CARTAS DE AMOR

Ainda hoje,
Converso com o vento
Sobre as coisas
Que nunca me contaste
Mas que escreveste
No teu coração
Como cartas de amor.

Falo com o mar
Sobre os versos que escreveste
No quebrar das suas ondas
Os sinais que deixaste
Na sua cândida areia
Os segredos que confessaste
Na pureza das suas águas
O brilho do teu olhar.

Sopraste gritos pelo ar
Como um recado para o Céu
Manifestaste a tua vontade de amar.

Escreveste belas cartas
Com o ritmo da tua paixão
Coração ofegante
Pronto para amar
e descobrir
Os conhecidos segredos da vida.

Enviaste-me uma carta de amor
Escrita com destroços de sentimentos
Que querias unificar
Em torno do teu peito
E construir um castelo
De pedaços de emoções.
Respiravas a alegria
Inscrita em cada flor
Que larga pétalas de perfumes.

Foram estes perfumes que me contaram
Falaram-me da carta que escreveste
Da vontade que manifestaste
Do grito que soltaste
Do amor que mostraste.

Disseram-me que as flores choraram
Viram pássaros tristes
Que já não queriam cantar
Sonharam com a força do amor
Sentiram o prazer da dor
Perfumaram cada ninho de tristeza
Localizaram o horizonte
Desafiaram as fronteiras
Trouxeram-me a tua angústia.

Aqueles perfumes
Aqueles que se soltaram das flores
Eles próprios estavam tristes.
Falavam,
Lacrimejavam,
E pediam para ouvir o teu grito.

Aqueles perfumes
Espalhavam ternura
Falaram-me da oração
Do Céu
E da Terra.