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desalento

podia ser um qualquer outro pedaço de quarto vazio, como tantos outros, em outros tantos lugares e tempos.

mas este surgiu hoje e não hesitei em preenche-lo e deixar-me preencher pelo convite inesperado para por aqui e por algum tempo ficar….

foi um convite em jeito de desafio, um desafio onde as emoções trespassa qualquer razão e onde nem sequer o coração pode ditar seja o que for…

mesmo assim, não hesitei, mesmo sabendo que as lágrimas podiam percorrer as formas do meu rosto, repousar na minha roupa tatuando com a intensidade de cada segundo, e serem evaporadas no tempo como se nunca tivesse caído...

quase como um segredo, onde só eu saberia que elas existiram…

quase como um segredo, que só eu posso despertar e sentir…

mas no escuro e perante a tua voz silenciosa e melodiosa, onde ainda hoje o teu rosto permanece um mistério, construi uma imagem a partir da tua voz e do teu cheiro a mundo…

foi nos olhos que não vi, nos teus olhos que acreditei.

deixei-me viajar num jovem rio formado por quedas de água salgada e rápidos imensos, que não era afinal, formado por outras águas que não pelas lágrimas que deixei cair e, que exigiste para que pudesse estar contigo neste pedaço de quarto vazio.

conseguiste ser o meu desalento, quando era e desejava seres a minha esperança…

foste o meu desalento, a minha tristeza, a minha desilusão…
foste quase a minha conformidade, a minha desistência…

…nada te pedi!
…nada te exigi!
…nada, simplesmente nada!

foi tua iniciativa bateres na minha porta.

na porta da minha pequena casa branca, onde e sem esforço era possível ver o mundo mais intimo, onde descansava sempre o meu corpo depois de cada dia.

foi tua iniciativa bateres na minha porta.

naquela porta vermelha, que era senão o início da intimidade que quase ninguém tinha e tem permissão para "ver".

foi tua iniciativa bateres na minha porta.

estava eu deitado no meu sofá, quando chegaste, estava eu deitado em cor de fogo, quando falaste, fiquei sentado no encarnado, depois de saíres.

foi tua iniciativa bateres na minha porta.

muito depois de teres fechado a tua, muito para lá de ter sido com simpatia, educação, ou outra que desejes, mas e mesmo não admitindo, com desprezo, que nos meus olhos repugnaste a minha presença.

estava eu longe de voltar a ter-te por perto, longe de sequer poder sonhar, quando e do nada decidiste reentrar na minha vida.

decorreu algum tempo, não muito, mas algum, o suficiente para sentir que mais nada e depois de tudo, havia para conversar, sentir ou viver....

da mesma forma que algum tempo antes desprezaste a pessoa, o homem, o ser humano…rasgaste um tímido sorriso e sem saberes bem o que dizeres, deixaste que eu te convida-se para um café..., que aceitaste sem saberes com eu, o que esperar...

o que não sabia era para quem seria nocivo o sabor do café?

se para ambos, se para mim, se para ti, ou ainda se o sabor do café se diluiria na ausência de paladar que a água têm…

bateste, entraste, ou melhor, reentraste, e eu de coração, aceitei!

sem perguntas ou duvidas, ou melhor, um uma pergunta e uma duvida!

se desejavas tomar um café comigo?
e que sabor ou não teria?

e eu, de coração, aceitei! sem perguntas ou duvidas…

mas eram muitas as tuas dúvidas, as tuas incertezas, as tuas resistências, o teu orgulho, o ainda latente o teu desprezo, mesmo que tudo isto escondido no meio da confusão de sentimentos que o teu rosto não deixava transparecer.

mas o teu desprezo chegava até mim mesmo assim, e quando aqui e ali essa confusão se dissipava e revoltada com o amor que invadiu o teu coração sem tu desejares ou pensares que seria de onde chegou…

não desejavas ficar “refém e presa” de alguém, muito mesmo de quem nem imaginavas…

mas não foi eu quem assim decidiu, e afinal, nem tu…

e no meio de tanto como me encontrava eu?

