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Elogio do Silêncio

Já houve quem
por ele morresse
- por ele finasse
quem se escondesse
ou se procurasse.
Por ele, ou contra ele,
já se correram mundos
já se omitiram verdades
e segredos profundos,
já se fizeram heróis
e calamidades.

É ele ou a sua ausência
quem destabiliza a balança
da justiça, da verdade,
da ordem e da esperança.
com ele ou sem ele
tudo será diferente,
pois sua marca não se esquece jamais,
quer porque se apresente
quer porque se torne inexistente.
Nele,
a simplicidade de uma palavra
contra o enredo conceptual envolvente,
e clarividente,
pois que se o é
não o pode não ser.
Mas se o pronunciam sequer,
ao seu sibiloso e adequado rótulo,
logo se desvanece, logo inexiste.

Por ele já se perseguiu
Capturou
Intorquiu
E matou;

Como por ele se guardou
Se escondeu
Se pagou
E protegeu.

É e foi causa de morte para alguns,
sobrevivência para outros,
mas sempre o aguçado e ténue
fio da navalha entre o simples
acto humano e a consciência animal,

Tantas vezes transposto sem pudor,
Tantas vezes descurado seu valor,
Quantas vezes dominado pelo amor,
Quantas, e quantas vezes
Instrumento audaz da dor,
“esplendor dos fortes
e refúgio dos fracos”,
Ferramenta perfeita do suspense,
Sábia cartada da sensatez,
“santuário da prudência”
Álibi do medo;
Quantas e quantas vezes
Foi ele presa ou predador?

Com ele se deita a omissão
para deles nascer a paz ou a guerra
- pratos dessa balança
que a nossa omnipotente acção
espoleta e encerra.
Será tão filho da sensatez
como da desgraça,
apenas um momento e um estar o dirão.

Para o novo mundo
será pilar e pedra filosofal
tanto quanto o saibam ouvir.
Porque na voz do silêncio profundo
murmura a Razão real
de todo o nosso existir.
É nele, na sua quietude,
ausência total,
que achamos amiúde
a nossa essência banal,
A resposta perdida
A memória apagada
O sossego e o tormento
A esperança e o desespero;
Para alguns,
até uma forma de vida.
Uma potência acumulada
que se desgasta com o tempo
e com a vontade – o desejo
imprudente de violar a sua virgindade,
a pureza da sua existência
tão inexistente quanto necessária.

É o silêncio que não resiste á humanidade,
ou a humanidade que não resiste ao silêncio?

 

RL

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segunda-feira, fevereiro 14, 2011 - 20:27

Poesia :

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rob3rto

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Comentários

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Elogio do Silêncio

rob3rto!

 

Interessante texto!

 O silêncio funciona como uma faca de dois gumes, corta nos dois lados, é servo e é Rei!

Meus parabéns,

MarneDulinski

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