CONCURSOS:

Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia?  Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.

 

Ernest Hemingway-O Velho e o Mar

A esperança e a confiança nunca o haviam abandonado. Mas reverdeciam agora, como ao sopro da brisa.

A gente começa por pedir emprestado e acaba a pedir esmola.

Gostava muito dos peixes-voadores, seus dilectos amigos no oceano. Dos pássaros tinha pena, em especial das andorinhas-do-mar, escuras, delicadas, pequenas, que andavam sempre a voar e a olhar e a quase nunca encontrar nada, e pensava: "As aves têm uma vida mais dura do que a nossa, à excepção das de rapina e das muito fortes. Porque há pássaros tão delicados e finos como essas andorinhas, quando o oceano pode ser tão cruel? É gentil e muito belo. Mas sabe ser tão cruel, e sê-lo tão de súbito, que tais pássaros que voam e mergulham à caça, com as suas vozinhas tristes, são demasiado delicados para o mar".

Sempre pensava no mar como *la mar*, que é o que o povo lhe chama em espanhol, quando o ama. Às vezes, aqueles que gostam do mar dizem mal dele, mas sempre o dizem como se ele fosse mulher. Alguns dos pescadores mais novos, os que usam bóias por flutuadores e têm barcos a motor, comprados quando os fígados de tubarão davam muito dinheiro, dizem *el mar*, que é masculino. Falavam dele como de um antagonista, um lugar, até um inimigo. Mas o velho sempre pensava no mar como feminino, como algo que entrega ou recusa favores supremos, e, se tresvariava ou fazia maldades era porque não podia deixar de as fazer. A lua influi no mar como as mulheres, pensava ele.

Cada dia é um novo dia. É preferível ter sorte. Mas eu prefiro ser exacto. Assim, quando a sorte vem, está-se pronto para ela.

A maior parte das pessoas é impiedosa para com as tartarugas, porque o coração delas bate horas e horas, depois de arrancado e esquartejado.

- Peixe - disse. - Amo-te e respeito-te muito. Mas hei-de matar-te, antes de o dia acabar.

É um grande peixe, e tenho de o convencer, pensou. Não devo deixá-lo nunca tomar conhecimento da sua própria força, nem do que poderia fazer se corresse. Se eu estivesse no lugar dele, jogava o tudo por tudo, até que alguma coisa rebentasse. Mas, graças a Deus, não são tão inteligentes como nós, que os matamos, embora sejam mais nobres e mais capazes.

(…) Também o peixe é meu amigo - disse em voz alta. - Nunca vi nem ouvi falar de um peixe assim. Mas tenho de o matar. Agrada-me pensar que não temos de matar as estrelas.

Tu estás a matar-me, peixe, pensou o velho. Mas tens todo o direito. Nunca vi uma coisa maior, ou mais bela, ou mais serena ou mais nobre do que tu, meu irmão. Vem e mata-me. Não quero saber qual de nós mata.

(…) O velho largou a linha, calcou-a com o pé, levantou o arpão ao alto e fê-lo descer, com toda a força que tinha e mais força que no momento invocou, pelo flanco do peixe adentro, mesmo por trás da grande barbatana peitoral que alta se erguia no ar à altura do peito do homem. Sentiu o ferro entrar e debruçou-se sobre ele e fê-lo entrar mais e carregou depois com o seu peso em cima. O peixe então reanimou-se, com a morte em si, e saltou bem fora de água, patenteando o seu grande comprimento, a sua envergadura, o seu poder inteiro, a sua beleza. Parecia pairar no ar, acima do velho no esquife. Depois, caiu na água com estrépito, lançando espuma ao velho e por todo o barco.

Eu só pela manha valho mais do que ele, que me não queria mal. 

O homem não foi feito para a derrota. Um homem pode ser destruído, mas não derrotado.

É tolice não ter esperança, pensou. Além de que suponho que é pecado.

"Não mataste o peixe só para viver e vendê-lo para ser comido. Mataste-o por amor-próprio e porque és um pescador. Amava-lo quando estava vivo, e ama-lo depois de morto. Se o amas, não é pecado matá-lo. Ou será mais?"

(…) Além de que, pensou, tudo mata, de uma maneira ou de outra. Pescar mata-me, exactamente como me mantém vivo.

A sorte é coisa que vem de muitas formas. Quem sabe reconhecê-la?

Submited by

domingo, março 17, 2013 - 11:07

Poesia :

No votes yet

topeneda

imagem de topeneda
Offline
Título: Membro
Última vez online: há 7 anos 20 semanas
Membro desde: 08/12/2011
Conteúdos:
Pontos: 4308

Add comment

Se logue para poder enviar comentários

other contents of topeneda

Tópico Título Respostas Views Last Postícone de ordenação Língua
Musica/Outro The Dream Before 0 8.152 07/17/2012 - 16:39 inglês
Musica/Outro If You Leave Me Now 0 5.539 07/16/2012 - 14:21 inglês
Musica/Outro Failure 0 6.280 07/16/2012 - 14:08 inglês
Musica/Outro On The Beach 0 5.296 07/16/2012 - 14:00 inglês
Musica/Outro Moonlight Shadow 0 5.023 07/16/2012 - 13:52 inglês
Musica/Outro Darklands 0 5.830 07/16/2012 - 13:43 inglês
Musica/Outro Outside 0 4.691 07/16/2012 - 13:37 inglês
Musica/Outro Glory Box 0 5.471 07/16/2012 - 13:30 inglês
Musica/Outro When The Stars Go Blue 0 5.301 07/16/2012 - 13:23 inglês
Musica/Outro Sad Lisa 0 3.835 07/15/2012 - 18:16 inglês
Musica/Outro All We Ever Wanted Was Everything 0 6.536 07/15/2012 - 17:59 inglês
Musica/Outro Kitty 0 5.504 07/15/2012 - 17:47 inglês
Musica/Outro Our House 0 5.670 07/15/2012 - 17:40 inglês
Musica/Outro Song Bird 0 2.808 07/15/2012 - 17:18 inglês
Musica/Outro Hey There Delilah 0 7.969 07/15/2012 - 17:11 inglês
Musica/Outro Orpheus 0 5.255 07/15/2012 - 17:06 inglês
Musica/Outro Down by the Water 0 8.127 07/15/2012 - 17:00 inglês
Musica/Outro 74-75 0 6.593 07/15/2012 - 16:53 inglês
Musica/Outro Only You 0 5.799 07/14/2012 - 18:24 inglês
Musica/Outro With Arms Wide Open 0 7.907 07/14/2012 - 18:16 inglês
Musica/Outro Lavender 0 4.510 07/14/2012 - 18:13 inglês
Musica/Outro Brothers in arms 0 5.170 07/14/2012 - 18:08 inglês
Musica/Outro The Snow Goose 0 6.646 07/14/2012 - 17:55 inglês
Musica/Outro I m Gonna Cry Myself Blind 0 5.399 07/14/2012 - 17:51 inglês
Musica/Outro I'm Not In Love 0 9.034 07/14/2012 - 17:43 inglês