confuso e sem saber o porquê de teres batido na minha porta e reentrares na minha vida, onde a certeza do que desejava era o único farol de orientação e esperança de alcançar terra firme.

entre o momento em quem bateste na minha porta e o primeiro passo que dei na calçada em direção á tua casa, a ti... muito passou pela minha cabeça...

tinha a confiança que desconhecia e sabia acima de tudo, o que queria, o que desejava, e o que podia oferecer-te.

a minha sensibilidade, o meu carinho, os meus gestos, a minha mão, a minha boca, o meu beijo, e logo ali se desejasses...o meu corpo e alma...

só podia oferecer-te o que era, só podia oferecer-te o que conhecia, só podia oferecer-te o meu amor...

ser como era, como me conheceste, sem mascaras ou mentiras...

só podia oferecer-te o que nunca antes oferecera a ninguém...

algum tempo depois contava as pedras da calçada que me levavam até tua casa, que pareciam mais que muitas e de uma forma quase interminável….

não havia café! mas isso já ambos sabíamos!

e em pouco tempo, porque o tempo já era pouco e o desejo muito, percorria o teu corpo, despreocupado, a contemplar, a admirar, feliz…

afaguei o teu cabelo, tomei-te nos meus braços, e com suavidade beijei-te...

tatuei com os meus dedos cada espaço do teu corpo, beijando, desejando, sentindo...

deixei-me envolver pelo teu calor, pelo teu desejo, pelo teu abraço, pelo teu beijo...

a luz ténue que nos envolvia iluminavam os contornos do teu corpo moreno duma forma resplandecente, onde no tempo perdi-me em descobertas e labirintos de movimentos...

mas e porque não eras qualquer pessoa, ficamos por ai...porque neste tempo sem tempo, pensava que muito tempo ainda teríamos... e nem sei quanto tempo passou, porque o tempo voou…

recordo que logo nesse dia foste o que és… sincera na forma como vês parte da sinceridade, parte da verdade, parte do que pensas ser importante, e nessa parte sempre foste sincera, mesmo que a tua sinceridade seja diferente da minha…

verdade é que nunca me enganaste, nunca tentaste esconder nada… eu é que não consegui ver e quando consegui, foi como um nascer do sol que rasgou e iluminou o céu, da mesma forma que a detonação de uma bomba de hidrogénio faria… onde depois nada mais existiria...

foi com contornos de crueldade que essa visão chegou até mim!
foi com desprezo de sentimentos, emoções, e respeito que a ofereceste!

não entendo ou compreendo ou tenho a capacidade, mas sei que foi o início de tantas palavras e frases que ainda hoje são contraditórias, enigmáticas, e sem explicação, porque afinal, não conseguias ou não querias explicar.

mas o teu amor chegava até mim mesmo assim, e quando aqui e ali essa confusão se dissipava e revoltada com a minha ânsia de entendimento, deixavas a verdade sair, antes de voltares a refugiar-te no silêncio que adoptaste como amigo mais intimo.

nada existe neste mundo, nem ninguém tem o poder para mudar o que aconteceu, mesmo que há segundos, mas todos temos o poder, a capacidade de transformar o “agora”, basta querer e, aqui sim, nós podemos se quisemos!?...

enterrar o que se faz, se diz, é fugir!!! é não assumir!!!

diferente é dar a importância devida que cada coisa tem, e como pode mudar a importância que a mesma coisa tem de pessoa para pessoa, de ti para mim.

mas é nessa dificuldade que vive a dignidade e o respeito…

percorremos o mesmo caminho tantas vezes, que nos conduziu em magia a esses quartos vazios que aqui e ali estavam tão cheios de nós.

vivem nesses espaços de tempo, recordações de solidão, onde para além das marcas de lágrimas que deixei cair e ainda hoje impressas naquele chão de madeira de pinho que o tempo e a oxidação perpetuaram, nada mais existe, nem tu, nem eu, nem nós…

nunca depois e para além desse tempo criado por nós, existiu algo mais.

