Lamento

O que desejas inspiração?
Queres levar-me a loucura com tantos delírios?
Deixe-me trilhar meu caminho de devaneio,
Deixe-me viver minha solidão!
Perdi meu amor pelo acaso deste destino,
Que do amor não vive.
Fiz-me um poeta enamorado,
Nas palavras um brado de amor.
Amor que me fez jardim florido,
Mas que o espinho do desprezo arruinou.
E de um pranto sofrido,
Como rosa murchou.

Deixe-me inspiração!
Não percebes que perdi o céu de um olhar,
O paraíso de um sorriso.
Linda era a vida,
Feliz, o meu ser.
Como posso escrever felicidade?
Quando meu verbo presente é sofrer,
Fere-me a ausência.
Choro a saudade,
Doi-me a lembrança,
Mata-me a indiferença.

Ingrata és inspiração!
Por que me tomas?
Persegue-me a alma ferida!
Queres que escreva a vida,
Quando já morro de amor.
Fostes um dia meu corcel,
Fizeste-me conhecer o céu, nos olhos da felicidade.
Hoje és o tormento,
Desta vida sem alento.
Deste coração amargo,
Pelo fel do desamor.
De morte ferido,
Distante do seu amor.