MIA COUTO

"Acendemos paixões no rastilho do próprio coração.
O que amamos é sempre chuva, entre o voo da nuvem
e a prisão do charco." Mia Couto, poeta moçambiquenho.

Caro Mia,
Em minha ignorância suprema,
não sabia que existias.
Em chuvoso e inebriado dia,
Encontrei-o asseverando que é a prisão do charco
o termo final do amor que forjamos.
Encharquei-me de ti.
Aprendi que orvalho tem raiz,
Que "cada homem é uma raça" e que,
não obstante isso ,
a terra pode nos presentear com "estórias abensonhadas".
Talvez por isso eu te abesonhe eternamente.
Contigo naveguei por um "rio chamado tempo".
E ao ler-te compreendi que a "terra é sonâmbula"
E que a Língua Porguesa é bem mais que uma língua...
Aprendi que a Língua Portuguesa é proeza.
Tua prosa é poesia pronta,
E quando leio o que escreves,
meio tonta,
tateio meu intelecto e percebo
que dele não preciso para captar o que escreves.
A alma tua a minha se alinha,
Na prosa em que constróis castelos de dor realista
ou na poesia em que de amor definhas.