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O Dia do Adeus
Debaixo da bruma
Mantinha o corvo o seu olhar,
Como vendo ondas de espuma
Procurando horizontes que explorar,
As teias de aranha ao vento
O dia demorado a passar,
A esperança que esconde o pranto
E o medo de alguém amar,
Os troncos centenários
Sombras em horas de luar,
Medos, muitos, vários
Tantas coisas p’ra pensar,
Olhava os sapatos calmo
Lábios selados para não falar,
Falta a sombra dos que amo
Falta vontade de a encontrar,
Segundos incessantes
Entregues sem amor que dar,
Já nada é como antes
Sobram as horas para descansar,
Sem dinheiro no bolso
Ultimo cigarro que fumar,
Pego no isqueiro acende-lo ouso
Fumo misturado a pena e ar,
Corvo voa pela bruma
Cálida maneira de se ignorar,
Os fumos de quem fuma
Os olhos de quem não quer chorar,
Risos saiem das sombras
Procurando maneira de encaixar,
Num mundo pejado a bombas
Prontas todas para rebentar,
Chegou o dia é o fim
Nada mais ao que se agarrar,
Navega a humanidade por mim
Como jangada que não vai voltar,
Se isto estava previsto
Fomos os únicos a não olhar,
A vida não e o tipo de bicho
Que alguma vez se consiga domar,
É o fim e ainda assim calma
Que se espalha pelo ar,
Como as brasas de uma chama
Pronta ela para despertar,
No horizonte se alçam os mísseis
Já não há mais volta a dar,
Vão ser momentos difíceis
Mas como tudo acabará por passar,
A teia segue ai
Assim como o carvalho em seu lugar,
Recordações do que não vi
Coisas que ficam por contar,
O céu pinta-se carmim
Fecho os olhos para respirar,
Hoje começou o fim
Sobre o qual tanta gente costumava comentar,
O fogo estala em volta
Não me penso alterar,
Se aqui deve ficar minha alma morta
Prefiro pela hora esperar,
Bandeiras e gritos
Um pouco sem pensar,
Lutam pelos mesmos hinos
E matam por matar,
O carvalho jaz em chamas
A teia desfez-se no ar,
As brasas são como camas
Nas quais muitos estão a descansar,
Soltam se os cães raivosos
Buscando sem encontrar,
Os restos presos aos ossos
Qualquer coisa oculta pelo luar,
Entre as chamas sentado
Tentando não deixar de olhar,
Por meu sangue sou coroado
Sangue que corre como rio para o mar,
Minha roupa parece leve
O ar quente a chama para dançar,
Morrerei, sei-o, em breve
Um corpo mais a queimar,
Hoje foi o dia
Acabou não a volta a dar,
Será que os soldados têm alegria
Nesta forma de lutar!?,
As crianças na rua parecem dormir
Não fosse o cão que as está a devorar,
Tudo isto faria rir
Se só fosse um pesadelo para recordar,
Estalam as portas do inferno
As dos céus se abrem de par em par,
Já arde o meu corpo sereno
Onde eu me costumava sentar…
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Comentários
Re: O Dia do Adeus
Um poema com arte, razão e sentimento!!!
:-)
Re: O Dia do Adeus
A desgraça do pior dia que existe. Parabéns pelo poema que nos leva a passar por momentos infelizes e tristes e nos faz pensar.
Abraço
Re: O Dia do Adeus
Longo... mas valeu a pena ler até ao fim.
Desânimo de uma vida curta :-(
Gostei.
Bjs