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Das intermitências roxas

As pálpebras abriram no involuntário, como espasmo à saída da televisão vegetal, na memória em longínquos a lactuca virosa acenava em telas desaparecidas. Eu corria.

O espanto prostrou-se às dolorosas sensações palmadas aos pés, dilaceração que não era crepitação, nem dos resquícios de troncos não feitos húmus, já os músculos latejavam na simbiose com os apoios em esquecimento. Tropeçava em mim.

Do externo a chuva que picava fortemente, trespassava roupas humidificadas em complacência com torrencializados celestes. Rasgados intrinsecamente cinzentos, atropelavam-me os movimentos, pedaços de desgastes cansados do abuso, clamavam ao sossego desobjectado, por auspícios afogados de deserção. E eu próprio.

Dilacerado à viagem, carcomido à esfomeação acidificante de temor, o aterrorizado que o era da escuridade permanente, e eu, que seria corrente em luzes ausentes de uma flama. O envolvente era-o de negrume perfeito, interrompido a tempos díspares em penumbras emanadas de cinco luas cheias, ímpares de nevoeiros cerrados deslizantes velozes que obstruíam réstias de clarividência. Também o era, derramado no ininteligível.

E a floresta tornou-se passado.

Pelo derradeiro acontecimento enchi vísceras de tangibilidade, eram as forças que já não esforçavam, locomoção triturada às árvores bailantes nas insonoridades do vento, e os ramos que se despiram no jogo do gesto, da sombra, ficavam para os anteriores. Como os nevoeiros densos quebrados às figuras do sinuoso, vultos de sombrios infinitos, e os enforcados sibilantes, e os decapitados uivantes, e as fendas de tempestades em gemidos incorpóreos. Toda a imensidão se abandonava à mesma.

Era-o numa inspiração funda esfregada dos dedos aos joelhos, apaziguamento de mente com o invólucro fendido. E um suspiro que se espiralou à vila negra da totalidade, implodida de vitalidades e jorrante de sonoros vácuos. Eram rectas de asfalto que se ladeavam por altos muros de tijolo preto, aos cumes afiguravam-se luzes intermitentes. As tonalidades do roxo. Subtilmente deslizantes. Vaporosamente densas. Convexas. Eram as penumbras de uma lembrança em arco-íris. Génese de ténue faísca.

Endireitei-me ao começo e caminhei esquerdo pela rua, absorvendo chuva gélida que já se derramava ao externo, e os fervores eram o pavor dos silêncios, vaporizados ao incongruente, inexistência de existência.

Contemplei uma reentrância brotada no âmago dos tijolos, era o meu dobro, dobragem da esquina, e os muros faziam triplos, da rispidez o trespasse da medula e produção de gotículas no frontispício. Em regresso à porta asseverada, levemente salpicada à tonalidade do roxo, inconstante em madeira milenar da firmeza, elaborada à exaustão em figuras hostis de expressão, de repressão por dentes compridos da desproporcionalidade, suficiência para trespasse de múltiplos meus. O puxador enferrujava-se. Rodei e puxei sem sentir o movimento a mim, na tendência para abertura era o cerrado. Não iria penetrar.

Prossegui, atento a uma inóspita alteração de circundante, resfolegava por tremor da respiração, era-o no eco dos passos, no êxtase do peito encolhido.

E fez-se pânico quando sonoridades múltiplas oriundas dos altos laminaram a percepção do só. Porque já lá estariam desde sempre. E porque o afinco nas circulares pensantes se perdia dos cognitivos. Olhei para os cimos, vultos vários fazia-se planar subtilmente em negrumes de ondulações.

Aos milhares de sombras esvoaçadas.

Indesejei que fossem uma outra coisa, uma outra qualquer coisa, e o esquecimento forçou-se, não esquecido da fenomenologia. Fiz o contínuo do caminhado, com incremento veloz em extravasado esgotado, dos temores tremiam ansiedades à presença de uma nova porta, um novo acesso a uma outra coisa, uma outra qualquer coisa.

Durante tempos incontáveis contei o intemporalmente encaminhado pelas rectas do negrume, em busca, do perseguido desconhecido que não aquele, mas porque se extrapolava a incerta certeza do agonizado.

Transversais.

Deambulações às rectas paralelas.

Dobragem de esquinas.

Às mesmas, pelas mesmas, com as mesmas.

Porque iguais.

As portas equalizavam-se, clonadas madeiras cujas antigas intermitências se futurizavam nas tonalidades roxas, e passadas, os puxadores enferrujavam na hostilidade.

Mas atingira a diferenciação do envolvente. Era um diferente formulado no longe, toldado aos intervalados que se propagavam nas irritação da mente, roxeada percepção do mental obscurecido. Era esguio. Extremamente elevado. E ia-se discernindo. O horizonte que se apressava a mim era fosforização activa para galhos dilacerados. Húmidos na espera de secura.

