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Biografia: Mário Lago (1911-2002), poeta, compositor e ator brasileiro.
Mário Lago
Desde cedo entendeu que o significado da vida não estava nos livros de escola, mas nos relacionamentos humanos. Artista múltiplo, deixou marcas por onde passou. Foi escritor do Teatro de Revista, ator de cinema e tevê, companheiro de multidões em programas de rádio. Um dos mais ecléticos artistas brasileiros.
Foi em fins de novembro de 1911 que nasceu, no Rio, o único filho de Antônio e Francisca Lago. O parto difícil poderia, talvez, ter sido tomado como um prenúncio do que seria a vida de Mário: cheia de atribulações e percalços, mas sempre enfrentados com bom humor.
A meninice é recheada de manifestações culturais. Os avós eram músicos; o pai, maestro. Antônio Lago semeava a imaginação do filho com histórias fantásticas de cafés e cabarés. Na vizinhança, o ateliê de Cândido Portinari e a casa de Manuel Bandeira davam cores ilustres ao ambiente. As aulas de piano com Lucília Villa-Lobos acrescentavam um toque erudito à formação do rapaz. No entanto, ele se apaixonava mesmo era pelo samba.
Toda essa atmosfera desenvolve em Mário duas habilidades que lhe seriam muito frutíferas: conversar e escrever. Acreditava que conversando aprenderia mais do que na escola. Seus primeiros poemas são publicados aos 15 anos. Sua primeira música, anos depois: Menina, Eu Sei de uma Coisa, parceria com Custódio Mesquita.
Mário Lago era filho de um maestro, Antônio Lago, e encontrou nas letras o seu refúgio intelectual.
Começou pela poesia, e teve seu primeiro poema publicado aos 15 anos. Formou-se me Ciências Jurídicas e Sociais na década de 30, na então Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro, atual Faculdade de Direito da UFRJ, onde iniciou sua militância política no Centro Acadêmico Cândido de Oliveira, então fortemente influenciado pelo Partido Comunista Brasileiro. Durante a década de 1930, a então principal Faculdade de Direito da capital da República era um celeiro de arte aliada à política, onde estudavam Lago e seus conteporâneos Carlos Lacerda, Jorge Amado, Lamartine Babo entre outros.
Depois de formado, já como advogado, envolveu-se com o teatro de revista, escrevendo, compondo e atuando. Sua estréia como letrista de música popular foi com "Menina, eu sei de uma coisa", parceria com Custódio Mesquita, gravada em 1935 por Mário Reis. Três anos depois, Orlando Silva realizou a famosa gravação de "Nada além", da mesma dupla de autores.
Nos anos 1930, ingressa na faculdade de Direito. Leva três anos para se formar; e, em três meses, abandona a advocacia. As constantes idas aos cafés o lançam num ambiente onde poucas coisas importavam mais do que discussões intelectuais e atividades culturais. Em fevereiro de 1933, estréia como escritor do Teatro de Revista, na Praça Tiradentes. O veredicto do público é fabuloso: Flores à Cunha provoca gargalhadas lacrimejantes. Com o sucesso, escolhe a atividade como ganha-pão. Anos depois, justifica: “Escrevo por prazer, mas trabalho por necessidade. Como meu trabalho é escrever, escrevo por necessidade”.
Para Mário, o Teatro de Revista mostrava às pessoas os dramas reais da vida, fazendo-as rirem de si mesmas: “Tudo na vida é risível, é só prestar atenção”. O sucesso o leva para a Rádio Pan-Americana, em São Paulo, aonde suas músicas já encantavam os bairros populares. Amélia badalava o carnaval, e composições como Dá-me Tuas Mãos e Nada Além eram difundidas pelo rádio, a maravilha das comunicações. No decorrer da vida, escreveria mais de 150 canções.
Em 1947, casa com Zeli Cordeiro, sua companheira por 50 anos. Usava as intermináveis noites em cafés e conversas acaloradas para extrair percepções poetizadas do cotidiano. Daí saíam seus livros, 11 no total. Obras como Manuscritos de um Empregadinho de Bordel e Rabo da Noite são, segundo ele, “colagens existenciais” que brincam com o trivial da vida.
SAMBAS & CANÇÕES
Autor de sambas populares como "Ai, que saudades da Amélia" e "Atire a primeira pedra", ambos em parceria com Ataufo Alves, fez-se popular entre as décadas de 40 e 50, ajudando a tornar o samba a mais representativa música brasileira.