sempre foi um sonho ilusório a que se seguia repetidamente silêncio e escuro, o reflexo real da ausência de alma, coração, de vida…

ainda hoje, é único lugar onde consigo encontrar-te, onde tua voz silenciosa permanece, onde ainda hoje o teu rosto permanece um mistério, onde construi uma imagem a partir da tua voz e do teu cheiro a mundo… porque nunca consegui verdadeiramente passar para além do teu olhar… porque o teu olhar sempre esteve fechado a cadeado… porque nunca verdadeiramente entregaste o teu corpo, a tua alma, o teu espírito…com eu entreguei o meu…

embora bom,
embora delicioso,
embora deslumbrante,
embora contigo…

sempre estive sozinho… no escuro…

agora que tens o que exigiste para voltar a estar contigo, aqui, neste quarto vazio… agora que as lágrimas correm fartamente alimentadas pela dor, correm fartamente pelo meu rosto e para o esquecimento, digo, afinal sou eu que vou mudar!

se sou amigo para algumas coisas, as coisas que desejas e decides e noutras para ficar na penumbra e escuridão, porque a minha amiga decide ser o melhor para nós, decides sozinha! porque decidi que não quero voltar aqui para falar contigo nos teus termos.

e se voltar, e possivelmente voltarei, será sozinho e com as minhas intrínsecas exigências.

são os medos, sempre foram, de assumires sentimentos, que destruíram o que criamos, mesmo que tenha sido em sintonia diferente, em paralelos distantes, em dimensões utópicas… onde a criação não passou de um sonho ilusório que hoje consigo ver.

e foi, porque nunca apostastes em consolidar o convite que timidamente me fizeste e eu, de coração, aceitei! sem perguntas ou duvidas…

estou por aqui por ti, a aguardar que o teu silêncio se quebre, o teu rosto se ilumine em claridade e surjas de uma forma transparente.

que possa finalmente, em qualquer outro quarto vazio que não este, encontrar quem me procurou um dia, encontrar algo mais que uma voz, um cheiro, que antes foi depois silêncio e vazio.

é neste vazio que criaste, nas exigências permanentes, que deixaste a distância chegar e a morte desferir pequenos golpes, que lentamente matam toda a vida que resta.

estarei por aqui e se desejares para conversar, para chorar…, mas num caminho muito diferente daquele que nos trouxe aqui, e essa é a minha exigência.

não demores muito a decidir, porque o afastamento só é bom quando provoca saudade, mas do que isso…

"Faz da tua ausência o bastante para que eu venha a sentir a tua falta, nas não a prolongues a ponto de que eu venha a me acostumar a viver sem ti"***

e se um dia este quarto vazio, for o último lugar em que contigo me encontrei, levarei comigo para sempre o som do último suspiro…

*** autor descohecido

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sexta-feira, outubro 23, 2009 - 23:31

Poesia :

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olacnog

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Comentários

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Re: desalento

olacnog!
desalento

estarei por aqui e se desejares para conversar, para chorar…, mas num caminho muito diferente daquele que nos trouxe aqui, e essa é a minha exigência.

não demores muito a decidir, porque o afastamento só é bom quando provoca saudade, mas do que isso…

"Faz da tua ausência o bastante para que eu venha a sentir a tua falta, nas não a prolongues a ponto de que eu venha a me acostumar a viver sem ti"***

e se um dia este quarto vazio, for o último lugar em que contigo me encontrei, levarei comigo para sempre o som do último suspiro…

*** autor descohecido

LINDÍSSIMO ESPLÊNDIDO, GOSTEI MUITO, CONFESSO QUE QUASE NÃO LI O TEXTO, POR NOTÁ-LO LONGO DEMAIS, MAS COMECEI, FUI ME ENVOLVENDO, GOSTANDO E GOSTANDO MUITO, MEUS PARABÉNS AO AUTOR DESCONHECIDO, E A VOCÊ QUE O EDITOU!

imagem de RobertoEstevesdaFonseca

Re: desalento

Muito Bom!!

Gostei!

Um abraço,
REF

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