Encadeei-me no alcance do vulto estático, poste imenso e de finura bamboleante aos ventos que não sentira, escadas em redores, em espiral para a elevação. Era a vez da subida e da visão final sobre o escondido por muros em portas trancadas.

Precipitei-me à escadaria de ligeireza no ansiado, do corrimão externo o ténue equilíbrio e impulso.

Equilíbrio e impulso.

Repetidamente à exaustão agudizada em latejos, a primazia da deslembrança do físico corroía as sinapses, o complexo era a deriva para o olhar em profundidade.

No topo da vertigem tudo era a percepção, claramente se afirmavam os esconderijos ladeados ao tijolo e à ferrugem, imensos terrenos delineados que se iluminavam em fluorescência, extensos apinhados de árvores que se perdiam no visionarismo. Eram até os horizontes deixarem de ser. Entroncados da potência do fruto e da iguaria, e com a mera estranheza de vistura de maiorias sem apenas folhas terem, ramos secos despidos, mortos bailantes na leveza das brisas sussurradas após a morte. E cada porta era cada entrada aos gigantescos cultivos, do acesso vedado pela ferrugem.

Aprimorada a visão se desvirtuavam os contextos das coisas, pois que um dos terrenos se fazia emergir em árvores carregadas em folhados, assim se emanava a tonalidade verde que vivia ladeada, corrompia o mórbido morto, salivei nos frutos da probabilidade.

Mapeei números de muros, de divisões, de transversais, de dobragens de esquinas, e a criação da holografia era um tecido de matemáticas em distâncias de quatro dimensões, dos cruzamentos com paralelas, ao contrário, e a confiança de memorizações apenas o era. Sem desconfiança de sucumbir por mim mesmo, no auge da atracção pelo desistido. Quase.

E as escadas que se faziam de passado tropeçavam, trôpegas à divergência de alturas.

Aterrado no zero a potência corria, êxtase de raiva perdida, um irritado ramificava-se nas paranóias nuas sem bailado, o doloroso esfomeava. E as noções das trajectórias que se indefiniam clarificavam o contextualizado oriundo do ente instintivo.

Estagnei-me na fronte da plausibilidade de porta prometida, da salvação um interregno de madeiras, inspirei as neblinas que não existiam e planei pela ofegância desenfreada do percorrido, eram invocações de forças que não fluíam, arrombamento que se tingia na plenitude da impossibilidade, remetida ao remoto pensado.

E antes do impacto a rotação de puxador, o reflexo de instintos perpétuos que se advinham das repetições, precedentes, inconsequentes até o deixarem de ser. Sem ferrugem rodou. Abriu delicadamente.

Soerguidas sobrancelhas por triunfo da estranheza, rapidamente o deixou de ser quando a luminosidade oriunda de focos de luz enterrados me penetrou em cada poro, revestido a epiderme. Acenderam as tochas do conquistado pelas pupilas regaladas, era a contínua beleza que suavizava sobre árvores viçosas, apinhavam-se em gloriosas bolotas roxas, fluidas de êxtase vegetalizado. Avancei.

Remeti a porta à fechadura no estrondo do descoberto, e ajoelhei-me ao atónito durante longos momentos que se esticaram às eternidades do contemplado, era a abundância do contraditório, do colorido paradoxal, do luminoso derramado ao cosmogónico. E a esfomeação que impelia à violação das bolotas. O magnânimo era erupção ao pulsado estarrecido.

Fulminantemente um pensamento se projectou.

O abrupto trespassou a mente em múltiplas direcções, o olhar fixou-se nos altos, entre os muros não planavam os vultos esvoaçados.

E toda a angústia se metamorfoseou em crescimentos virentes, eram infinitas gotas de pânico que corriam nas nevroses, e o regresso à porta de entrada já não era como porta de saída.

Ferrugem.

Encostei-me às madeiras deglutindo avidamente os redores, revirando os olhares que congelavam o húmido das anterioridades.

O tempo não se fez passar para a confirmação dos temores inconsciencializados, pois das sombras das árvores foram saindo as criaturas enormes, de felpudas caudas. As bocas gigantes apinhavam-se em dentição comprida, extravasamento de morte, e as salivas escorregavam-se pelos queixos da raiva agressora.

Brami aos olhos revirados de vermelhos incandescidos.

Brutalizaram-se em mim.

© Bruno Miguel Resende

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sexta-feira, janeiro 22, 2010 - 22:15

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Re: Das intermitências roxas

MUITO LONGO, NÃO VOU LÊ-LO AGORA!
Com todo o respeito ao Poeta,
Marne

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