Ferocidade

A mordida pareceu dolorosa...
Pareceu, não sei, não fui eu o atacado...

Eu fui ao atacado e achei varejo

Farejo o realejo, protejo os caninos
Mordo leve a madeira nobre
Apodreço

Eu sou a fera da cidade
(Previsível)

Ando morimbundo, caindo de fome
Com a boca aberta, a língua mole
Ando quase morto, acovardado

Eu sou o vira-latas da fidalguia

Aquele que morde com a focinheira...
O cachorro vadio do dia aguardando o anoitecer

Eu sou o famoso indigente da utopia realizável

Aquele que abana o rabo por um carinho
E ladra nos confins do paraíso esquecido
Meu latido fraco e rouco viaja com o Sol

E mordo, tua madeira rara...
Deixo marcas irremovíveis, arranho o verniz

Eu sou o aprendiz de fantástico vencedor

Puxo os carrapatos do dorso...
Eu sou o sangue que alimenta a iniquidade

A hidrofobia que ataca a raça mais cara
O desdém por detrás do avental branco
É o refém de meus ataques inesperados

Eu sou o cão morto e queimado

Antes que tirem de mim o sabão
Eu prefiro ser a própria soda cáustica

Divirtam-se com seu animal...
Eu sou o pequeno que cresce e torna-se... Imprevisível!