AQUI E NESTE AGORA

Quisera eu, nesta noite me perder,
Sugar as letras do teu corpo de papel
Aninhar no ventre da terra a escurecer
Este enlace, entre a tela e o pincel.
Pudera eu entrar nos olhos do teu sono
Descobrir cada segredo, sobre tua alçada
Deixar-me preso a ti, ao abandono
E levar-te na pele de madrugada.
Quiseras talvez tu, ser meu abrigo
Nas montanhas tenebrosas da razão
Trago nos dedos, um querer e um sentido
Que me fazem pedir mais, do que perdão.
Puderas tu, ser a vaga deste espanto
Respirando-me a boca de ansiedade
Repousando impiamente o teu encanto
E parando o mundo ali, prà eternidade.
Soubera ser em ti, tempo sagrado
Quaresma abstinente na lonjura
E teria nos meus dedos tricotado
Uma sorte mais frondosa e mais madura
Souberas tu, morrer despida nas galés
Deste porto forte, aberto à tua proa
Serias hoje a brisa densa das marés
Ou na caravela de meu peito capitoa.
Não podemos macular nossas fraquezas
As chagas deste rasto que devora
Um futuro diferente sem tristezas
Começando por aqui e neste agora.

regensburg
06-05-2010
Beija-flor