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As memórias de uma nuvem
Perigosamente conto as memórias de uma nuvem.
Quando nasceu, não mais que um pingo, uma gota,
que pingou e respingou,
foi levada na corrente e resvalou,
caiu bela e dispersa, e quando chegou,
por fim ao seu destino,
notou...
que não tem fim.
E subiu, elevada em vapor brumoso,
juntou-se a outras,
amigas de infância,
pingas e pingas e pingas,
e gotinhas amigas de correrias,
companheiras de rodopios,
levadas ao longe por rios,
tragadas por rias e mares e por fim,
juntas, de novo juntas,
na nuvem que passa.
Não uma, mas um bando delas,
dando o ar da sua graça.
E lá ao longe, mais além,
eis que se acinzenta todo o céu,
e cá em baixo todos fogem ao abrigo.
Aquela nuvem, agora fria de tristeza,
descobre por fim o fim do seu destino.
Não ter um amigo.
Cá em baixo, quem a recebe de bom grado?
Ninguém, ninguém,
nem eu,
é assim a natureza.
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