Ator de teatro, no gênero comédia, poeta, radialista, advogado, por longo período militante do Partido Comunista. Mário Lago é um ícone da cultura brasileira. Imortalizou-se com suas canções populares e marchinhas feitas para o carnaval.
Suas composições mais famosas são "Ai que saudades da Amélia", "Atire a primeira pedra", ambas em parceria com Ataulfo Alves; "É tão gostoso, seu moço", com Chocolate, "Número um", com Benedito Lacerda, o samba "Fracasso" e a marcha carnavalesca "Aurora", em parceria com Roberto Roberti, que ficou consagrada na interpretação de Carmen Miranda. Em "Amélia", a descrição daquela mulher idealizada, ficou tão popular que "Amélia" tornou-se sinônimo de mulher submissa, resignada e dedicada aos trabalhos domésticos.
Na Rádio Nacional, Lago foi ator e roteirista, escrevendo a radionovela "Presídio de Mulheres". Mas o grande público só ficou o conhecendo pela televisão, quando passou a atuar em novelas da Rede Globo como "O Casarão", "Nina", "Brilhante", "Elas por Elas" e "Barriga de Aluguel", entre outras. Também atuou em peças de teatro e filmes, como "Terra em Transe", de Glauber Rocha.
Autor dos livros "Na Rolança do Tempo" (1976), "Bagaço de Beira-Estrada" (1977) e "Meia Porção de Sarapatel" (1986), foi biografado em 1998 por Mônica Velloso na obra: "Mário Lago: boêmia e política". A escola de samba Acadêmicos de Santa Cruz homenageou Lago em 2000.
QUARTÉIS E PARÁGRAFOS
Mário gostava de testar a censura, ver até onde podia ir. Em 1941 tem que prestar depoimento por criar a Associação Brasileira de Compositores e Autores. Ironiza: “Já pensou tomar o poder ao som de Pixinguinha, Nonô ao piano, Passos no trombone de vara, e na bateria o Almeidinha? Seria um forrobodó!”. É demitido da Rádio Nacional por discutir com o diretor, um coronel do Exército: “Ele entende de quartel, eu de parágrafos”. Para ele, a função social dos programas era educar, estimular a leitura. Por isso incutia em suas radionovelas pitadas de crítica social.
Com o golpe de 1964, tem a casa invadida pelos militares. Permanece sentado à máquina de escrever enquanto os cômodos são revirados. Um policial se aproxima, e, em tom de confissão, diz: “Nem vou contar à patroa que vim prender o senhor. Ela é fã de suas novelas. Se souber que o senhor não vai mais escrever, e que eu ajudei a lhe prender... Eu, hein...”
Em março de 1966, vai para a Rede Globo. Com a radicalização da ditadura, vira mais ator do que autor: “Não tenho mais coronária para agüentar conversa de censor”. Na nova fase, estréia ironicamente como um coronel nazista na novela Sheik de Agadir. Busca nos interrogatórios que prestou a caracterização do personagem.
Em 35 anos, faz mais de 40 novelas. No cinema, filmes como Terra em Transe e São Bernardo refletem sua preocupação em levar ao público temas relevantes para o País.
HOMENAGENS
Em dezembro de 2001, ganhou uma homenagem especial por sua carreira durante a entrega do Troféu Domingão do Faustão. No ano seguinte, essa homenagem pela carreira ganharia o nome de Troféu Mário Lago, se tornando anual e sendo entregue à grandes nomes da teledramaturgia.
Em 2001, recebe o título de Cidadão Benemérito do Estado do Rio de Janeiro por suas realizações artísticas. Em janeiro de 2002, o presidente da Câmara, Aécio Neves, foi à sua residência no Rio para lhe entregar, solenemente, a Ordem do Mérito Parlamentar. Na sua última entrevista ao Jornal do Brasil, Mário revelou que estava escrevendo sua própria biografia. Estava certo de que chegaria aos 100 anos, dizia Mário, "Fiz um acordo com o tempo. Nem ele me persegue, nem eu fujo dele".
Morreu no dia 30 de maio de 2002, aos noventa anos de idade, Chegou a dizer em entrevista: “Fiz um acordo com o tempo: nem ele me persegue e nem eu fujo dele. Um dia a gente se encontra”. Esse dia chegou em 30 de maio de 2002, quando Mário tinha 90 anos, em sua casa, na Zona Sul do Rio de Janeiro, de enfisema pulmonar.
Fonte:
http://musicapoesiabrasileira.blogspot.com/2007/05/mrio-lago-um-ilustre-...
http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=15679
Mário Lago: boemia e política, de Mônica Velloso (Fundação Getúlio Vargas, 1998).
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