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As estações em haicais: Outono *
Aki (Outono)
I.
mono okeba soko ni umarenu aki no kage
Em qualquer lugar
Onde se deixem as coisas,
As sombras do outono.
Kyoshi
II.
kesa aki ya miiru kagami ni oya no kao
Ao mirar o espelho,
Na primeira manhã de outono,
O rosto do pai.
Kijô
III.
kono aki wa nan de toshiyoru kumo ni tori
Neste outono,
Como estou ficando velho!
Pássaros nas nuvens.
Bashô
IV.
yuku aki no kusa ni kakururu nagare kana
O pequeno córrego
Se esconde sob o capim —
O outono fenece.
Shirao
V.
meshidoki ya toguchi ni aki no irihi kage
Hora do almoço.
Pela porta, com os raios de sol,
As sombras do outono.
Chora
VI.
kare-eda ni karasu no tomare keri aki no kure
Num galho seco,
Um corvo pousado.
Tarde de outono.
Bashô
VII.
kono michi ya yuku hito nashi ni aki no kure
Por este caminho,
Ninguém mais passa —
Tarde de outono.
Bashô
VIII.
chichi haha no koto nomi omou aki no kure
Penso apenas
Em meu pai e minha mãe —
Tarde de outono.
Buson
IX.
meigetsu ya ittemo ittemo yoso no sora
Lua cheia!
Por mais que caminhe,
O céu é de outro lugar.
Chiyo-jo
X.
meigetsu wo totte kurero to naku ko kana
Lua cheia.
Me dá, me dá!
Chora a criança.
Issa
XI.
meigetsu ya ike o megurite yo mo sugara
Ah, lua de outono —
Andando em volta do lago
Passei toda a noite.
Bashô
XII.
meigetsu ya za ni utsukushiki kao mo nashi
Ah, lua cheia!
Nem mesmo um rosto bonito
Entre os presentes...
Bashô
XIII.
zendera no mon o izureba hoshizukiyo
Ao deixar o portão
Do templo zen,
Uma noite estrelada!
Shiki
XIV.
araumi ya sado ni yokotau ama no gawa
Mar agitado —
Estende-se até a ilha de Sado
A Via-láctea.
Bashô
XV.
sabishisa ya hanabi no ato no hoshi no tobu
Solidão.
Após a queima de fogos,
Uma estrela cadente.
Shiki
XVI.
aka aka to hi wa tsurenaku mo aki no kaze
Apesar do sol
Ardendo sem compaixão,
O vento de outono.
Bashô
XVII.
sabishisa ni meshi o kû nari aki no kaze
Em solidão,
Como minha comida —
Vento de outono.
Issa
XVIII.
uma no o ni busshô ari ya aki no kaze
No rabo do cavalo
Também há natureza búdica?
Vento de outono.
Shiki
XIX.
inazuma ni satoranu hito no toutosa yo
Venerável
É quem não se ilumina
Ao ver o relâmpago!
Bashô
XX.
inazuma ya kinô wa higashi kyô wa nishi
Trovão —
Ontem a leste,
Hoje a oeste.
Kikaku
XXI.
shiratsuyu ni jôdo mairi no keiko kana
No orvalho branco
Encontrarás o caminho
da Terra Pura!
Issa
XXII.
mono no oto hitori taururu kakashi kana
Algo faz barulho —
Cai sozinho, sem ajuda,
O espantalho.
Bonchô
XXIII.
kakashi kara kakashi e wataru suzume kana
De espantalho
Para espantalho,
Voam os pardais.
Sazanami
XXIV.
yo no naka wa ine karu koro ka kusa no io
Minha casa de sapê —
Será tempo de colheita
No mundo lá fora?
Bashô
XXV.
waga koe no kaze ni nari keri kinokogari
Minha voz
Torna-se vento —
Coleta de cogumelos.
Shiki
XXVI.
tanabata no uta kaku hito ni yorisoinu
A moça rodeia
O poeta que escreve versos —
Festival das Estrelas.
Kyoshi
XXVII.
furu-inu ya saki ni tatsu nari haka-mairi
O velho cão,
Na visita ao cemitério,
Segue à frente.
Issa
XXVIII.
kari yo kari ikutsu no toshi kara tabi o shita
Oh gansos selvagens!
Desde que tempo
Tendes viajado?
Issa
XXIX.
kitsutsuki no hashira o tataku sumai kana
Ah, esta casa —
Pica-paus vêm bicar
Sua madeira.
Bashô
XXX.
tombô ya toritsuki kaneshi kusa no ue
A libélula,
Sem conseguir se agarrar
A uma folha de capim.
Bashô
XXXI.
yuku mizu ni ono ga kage ou tombo kana
Sobre o curso d'água,
Perseguindo sua sombra,
Desliza a libélula.
Chiyo-jo
XXXII.
waga kage no kabe ni shimu yo ya kirigirisu
De noite minha sombra
Embebe-se na parede —
O grilo cricrila
Ryôta
XXXIII.
io no yo ya tana sagashi suru kirigirisu
Noite na cabana —
Um grilo na prateleira
Procura por algo.
Issa
XXXIV.
muzan ya na kabuto no shita no kirigirisu
Que tocante!
Debaixo da armadura
Sai um grilo.
Bashô
XXXV.
tombô ya mura natsukashiki kabe no iro
Libélulas!
Dá saudades da terra natal
A cor deste muro.
Buson
XXXVI.
michinobe no mukuge wa uma ni kuwarekeri
A flor
Da beira da estrada
Foi comida pelo cavalo.
Bashô
XXXVII.
kaki kueba kane ga naru nari hôryûji
Ao comer caqui
Ouve-se um sino tocar —
Templo Hôryûji.
Shiki
XXXVIII.
banshô ya tera no jukushi no otsuru oto
Sinos do anoitecer —
O barulho de um caqui maduro
Caindo no templo.
Shiki
XXXIX.
yama kurete momiji no ake o ubaikeri
O morro escurece
E das folhas do bordo
O escarlate rouba...
Buson
XXXX.
yanagi chiri nakuzu nagaruru ogawa kana
O salgueiro se desfolha.
Restos de verduras
Descendo o regato.
Shiki
XXXXI.
asagao no chi o haiwataru akiya kana
As campânulas
Se espalham pelo terreno —
Casa abandonada.
Shiki
****************************************************
Seleções de Haikais clássicos japoneses, extraídos do site:
http://www.kakinet.com/cms/index.php
Nota do poeta: O site Caqui autoriza a divulgação dos haicais (originais e traduzidos) desde que citado o endereço do próprio site.
Como encontramos o nome do tradutor estamos também citando o seu belo trabalho: Edson Kenji Iura publicou na coluna "Um Mestre Japonês" da página "Haicai Brasileiro" do Jornal Nippo-Brasil (São Paulo), entre 1999-2003.
Os haicais originais foram extraídos de diversas fontes:
1. Blyth, R.H. Haiku. Tóquio, Hokuseido.
2. Blyth, R.H. A history of haiku. Tóquio, Hokuseido.
3. Franchetti, P. Haikai, antologia e história. Campinas, Unicamp.
4. Maruyama, K. Issa haiku-shû. Tóquio, Iwanami.
5. Matsuo, Y. Haiku jiten kanshô. Tóquio, Ôfûsha.
6. Mizuhara, S. e outros (ed). Nihon dai-saijiki. Tóquio, Kodansha.
6. Nakamura, S. Bashô haiku-shû. Tóquio, Iwanami.
7. Ogata, T. Buson haiku-shû. Tóquio, Iwanami.
8. Yamamoto, K. Bashô sanbyaku-ku. Tóquio, Kawade.
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