,
a quem se dá uma dose de estricnina.

Qual será teu destino, forçada libertina?
Até quando, brasileira menina?

Lettré, l´art et la Culture. Rio de Janeiro, Verão de 2015.

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sexta-feira, janeiro 30, 2015 - 20:38

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fabiovillela

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