Longe de Mim

Está escuro
Nada vejo senão uma porta
Inquieto-me
Aqui estou a salvo
Mas estou sozinha

Vou abrir a porta?
Não sei se daquilo quero
Mas isto também não sou eu
Sozinha sentei-me

Sentada
Sinto o chão molhado
É água
Estou numa margem
Mas está escuro

Quero tomar uma decisão
Agora tenho frio
Está escuro
E eu estou sozinha

A porta continua ao fundo
Será que a vou abrir?
Levanto-me
Não porque tenho coragem

Sou fraca
Não consigo decidir
Mas estou molhada
Corro

Estou agora à porta
Mas não a abro
Tenho medo
Está escuro

Abri a porta
Uma forte luz
Estou cega?
Não vejo nada

Continuo com frio
Estou sozinha
Mas já não está escuro

Volto para a margem
Quero lembrar-me do meu reflexo
Sento-me
Olhei
Ali estava
Nesta margem de mim
Quero fugir
Mas a porta só me da luz

Antes não abrisse a porta
Agora vejo
E não quero ver
Esta que já fui eu

Imperial inocência
Quem a tem?
Duvidei que fosse minha
Mas a memoria voltou

Implorei por ter ficado cega
Mas há tanta luz que se vê tudo
Nas margens de mim chorei
Chorei de saudade

Saudade de mim
De quem já fui
Saudade de ser criança
Saudade do que vivi
Saudade do que não vivi

Nas margens de mim
Sentei-me
Sozinha
E com frio
Ao menos já não está escuro!