O dia da ilusão

Vou mentir-vos hoje, brincalhão e descarado,

como quem atira uma pedra ao ar,

e espera que o arremesso seja bem acertado,

no sítio oco e sem alma onde venha a calhar.

Vamos todos dançar com as palavras soltas,

com cada silaba e fonemas imorredouros,

cada mote dissoluto de expressões desenvoltas,

cada ilusão inventada que nem chega a ser de agouros.

Vou mentir-vos sim, que assim se propicía,

contar histórias de nada e ficar bem visto.

Alardear falsidades é o que a muitos alicia,

e eu, de fraqueza, caio certeiro no que nem resisto.

Falemos de coisas estranhas sem lugar ou idade,

falar do que é sério nada nos traz, e tudo nos retira.

Para quê então ser a casca inerte da verdade?

Sejamos iguais e que para sempre viva a mentira!

Neomiro