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Para os que virão (Thiago de Mello)

Como sei pouco, e sou pouco,

faço o pouco que me cabe

me dando inteiro.

Sabendo que não vou ver

o homem que quero ser.

 

Já sofri o suficiente

para não enganar a ninguém:

principalmente aos que sofrem

na própria vida, a garra

da opressão, e nem sabem.

 

Não, não tenho o sol escondido

no meu bolso de palavras.

Sou simplesmente um homem

para quem já a primeira

e desolada pessoa

do singular - foi deixando,

devagar, sofridamente

de ser, para transformar-se

- muito mais sofridamente -

na primeira e profunda pessoa

do plural.

 

Não importa que doa: é tempo

de avançar de mão dada

com quem vai no mesmo rumo,

mesmo que longe ainda esteja

de aprender a conjugar

o verbo amar.

 

É tempo sobretudo

de deixar de ser apenas

a solitária vanguarda

de nós mesmos.

Se trata de ir ao encontro.

( Dura no peito, arde a límpida

verdade dos nossos erros. )

Se trata de abrir o rumo.

 

Os que virão, serão povo,

e saber serão, lutando.
 

Thiago de Mello, poeta, In: Poesia Comprometida com a minha e a tuda vida, Ed. Civ. Brasileira, 6a. Ed, 1989.

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segunda-feira, setembro 19, 2011 - 00:15

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